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Déficit do Brasil com os EUA aumenta 813% no bimestre

O alto consumo de combustíveis no Brasil e o cenário externo desfavorável às exportações de aço, somados à queda na competitividade dos produtos brasileiros, produziram, no começo de ano, uma deterioração surpreendente na balança de comércio do Brasil com os Estados Unidos: foi de 813% o aumento do déficit comercial brasileiro com aquele país, resultado da queda de 22,5% na média diárias das exportações e um aumento também de 22,5% nas importações, no primeiro bimestre do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.

"A principal razão para essa queda é o petróleo, só em janeiro causou uma diferença de US$ 600 milhões", comenta o presidente da Associação dos Exportadores Brasileiros, José Augusto de Castro. As importações de produtos americanos pelo Brasil aumentaram US$ 908 milhões nos primeiros dois meses do ano, enquanto as exportações caíram US$ 1,1 bilhão.

Consultada pelo Valor, a Petrobras respondeu, por meio da assessoria, que a queda na exportação de petróleo da companhia aos EUA foi provocada pelo aumento da produção americana, que reduziu a demanda pelo óleo brasileiro, mas também pela mudança do destino do petróleo da Petrobras que, com o aumento da demanda brasileira por combustível, passou a refinar no país parte do óleo que enviava ao exterior. A empresa aponta, ainda, uma outra causa: "Opções de exportação mais vantajosas para a Petrobras, como a China."

O preço mais competitivo da gasolina americana no inverno do hemisfério norte também levou a Petrobras a concentrar naquele país compras do combustível antes feitas de outras fontes. A venda de óleos brutos de petróleo aos EUA caiu 66%, ou pouco mais de US$ 900 milhões no primeiro bimestre do ano, em comparação ao mesmo período de 2013. As compras de gasolina e óleo combustível (diesel, principalmente) subiram respectivamente 250% e 215%, ou, somadas, quase US$ 345 milhões.

No segundo bimestre, o déficit total no comércio com os EUA foi de US$ 2,35 bilhões (US$ 257 milhões em janeiro e fevereiro de 2012). O forte impacto negativo do petróleo sobre o resultado comercial escondeu alguns excelentes resultados na exportação, como a do milho, que, beneficiado pela quebra da safra nos EUA, teve vendas de US$ 159 milhões, 4.655% maiores que no primeiro bimestre de 2012; o açúcar refinado (quase US$ 30 milhões, ou 1.645% a mais); e o etanol – com vendas de US$ 208 milhões, ou 207% acima do primeiro bimestre do ano passado.

Outros produtos com aumento nas vendas acima de 200% foram o suco de laranja (com o fim de restrições antidumping americanas, derrubadas pela Organização Mundial do Comércio) e celulares – esses últimos buscando, nos EUA, recuperar mercado que perderam com a retração das compras pela Argentina.

Os combustíveis não foram o único fator de deterioração na queda do resultado comercial com os EUA, que também se viu afetado pelo excesso de estoques siderúrgicos, especialmente nos EUA e pelas dificuldades competitivas dos produtos brasileiros. As vendas de produtos manufaturados do Brasil aos EUA ficaram praticamente estáveis (menos 0,3%), apesar de não ter se repetido a venda de quase US$ 100 milhões em aviões registrada no ano passado. Mas a maior parte desse desempenho se deve a industrializados de baixo valor agregado, como o etanol, o açúcar refinado e o suco de laranja.

Os especialistas avaliam que, a partir de abril, quando o governo cessa de registrar na balança comercial importações de combustíveis realizadas ainda no ano passado, deve haver uma melhoria nas estatísticas de comércio com os EUA, país que caminha aceleradamente para recuperar o posto de principal fornecedor do Brasil, perdido para a China. No primeiro bimestre, 16,2% das importações brasileiras vieram da China; 15,9%, dos EUA.

Os governos do Brasil e dos Estados Unidos vêm discutindo fórmulas para derrubar barreiras técnicas e burocráticas no comércio bilateral – um dos temas a serem tratados na reunião de trabalho que autoridades brasileiras e americanas farão, nos dias 18 e 19, com empresários de peso dos dois países, reunidos no Fórum de Altos Executivos Brasil-Estados Unidos, em Brasília.

Uma das preocupações recentes no governo é a adoção, pelos EUA, de regras mais rígidas para registro de alimentos destinados ao mercado americano, no órgão fiscalizador, o FDA (Food and Drug Administration). A nova regulamentação, que exige registro antecipado e maior controle na produção, levanta riscos de barreiras adicionais a exportações brasileiras, embora executivos do setor de alimentos tenham, até agora, mostrado tranquilidade em relação ao tema.

Temas de investimento nos dois países devem ter destaque também na reunião dos Altos Executivos, especialmente no setor de energia.

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