O novo coronavírus está se espalhando por todo o mundo, gerando pânico generalizado diante dos milhares de novos casos e centenas de mortes registradas a cada dia, com cidades e países inteiros sendo fechados e vôos, eventos e festivais cancelados.
Apesar das más notícias em quase todos os lugares, alguns países asiáticos parecem ter conseguido reduzir substancialmente a propagação abrupta do vírus, que até 18 de março já havia infectado quase 200 mil pessoas e levado quase 8 mil delas à morte no mundo.
"Houve um grupo de nações que conseguiu tomar medidas para conter o surto, e acho que podemos aprender com eles", diz o epidemiologista Tolbert Nyenswah, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
"Não apenas na China, onde os casos diminuíram, foram adotadas medidas muito agressivas que podem não ser fáceis de replicar em outras nações democráticas, mas países que propuseram variantes diferentes e agressivas de respostas obtiveram resultados."
País vizinho da China e com uma população de 26 milhões de habitantes, Taiwan havia registrado até segunda-feira apenas 67 casos e uma morte em mais de dois meses de luta contra o novo coronavírus.
A província chinesa de Hong Kong, onde vivem 7,5 milhões de pessoas, até compartilha uma fronteira terrestre com o resto da China, mas só teve 155 casos confirmados e 4 mortes. No Japão, com uma população de 120 milhões, os casos mal excederam 800, enquanto na Coréia do Sul, embora haja mais de 8 mil pacientes, novas infecções foram abruptamente reduzidas nas últimas semanas.
Segundo Nyenswah, os resultados nesses países estão relacionaos a políticas inovadoras, sua prontidão e a resposta rápida à pandemia.
Entenda a seguir quais foram estas medidas e sua eficácia.
1. Testes, testes e mais testes
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e especialistas concordam que a detecção precoce de casos é um fator fundamental para conter a disseminação de um vírus. "Você não pode agir ou saber o real impacto do vírus sem saber quantas pessoas ele afetou", diz Nyenswah.
Krys Johnson, professor de epidemiologia da Universidade Temple, nos Estados Unidos, concorda que esse fator fez a diferença entre algumas nações que estão obtendo resultados melhores em sua batalha contra o vírus em relação a outras onde o número de casos está aumentando rapidamente.
"A Coréia do Sul está testando cerca de 10 mil pessoas por dia, o que significa que eles testam mais pessoas em dois dias do que os Estados Unidos em mais de um mês", diz Johnson.
Em uma coletiva de imprensa realizada na segunda-feira, o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que fornecer os testes a qualquer pessoa com sintomas de infecção foi a "espinha dorsal para impedir a propagação" da pandemia.
No entanto, ele alertou que muitos governos continuam a fazer os exames apenas para os pacientes mais graves, o que não só pode gerar estatísticas que não correspondem à realidade, mas também faz com que as pessoas com sintomas mais leves continuem transmitindo o vírus.
2. Isole os infectados
Johnson observa que a realização de testes permite não apenas isolar os doentes e impedir que o vírus se espalhe entre mais pessoas, mas também cria a possibilidade de detectar infecções que ainda não desenvolveram sintomas. "A Coréia do Sul e a China fizeram um excelente trabalho em rastrear, testar e isolar seus cidadãos", diz ele.
Segundo o especialista, o governo chinês tem sido "hipervigilante" na detecção de possíveis novos casos, o que pode ser uma das causas da queda nas infecções relatada pelo país.
"Pessoas com febre são enviadas para clínicas e testadas para gripe ou covid-19. Quando apresentam resultado positivo para covid-19, ficam isoladas em 'hotéis de quarentena' para evitar que infectem suas famílias", diz Johnson.
Em Taiwan, Cingapura e Hong Kong, embora existam locais de quarentena estatais, a regra foi fazer com que as pessoas permanecessem em suas casas e fossem multadas — às vezes, em mais de US$ 3 mil (R$ 15 mil) — se descumprissem a medida.
Mas, de acordo com Nyenswah, rastrear possíveis infecções tem sido uma parte fundamental de sua estratégia.
A esse respeito, ele lembra que as autoridades de Taiwan e Cingapura desenvolveram ações abrangentes para localizar pessoas que estavam em contato com os doentes, desde a realização de entrevistas com os infectados até a revisão de câmeras de segurança ou registros de transporte, hotéis e exames.
"Por exemplo, em 12 de março, em Hong Kong, quando tinham 445 casos suspeitos, foram realizados 14,9 mil testes entre os contatos dessas pessoas para detectar possíveis infecções, e 19 foram positivos", diz ele.
3. Preparação e reação rápida
Nyenswah foi uma das pessoas responsáveis ??pelo combate ao ebola na África Ocidental. Segundo ele, um dos elementos básicos para a contenção de um vírus é reagir rapidamente, antes que se espalhe entre toda a população.
"Países como Taiwan e Cingapura mostraram que ações rápidas para a detecção e isolamento de novos casos podem ser um fator decisivo para conter a disseminação", diz ele.
Um artigo publicado no Journal of American Medical Association sobre a resposta de Taiwan aponta que a contenção alcançada pela ilha se deve parcialmente à preparação que eles desenvolveram para eventuais eventos desse tipo, desde que criaram um comando central de controle de epidemias em 2003.
