"É lamentável. Isso pode impactar nossa relação com os haitianos. Não podemos tolerar. Isso é muito sério. Pode impactar centenas, milhares de pessoas que têm feito um trabalho maravilhoso aqui", diz Eliane Nabaa, porta-voz da Minustah, por telefone à BBC Brasil.
O escândalo veio à tona na última semana, quando vazou na internet um vídeo feito por celular mostrando um garoto sendo supostamente abusado por militares uruguaios a serviço do ONU em uma base no sul do país.
O governo do Uruguai determinou o retorno de cinco "capacetes azuis" do país acusados de envolvimento no caso.
A porta-voz da Minustah, cujo comando militar é liderado pelo Brasil, disse que este é o primeiro caso de abuso sexual registrado pela organização.
Nabaa disse que uma comissão de inquérito está investigando o caso, que a ONU considera "inaceitável".
O caso pode aumentar a tensão entre os haitianos e as forças de paz. No ano passado, a ONU foi alvo de vários protestos durante a epidemia de cólera que matou cerca de 6 mil pessoas no país. Os "capacetes azuis" do Nepal foram acusados de disseminar a doença.
O governo uruguaio anunciou que está tomando “medidas exemplares e severas” para lidar com as acusações. Disse ainda que os acusados serão julgados e poderão ser condenados.
'Tolerância zero'
A porta-voz da Minustah disse que a ONU reagiu rapidamente às acusações de abuso assim que tomou ciência do caso, na última semana.
"A ONU tem uma política de tolerância zero com casos de exploração e abuso sexual", disse Nabaa.
No vídeo veiculado pela internet, um adolescente é imobilizado pelos militares sobre um colchão, em meio a risadas, em um aparente abuso sexual por parte dos soldados.
"As acusações são muito sérias e devem ser levadas à Justiça", disse. Nabaa não soube responder se os militares uruguaios correm o risco de serem julgados pela Justiça haitiana.
O Uruguai tem 1.2 mil militares servindo na Minustah. Na última semana, o ministro da Defesa, Eleuterio Fernandez Huidobro, classificou o caso como "aberrante".
O governo uruguaio também determinou uma investigação, que irá averiguar ainda possíveis casos de haitianas grávidas de “capacetes azuis”.
Protestos
As forças da Minustah atuam no Haiti desde 2004, quando o país mergulhou em um conflito civil após a queda do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide.
Lideradas pelo Brasil, as forças militares se envolveram em algumas polêmicas, sendo acusadas de uso excessivo da força em algumas ocasiões.
A epidemia de cólera também prejudicou a imagem da ONU no país.
O mandado da missão de paz foi estendido no ano passado, após o país sofrer um terremoto de grandes proporções, que deixou centenas de milhares de mortos.
Apesar da presença da ONU, o país ainda vive uma situação instável. No início deste ano, os haitianos elegeram um novo presidente, Michel Martelly, que luta para se fortalecer politicamente em um cenário de grande fragilidade institucional.