Caso o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, venha ainda a se encontrar por esses dias com seu homólogo alemão, Heiko Maas, em Berlim, pelo menos parte da conversa deve tocar no mesmo tema que será tratado pelo ministro do Exterior iraniano, Javad Zarif, durante sua conversa em Moscou com Serguei Lavrov: a dramática escalada das tensões no Golfo Pérsico pontualmente no primeiro aniversário da retirada americana do acordo nuclear com o Irã.
No domingo, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, tido como um linha-dura em relação ao Irã, partiu para a ofensiva e anunciou o envio de um segundo grupo de porta-aviões ao Golfo Pérsico, alegando "indícios claros", porém não detalhados, de planos de ataque iranianos.
Independente do fato de a passagem da unidade de porta-aviões pelo Golfo provavelmente já ter estado prevista há tempo, a "mensagem inequívoca", na formulação de John Bolton, enviada pelo porta-aviões Abraham Lincoln já é representada simplesmente pela sua história.
Do convés desta embarcação foi que o então presidente dos EUA, George W. Bush, declarou em maio 2003 a Guerra do Iraque como "missão cumprida". Hoje sabemos não só que esta guerra ainda estava longe de acabar em maio de 2003. Sabemos também que as justificativas para o conflito eram completamente mentirosas. Toda a região foi mergulhada em caos e instabilidade. Foi com a invasão dos EUA que o terrorismo islâmico ganhou dinamismo, e a semente foi lançada para o chamado "Estado Islâmico".
Um ano depois da retirada dos EUA do acordo nuclear, a retórica dos principais líderes dos EUA é hoje assustadoramente semelhante ao que foi ouvido em Washington antes da guerra do Iraque. E isso sugere que o objetivo da "pressão máxima" imposta por Washington não seja apenas uma "mudança no comportamento iraniano". O objetivo é uma mudança de regime.
As sanções dos Estados Unidos, impostas unilateralmente e que violam o direito internacional, levam a nada menos que uma guerra econômica. A tentativa de anular as exportações de petróleo do Irã é uma versão moderna dos cercos medievais. A inflação está galopante no Irã. O desemprego e a desesperança estão aumentando – e, realmente, também cresce a pressão sobre o regime.
Acima de tudo, sobre as forças mais moderadas dentro do aparato de poder. Quem está se fortalecendo são exatamente aqueles que sempre alertaram contra uma aproximação com o Ocidente. Como membro do pacto, o Ocidente está desacreditado. Muito maior do que a possibilidade de uma mudança de regime – com consequências extremamente incertas – é o perigo de erros de cálculo em um clima de hostilidade mútua. Por exemplo, um incidente militar não intencional no Estreito de Ormuz, por onde passa um terço do suprimento mundial de petróleo, poderia desencadear uma guerra devastadora.
A euforia de 2015 – quando, após mais de dez anos de negociações, foi assinado o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) – as pessoas dançando nas ruas, a abertura de um isolado Irã, a reaproximação econômica: tudo isso não é hoje nada mais que lembranças de um tempo que parece estar muito longe. Também as esperanças de mudança de dentro, de progressos no Irã também estão em ruínas desde que Donald Trump adotou a agenda política de Arábia Saudita e Israel e proclamou unilateralmente o Irã como a raiz de todo mal no Oriente Médio.
Importante notar: o acordo nuclear funciona – ainda. A Comissão Internacional de Energia Atômica (AIEA) já confirmou 14 vezes o cumprimento do pacto pelo Irã. Mas os nervos em Teerã estão à flor da pele. Embora apenas os EUA, dos oito parceiros do JCPOA, tenham saído, os países restantes não conseguem dar ao Irã dividendo econômico algum por sua lealdade contratual.
Os europeus até não deixaram que faltassem declarações políticas de intenção de manter vivo o acordo nuclear e criaram seu próprio instrumento financeiro para contornar as sanções dos EUA, o mecanismo Instex. Mas este até agora não desenvolveu nenhum efeito reconhecível. E as empresas internacionais, em suas considerações sobre custo-benefício, são mais propensas a abandonar o mercado iraniano do que o americano – e o acesso ao dólar.
