Matias Spektor
O governo lançou esta semana uma ofensiva diplomática contra o impeachment. Acionou parte do corpo de embaixadores residentes em Brasília, estabeleceu canais de comunicação com governos estrangeiros e iniciou sua defesa perante a opinião pública internacional.
É uma batalha ladeira acima porque os escândalos de corrupção e os processos criminais avançam, e Curitiba se aproxima cada vez mais das contas da campanha de 2014.
A linha editorial do governo não facilita as coisas, pois deixa interlocutores estrangeiros perplexos. A imagem que se tenta passar é a de uma grande conspiração para desferir um golpe branco contra a República, incluindo juízes, promotores, PF, oposição, parte da base aliada, parte da corte suprema, entidades patronais e a grande imprensa.
O governo não busca apoio externo apenas para evitar o impeachment, mas também como resseguro. Se Dilma cair, é em foros internacionais que seus defensores encontrarão o melhor púlpito para denunciar o suposto assalto às instituições democráticas.
A oposição percebeu o jogo e também começou a se mexer, embora o faça com lentidão. Quem avança com celeridade são funcionários do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário, que já acionaram suas redes de contatos profissionais mundo afora para moldar a conversa pública internacional sobre a situação do país. A diplomacia do impeachment não será, porém, determinada por essas forças. Acima de tudo, o cidadão precisa ficar de olho em três atores fundamentais.
O mais importante é Maurício Macri. A atitude do presidente argentino definirá a natureza das manifestações de Mercosul e Unasul, hoje divididas entre as posições de Bolívia, Equador e Venezuela, por um lado, e Chile e Paraguai, por outro. Macri não comprou o argumento do golpismo e, no início da semana, deu declarações elogiosas à Justiça brasileira.
O segundo ator relevante é Barack Obama. Por enquanto ele mantém compasso de espera. Mas, se a chance de impeachment aumentar nas próximas semanas, o tom utilizado pela Casa Branca para descrever o momento que vive o Brasil ajudará a definir a atitude de boa parte da comunidade internacional.
O terceiro ator não é pessoa nem instituição, mas uma poderosa rede internacional de juristas. Na terça (22), alguns de seus membros mais influentes deram um alerta desde a ONU. Disseram que, por um lado, a classe política brasileira tem de evitar medidas que possam denotar obstrução de Justiça. Por outro, o Judiciário tem de evitar a politização das investigações. Segundo eles, ignorar essa agenda é que representa o verdadeiro atentado contra a democracia.
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