Roberto Lameirinhas
Com o aprofundamento da crise na fronteira entre Venezuela e Colômbia, causada principalmente pela ação de contrabandistas de mercadorias, os governos dos dois países decidiram antecipar para depois de amanhã a reunião de chanceleres que estava marcada anteriormente para o dia 14.
Segundo fontes venezuelanas, a antecipação do encontro entre a ministra venezuelana das Relações Exteriores, Delcy Rodríguez, e sua colega colombiana, María Ángela Holguín, se deu por iniciativa do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, que nas últimas horas manifestou a assessores a preocupação com o desenrolar dos acontecimentos na região de fronteira, fechada desde quintafeira por ordem do presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Em alguns municípios do lado da Venezuela, vigora um estado de emergência decretado na sexta-feira à noite.
Além da reunião de emergência entre as chanceleres, Santos manifestou também o desejo de reunir se pessoalmente com Maduro nos próximos dias para discutir a situação.
Prevista inicialmente para durar 72 horas, a interrupção do tráfego de pessoas e mercadorias entre Venezuela e Colômbia no Estado de Táchira foi estendida no sábado por tempo indeterminado pelo governo de Maduro. “Enquanto não se restabelecer a paz e pararem os ataques vindos da Colômbia contra a economia venezuelana, essa fronteira permanecerá fechada”, declarou o presidente da Venezuela durante um encontro com empregados da companhia estatal de petróleo PDVSA. “Vamos levar uma agenda de paz para conseguir a normalidade na zona fronteiriça e, aos que tanto falam e tanto criticam, que digam o que quiserem. Assumo total responsabilidade por essa medida.”
Crise. A região entre Táchira e o Departamento (Estado) colombiano de Norte Santander é uma fronteira porosa pela qual toneladas de produtos subsidiados pelo governo de Caracas e destinados ao mercado venezuelano são contrabandeados para o território colombiano. Na semana passada, quatro agentes do Estado venezuelano que investigavam o desvio, incluindo três militares, foram alvo de ataques atribuídos a esses contrabandistas. Dois dos investigadores permanecem internados em estado grave.
Em meio a uma profunda crise de abastecimento – que impede os venezuelanos de comprar produtos básicos, que vão de fraldas descartáveis a açúcar refinado –, o governo de Caracas aponta o contrabando de mercadorias como uma das principais razões para o problema, que considera parte de uma “guerra econômica” promovida pela oposição contra a sua “revolução bolivariana”.
O governo de Maduro também acusa grupos paramilitares colombianos de cumplicidade com a “extrema direita” venezuelana numa campanha para sabotar o regime chavista, principalmente com vistas à eleição parlamentar de 6 de dezembro – na qual o chavismo está ameaçado de perder o controle do Legislativo pela primeira vez desde a promulgação da Constituição de 1999.
Um portavoz da Mesa da Unidade Democrática (MUD), que congrega os partidos de oposição aos chavistas disse ao [BOLD]Estado[/BOLD] que a coalizão considera a medida de Maduro pouco produtiva para combater o contrabando na região, acrescentando que o fechamento da fronteira, na verdade, aumenta os problemas da população que vive nos municípios onde o estado de emergência foi decretado. “Há muitas pessoas nessa região que trabalham ou têm negócios estabelecidos do lado colombiano da fronteira”, declarou a fonte.
Maduro e seu Partido Socialista Unido da Venezuela (Psuv) também enxergam na fronteira de Táchira um ponto de concentração e treinamento de paramilitares colombianos para lançar ataques contra o governo venezuelano.
Ressaltando que, apesar do estado de emergência, “não há toque de recolher nem normas de exceção na fronteira”, Maduro acusou o expresidente colombiano Álvaro Uribe de estar por trás dos ataques contra policiais e soldados venezuelanos. “Que fique bem claro: a responsabilidade pelas ações terroristas contra o Estado e o povo venezuelano na fronteira é do chefe dos paramilitares da Colômbia e sócio das organizações de ultradireita internacional, o terrorista assassino Álvaro Uribe Velez”, discursou o presidente chavista no sábado à noite.
Durante o mandato de Uribe, Hugo Chávez, presidente venezuelano morto em 2013, manteve tensas relações diplomáticas com a Colômbia – finalmente rompidas em 2008, após um ataque do Exército colombiano que matou no território do Equador o “número 2” da guerrilha Forcas Armadas Revolucionárias da Colômbia, Raúl Reyes. Os laços com o país vizinho, até então principal exportador de alimentos para a Venezuela, só foram refeitos após a saída de Uribe do poder e a posse de Santos.