Então, o balanço um ano após a saída dos EUA: a lealdade do Ocidente em relação ao acordo está em questão. As relações transatlânticas estão abaladas. A Europa se revela um tigre de papel. No Irã, os linha-dura ganham influência. As tensões estão aumentando em uma região instável e altamente perigosa. Em suma: o mundo se tornou muito mais perigoso.
Trump anuncia novas sanções contra o Irã
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (08/05) a imposição de uma nova leva de sanções contra o Irã, em plena escalada de tensões entre Washington e Teerã.
Desta vez as medidas antigem os setores de ferro, aço, alumínio e cobre do país, que segundo a Casa Branca representam 10% das exportações iranianas.
"Hoje assinei um decreto para impor sanções aos setores do ferro, aço, alumínio e cobre do Irã, que são as maiores fontes de receitas derivadas das exportações (para Teerã) depois dos produtos relacionados com o petróleo", disse Trump em comunicado.
"A medida de hoje ataca as receitas do Irã por meio da exportação de metais industriais e avisa a outros países que não mais toleraremos que permitam a entrada em seus portos de aço e outros metais iranianos", declarou o presidente americano.
Trump, que se mostrou disposto a se reunir com as autoridades iranianas, disse ainda que Teerã poderia usar o lucro da venda de metais "para proporcionar recursos e apoio à proliferação de armas de destruição em massa, grupos e redes terroristas, campanhas de agressão regional e expansão militar".
Além disso, lembrou que os EUA estão decididos a "cortar todas as vias" que possam permitir ao Irã obter "uma arma nuclear ou mísseis balísticos intercontinentais".
As novas sanções foram divulgadas poucas horas depois de o governo iraniano anunciar que suspendeu a aplicação de alguns dos seus compromissos relacionados com o acordo nuclear de 2015, do qual os Estados Unidos se retiraram, mas ainda fazem parte Irã, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha.
Trump ainda defendeu a decisão que tomou há um ano de deixar o acordo por considerar que, sob esse pacto, "o Irã era livre para patrocinar redes terroristas, desenvolver sua força de mísseis e fomentar conflitos regionais" enquanto "mantinha uma infraestrutura nuclear robusta".
Um ano depois, segundo Trump, "o regime iraniano está sofrendo para financiar sua campanha de terror violento, com uma crise econômica sem precedentes", e os EUA estão lhe "impondo a campanha de pressão máxima mais poderosa jamais vista".
Trump alertou ainda que o Irã "pode esperar mais sanções se não alterar fundamentalmente sua conduta" e lembrou que há um ano propôs 12 condições para alcançar um novo acordo com o Irã sobre seu programa nuclear.
"Espero me reunir um dia com os líderes do Irã para alcançar um acordo e, algo especialmente importante, dar os passos para que o Irã tenha o futuro que merece", ressaltou.
A tensão entre EUA e Irã aumentou desde abril, quando o governo americano decidiu não renovar as isenções à compra de petróleo iraniano que vinham sendo concedidas a oito países.
Além disso, no último domingo, a Casa Branca anunciou que vai posicionar no Oriente Médio um porta-aviões com sua equipe de combate e um grupo especial de caças-bombardeiros, devido ao que o Pentágono descreveu como "indicações" de que o Irã planejava "operações ofensivas contra forças e interesses americanos na região".
Irã deixa partes do acordo nuclear e dá ultimato
O presidente do Irã, Hassan Rohani, anunciou nesta quarta-feira (08/05) que o país vai deixar de cumprir partes do acordo nuclear firmado em 2015, um ano depois de os Estados Unidos terem anunciado sua saída unilateral do pacto.
Ele afirmou que o Irã vai parar de exportar o excedente de urânio e de água pesada, contrariando o que foi estipulado no acordo nuclear.
