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Crise Migratória – Violência contra refugiados dispara na Alemanha

Desde o início deste ano, ocorreram 104 atos de violência contra abrigos de refugiados, quase quatro vezes mais que os 28 registrados durante todo o ano de 2014, noticiou o jornal Die Welt nesta quinta-feira (05/11), com base em informações do Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA). Das 104 ocorrências em 2015, 53 foram incêndios. Em 2014 haviam sido apenas seis.

O número total de delitos contra abrigos de refugiados neste ano, que também incluem crimes de propaganda e incitação à violência, foi de 637, mais que o triplo registrado em 2014, segundo o BKA. Somente no terceiro trimestre, foram registrados 303 crimes.

Dos agressores, 70% não eram conhecidos pela polícia, disse um porta-voz do Ministério do Interior, citado pelo Die Welt.

Administradores de abrigos estão alarmados com o número de ocorrências. "Estamos vivenciando a pior onda de violência racista e de extrema direita em 20 anos. Abrigos são incendiados diariamente", disse ao jornal Ulrich Lilie, presidente da Diakonie, serviço caritativo das Igrejas Luterana na Alemanha, que opera alojamentos para requerente de asilo.

Lilie ressaltou que os ataques passaram a ter também abrigos ocupados como alvo e criticou as autoridades de segurança do país, afirmando ser inaceitável que tão poucos incêndios tenham sido esclarecidos.

Bernd Wagner, fundador do Exit, grupo de ativistas que luta contra o extremismo de direita, disse que a Alemanha não vê níveis de xenofobia tão elevados desde os anos 1990, após a reunificação. "Logo serão registradas as primeiras vítimas fatais, caso a violência não seja repreendida", disse.

Agressão física

Somente no último fim de semana, uma série de ataques violentos contra refugiados foi registrada no país , sobretudo nos estados da antiga Alemanha Oriental.

Em Freital, na Saxônia, desconhecidos detonaram um explosivo numa casa onde vivem refugiados, deixando um ferido. Em outros locais do mesmo estado ocorreram outras tentativas de incêndio em alojamentos de migrantes, sem consequências graves.

Em entrevista à Deutsche Welle, o ativista David Bereich – da Associação pró-democracia Miteinander – destaca que há um número crescente de ataques diretamente contra requerentes de asilo e refugiados. Ele afirma que, sobretudo no leste da Alemanha, agressões verbais se transformam cada vez mais em agressões físicas. Além de refugiados, voluntários e políticos também são alvo da onda de violência, destaca.

Em Magdeburg, no estado da Saxônia-Anhalt, 30 agressores, alguns deles mascarados, avançaram no último domingo com cassetetes e tacos de baseball contra três refugiados. As vítimas, dois sírios de 26 anos e um de 35, sofreram lesões faciais e foram tratados num hospital. Até o momento, apenas um suspeito, de 24 anos, foi detido.

Em meio ao afluxo crescente de refugiados, a Alemanha busca soluções para a crise migratória . O governo prevê a chegada de 800 mil requerentes de asilo ao país até o fim deste ano, o dobro do que em qualquer ano anterior, e muito mais do que qualquer outro país da União Europeia.
 

Vilarejo alemão vira símbolo da crise migratória

Segunda à noite, pouco depois das 20h. Cerca de 50 refugiados chegam de ônibus ao vilarejo de Sumte, no estado alemão da Baixa Saxônia. Outros 500 são esperados nos próximos dias. Eles devem se tornar em breve 750 – total mais do que sete vezes maior que a população local.

A razão para a multiplicação súbita de habitantes é que Sumte possui 20 edifícios de escritórios vazios, que puderam ser alugados no último instante pelo governo da Baixa Saxônia. A cantina do abrigo recém-criado pode acomodar até mil pessoas. Esse é o número de migrantes que a Secretaria do Interior do estado inicialmente queria transferir para o lugar.

Os habitantes da cidade souberam dos planos no início de outubro. O prefeito Christian Fabel custou a acreditar na notícia. "Mil refugiados! Isso é dez por habitante", disse à rádio Norddeutscher Rundfunk. "O clima local não é muito positivo. Nós não sabemos o que vamos ter que enfrentar".

Os moradores da cidade só ficaram sabendo de mais detalhes durante uma reunião convocada pela Secretaria do Interior, uma semana depois. No encontro, Fabel comunicou os temores dos residentes: relatou o medo deles com questões como segurança; possibilidades reduzidas de mercados na área para os refugiados fazerem compras; e duvidou se, por exemplo, a rede de telefonia móvel local pode dar vazão a tantas pessoas.

O jornal local Schweriner Volkszeitung relata que muitos moradores também expressaram abertamente sua desaprovação. Um cidadão citou preocupações sobre a influência sobre o turismo local – uma das poucas fontes de renda daquela região de infraestrutura fraca, localizada dentro de uma reserva natural na fronteira com o estado de Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental.

As autoridades não conseguiram dissipar todas as preocupações dos moradores. A polícia não vai, como era pedido, patrulhar o lugar dia e noite. Agora, a entidade beneficente ASB vai organizar um serviço 24 horas de vigia do abrigo.

Duro teste

Desde então, Sumte é destino de jornalistas alemães e estrangeiros, que fazem reportagem a respeito do grande dilema que tomou conta da região. "Queremos ter uma convivência razoável", diz o comerciante Dirk Hammer, resumindo o clima do povoado. Mas ele também manifesta preocupação com o grande volume de pessoas. A Secretaria do Interior concordou, pelo menos, em reduzir o limite de ocupação, dos originais mil para 750 pessoas.

Meios de comunicação americanos, britânicos, espanhóis e russos pintam a cidade como um espelho do que está acontecendo na Alemanha. A aldeia virou o símbolo da dura prova pela qual a boa vontade dos alemães vem passando. Extremistas de direita também estão opinando em Sumte, criticando o que ocorre na cidade como "terrorismo de asilo".

Mas o revendedor de bicicletas Dirk Hammer, entrevistado nas últimas semanas por jornais de todo o mundo, não se deixa instrumentalizar pelos neonazistas. "Temos de nos diferenciar claramente dessas pessoas", disse ele ao New York Times. Pois a maioria, ao que parece, quer ajudar. Mesmo eles estando conscientes de que, a partir de agora, muita coisa deve mudar em Sumte.

O diretor do albergue de refugiados, Jens Meier, se mostra impressionado com a vontade de ajudar do povo local. "Muitos trabalharam muito duro mesmo", disse ele a uma rádio alemã. Em apenas duas semanas, a entidade assistencial ASB conseguiu transformar o prédio de escritórios vazio em um abrigo para imigrantes vindos da Síria.

Tudo foi conseguido também graças à ajuda de moradores locais. Ainda faltam divisórias entre as camas, e a linha telefônica para o campo de refugiados ainda não foi ativada. Mas as camas estão prontas, doações de roupa estão empilhadas em diversas estantes, e brinquedos estão à disposição na área infantil. Ao todo, 55 postos de trabalho foram criados, segundo a porta-voz da ASB, Annegret Droba. Alguns deles foram ocupados por cidadãos de Sumte.

Agora, só resta que os refugiados cheguem. Os intérpretes estão à disposição para mostrar as acomodações aos recém-chegados. Eles poderão ficar pelo menos durante um ano, que é o tempo que dura o contrato de aluguel do abrigo.

 

 

 

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