O órgão, que inclui várias agências governamentais, foi criado após a epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês) e, desde então, realiza vários exercícios e investigações para obter respostas a possíveis surtos, como explicam em seu site.
"A preparação e a ação rápida são essenciais nos estágios iniciais. Na Europa e nos Estados Unidos, vimos que não só houve falta de preparação, mas houve reação tardia", diz Nyenswah.
Antes de confirmar a transmissão local em meados de janeiro, Taiwan começou a rastrear todos os passageiros vindos de Wuhan, a cidade chinesa onde a atual pandemia começou.
Hong Kong começou a implementar estações de medição de temperatura em portos, aeroportos e fronteiras a partir de 3 de janeiro e, em seguida, implementou quarentenas de 14 dias para os turistas que chegavam.
Além disso, cada médico foi instruído a notificar se identificasse qualquer paciente com febre ou sintomas respiratórios agudos e histórico de viagens recentes a Wuhan. "Novamente, o tempo foi o fator decisivo", afirma Nyenswah.
4. Distanciamento social
Segundo o especialista, quando os primeiros contágios de um novo vírus são relatados em uma população, as medidas de contenção não fazem mais sentido e outras, como o distanciamento social, acabam sendo mais eficazes na prevenção de contágio.
"Uma vez que você já tem a doença em seu país, você precisa começar a tomar as medidas certas ou perde a chance de interromper efetivamente o surto", diz ele.
De acordo com Nyenswah, a velocidade em instituir normas de distanciamento social em países como Hong Kong e Taiwan foi essencial para reduzir o contágio.
Hong Kong orientou os adultos a trabalharem de casa desde o final de janeiro, fechou as escolas e cancelou todos os eventos sociais.
A mudança já foi replicada em muitos países, mas, segundo Johnson, uma das chaves para os resultados foi a velocidade com que a decisão foi tomada.
Por outro lado, Cingapura nunca cancelou as aulas por causa do potencial impacto econômico que teria sobre trabalhadores com filhos menores.
No entanto, de acordo com o jornal local The Straits Times, a estratégia tem sido testar e monitorar todos os alunos e funcionários todos os dias.
5. Promover medidas de higiene
Desde que os primeiros surtos de coronavírus começaram a ser notificados fora da China, a OMS insistiu que, além do distanciamento social, lavar regularmente as mãos e manter uma boa higiene ao notar qualquer sintoma são essenciais para evitar a transmissão do vírus.
"Muitos países asiáticos aprenderam com a experiência da Sars em 2003 e são países onde existe a consciência de praticar medidas de higiene não apenas para não adoecer, mas também para não infectar outras pessoas, algo essencial nesses casos", diz Nyenswah.
Em países como Cingapura, Hong Kong e Taiwan, os dispensadores de gel antibacteriano nas ruas são comuns e o uso de máscaras estava difundido antes mesmo do novo coronavírus.
As autoridades de Taiwan, por exemplo, promoveram pela internet campanhas de lavagem de mãos e reforçaram a limpeza de ruas e outros locais públicos.
"É um fator que geralmente é ignorado em meio às medidas drásticas que estão sendo tomadas, mas acho que essas medidas no nível do cidadão, como lavar as mãos, continuam sendo as mais eficazes", diz Nyenswah.
Coronavírus: cientistas descobrem como o corpo combate a covid-19
Cientistas australianos disseram ter identificado pela primeira vez como o sistema imunológico combate a infecção pelo novo coronavírus, causador da doença covid-19.A pesquisa, publicada na revista médica Nature Medicine, mostra que as pessoas estão se recuperando da infecção pelo novo coronavírus da mesma maneira como elas se recuperam de uma gripe.
Segundo os especialistas, determinar quais células do sistema imunológico atuam no combate ao vírus poderá ajudar no desenvolvimento de uma vacina.
Globalmente, as autoridades já confirmaram mais de 170 mil casos de infecção pelo coronavírus e mais de 7 mil mortes. Cerca de 80 mil infectados já se recuperaram.
Outros especialistas afirmaram que a pesquisa do Instituto Peter Doherty para Infecção e Imunidade, de Melbourne, é "um grande avanço".
O que foi descoberto?
Muitas pessoas já se recuperaram da covid-19, o que demonstra que o sistema imunológico consegue combater efetivamente o vírus, já que não existe hoje um tratamento que ofereça a cura da doença.
Os pesquisadores australianos identificaram quatro tipos de células do sistema imunológico que combatem o novo coronavírus.
Elas foram observadas com o acompanhamento de uma paciente que teve sintomas entre leves e moderados e não tinha nenhum problema prévio de saúde.
A mulher de 47 anos de Wuhan, na China, foi internada em um hospital na Austrália e se recuperou em 14 dias.
Kedzierska disse à BBC que a equipe dela havia examinado "a totalidade da resposta imunológica" da paciente.
Três dias antes da mulher começar a melhorar, células específicas foram identificadas em sua corrente sanguínea.
Em pacientes com influenza (gripe comum), as mesmas células também aparecem no mesmo estágio da recuperação, segundo Kedzierska.
Raios-x dos pulmões de paciente mostraram a recuperação após aparecimento de células do sistema imunológico