Rohani enviou carta aos demais signatários – Reino Unido, China, França, Alemanha e Rússia – para comunicar a decisão e deu prazo de 60 dias para que o acordo seja renegociado. Do contrário, seu país retomará o enriquecimento de urânio.
O anúncio do líder iraniano foi feito num discurso à nação e ocorreu um ano após a decisão do presidente Donald Trump de retirar os Estados Unidos do acordo nuclear e retomar as sanções ao Irã.
A França foi o primeiro país a reagir e afirmou que pretende manter o acordo existente, mas alertou que o Irã pode sofrer mais sanções se não cumprir a sua parte.
O acordo de 2015 eliminou sanções econômicas ao Irã em troca de limites no programa nuclear do país. Depois de Trump retirar os EUA do acordo, ele impôs novamente várias sanções, o que afetou duramente a economia iraniana.
Rohani disse que o Irã quer negociar novos termos com os demais signatários do acordo e que a sua intenção é salvá-lo e não destruí-lo. "Se os cinco países se unirem às negociações e ajudarem o Irã a alcançar benefícios no campo petrolífero e bancário, o Irã retomará os compromissos assumidos no acordo nuclear", garantiu.
Nos termos do acordo, o Irã pode manter reservas que não podem exceder 300 quilos de urânio de baixo índice de enriquecimento, um valor bem abaixo dos 10 mil quilos de urânio altamente enriquecido que já teve, antes do acordo.
A pressão sobre o setor petrolífero iraniano aumentou no mês passado, quando Washington decidiu não renovar as isenções para a compra de petróleo cru iraniano por parte de outros países, incluindo grandes importadores, como China, Rússia e Turquia.
Além disso, o Departamento de Estado dos EUA anunciou na sexta-feira a imposição de novas sanções com o objetivo de restringir o programa nuclear iraniano.
A Europa adotou uma série de medidas para tentar neutralizar as sanções dos EUA, incluindo um canal de pagamento especial, mas não foi bem-sucedida.
Os EUA consideram haver "uma ameaça credível" vinda do Irã, o que justifica a intensificação da sua presença militar na região. No domingo, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, disse que o país vai enviar um porta-aviões e bombardeiros para o Oriente Médio, numa mensagem ao regime iraniano.
Segundo Bolton, o envio é uma resposta a "uma série de indicações e avisos preocupantes" e uma "mensagem clara e inequívoca ao regime iraniano" de que "qualquer ataque aos interesses dos Estados Unidos ou dos seus aliados irá se defrontar com uma força implacável".
Nesta terça-feira, o secretário de Estado, Mike Pompeo, visitou repentinamente o Iraque, depois de cancelar uma visita à Alemanha. No país vizinho do Irã, Pompeo afirmou que o regime iraniano planeja "ataques iminentes".
"A mensagem que nós enviamos aos iranianos, eu espero, nos coloca numa posição em que podemos impedir [ataques], e os iraniano pensarão duas vezes antes de atacar posições americanas", afirmou Pompeo. Segundo ele, serviços de inteligência americanos foram "muito específicos" sobre "ataques iminentes".
O acordo nuclear foi fechado em 2015 pelo Irã, de um lado, e por Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, China (as cinco potências com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU) e Alemanha, do outro.
O pacto surgiu de negociações secretas da administração do presidente Barack Obama com o governo do Irã depois de Rohani, um moderado, assumir o poder. Pelo acordo, o Irã concordou em limitar o seu enriquecimento de urânio, sob supervisão de inspetores da ONU, em troca de alívio nas sanções econômicas, que afetavam duramente a sua economia.
O acordo proíbe o Irã de enriquecer urânio acima de 3,67%, o que basta para a geração de energia, e de ter um estoque superior a 300 quilos de urânio de baixo enriquecimento, além de outros compromissos.
Com o fim das sanções, muitas empresas internacionais passaram a fazer negócios com o Irã, incluindo a compra de petróleo da República Islâmica. Airbus e Boeing também fizeram vendas bilionárias ao país.
Trump, que fez campanha atacando o acordo por ele não abordar mísseis balísticos nem o envolvimento do Irã em conflitos regionais, retirou os Estados Unidos do acordo em maio de 2018 e reimpôs sanções. Isso representou um duro golpe para a economia iraniana, que ainda estava em recuperação.
UE rejeita ultimato do Irã e lamenta sanções de Trump
A União Europeia (UE) lançou nesta quinta-feira (09/05) um apelo para que o Irã continue a respeitar o acordo nuclear de 2015, que visa manter sob controle as ambições nucleares do país. Os europeus afirmam que pretendem manter as relações comerciais com Teerã, apesar das pesadas sanções impostas pelos Estados Unidos.
A UE, juntamente com os governos da Alemanha, França e Reino Unido, expressou em declaração conjunta sua "enorme preocupação" com a decisão do governo iraniano de deixar de cumprir partes do acordo de 2015, um ano depois de os EUA terem anunciado sua saída unilateral do pacto.
"Permanecemos plenamente comprometidos com a preservação e implementação total" do pacto, disseram os europeus. O acordo de 2015 foi assinado pelo Irã juntamente com Estados Unidos, Reino Unido, China, França, Alemanha e Rússia e endossado pelo Conselho de Segurança da ONU.
As potências europeias lamentaram a reimposição das sanções americanas contra Teerã e afirmam que continuam "determinadas em buscar esforços para permitir a continuação do comércio legítimo com o Irã". Os europeus, porém, alertam que os iranianos devem "implementar por completo os compromissos previstos no acordo, como tem feito até agora, e evitar tomar quaisquer medidas de agravo".
Ao mesmo tempo em que reiteraram o apoio ao acordo de 2015, os europeus disseram que não aceitarão intimidações por parte dos iranianos. "Rejeitamos quaisquer ultimatos por parte do Irã e avaliaremos o cumprimento [do pacto nuclear] com base no desempenho do Irã no que diz respeito aos compromissos assumidos".
Nesta quarta-feira, o presidente do Irã, Hassan Rohani, anunciou que o país vai parar de exportar o excedente de urânio e de água pesada, contrariando o que foi estipulado no acordo nuclear. O pacto eliminou sanções econômicas ao Irã em troca de limites no programa nuclear do país. Depois de Trump retirar os EUA do acordo, Washington impôs novamente várias sanções, o que afetou duramente a economia iraniana.
Rohani disse que o Irã quer negociar novos termos com os demais signatários do acordo e que a sua intenção é salvá-lo e não destruí-lo. "Se os cinco países se unirem às negociações e ajudarem o Irã a alcançar benefícios no campo petrolífero e bancário, o Irã retomará os compromissos assumidos no acordo nuclear", garantiu.
Nos termos do acordo, o Irã pode manter reservas que não podem exceder 300 quilos de urânio de baixo índice de enriquecimento, um valor bem abaixo dos 10 mil quilos de urânio altamente enriquecido que já teve, antes do acordo.
A pressão sobre o setor petrolífero iraniano aumentou no mês passado, quando Washington decidiu não renovar as isenções para a compra de petróleo cru iraniano por parte de outros países, incluindo grandes importadores, como China, Rússia e Turquia. Na última na sexta-feira, o Departamento de Estado dos EUA anunciou a imposição de novas sanções com o objetivo de restringir o programa nuclear iraniano.
Nesta quarta-feira, Trump, anunciou a imposição de uma nova leva de sanções que atingem os setores de ferro, aço, alumínio e cobre do país, que, segundo uma nota divulgada pela Casa Branca, representam 10% das exportações iranianas e são as maiores fontes de receitas derivadas das exportações depois dos produtos relacionados com o petróleo.
"A medida ataca as receitas do Irã por meio da exportação de metais industriais e avisa a outros países que não mais toleraremos que permitam a entrada em seus portos de aço e outros metais iranianos", declarou Trump no comunicado.