A Coreia do Norte lançou nesta quinta-feira (25) dois supostos mísseis balísticos no mar, no que seria a primeira provocação do país à administração do presidente americano Joe Biden.
O país do norte da península da Coreia, que possui armas nucleares, tem um longo histórico de testes de armamento para provocar, um processo cuidadosamente planejado para alcançar seus objetivos.
O primeiro ano da presidência de Donald Trump foi marcado por uma série de lançamentos, acompanhado de uma troca de ameaças entre ele e o dirigente norte-coreano, Kim Jong Un.
Pyongyang aguardava o momento desde a posse do novo governo americano, que o regime só reconheceu na semana passada.
O Estado-Maior conjunto da Coreia do Sul informou que o Norte lançou dois mísseis de curto alcance em direção ao Mar do Japão, conhecido como Mar do Leste pelos coreanos.
Os mísseis percorreram 450 quilômetros e alcançaram altitude máxima de 60 km, afirmou o Estado-Maior sul-coreano, que não revelou o tipo de míssil.
Mas o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, foi categórico e afirmou à imprensa que a "Coreia do Norte lançou dois mísseis balísticos".
O último disparo do tipo acontecera em 29 de março de 2020.
"Isto ameaça a segurança de nosso país e da região. Também é uma violação da resolução da ONU", declarou o chefe de Governo japonês.
Tóquio afirmou que os mísseis caíram em águas fora de sua zona econômica exclusiva.
O Conselho de Segurança da ONU, por meio de resoluções, proibiu a Coreia do Norte de desenvolver mísseis balísticos, mas sob o comando de Kim Jong Un o país aumentou sua capacidade e testou mísseis com a capacidade de atingir o território continental dos Estados Unidos a partir da deterioração das relações em 2017.
Trump e Kim, no entanto, iniciaram uma improvável lua de mel diplomática, marcada pelas reuniões históricas de Singapura e Hanói.
O governo dos Estados Unidos desistiu de alguns exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul, enquanto o Norte congelou os testes de mísseis balísticos intercontinentais.
Mas o encontro de cúpula de Hanói, em fevereiro de 2019, fracassou no momento de abordar o fim das sanções em troca de eventuais medidas de desarmamento.
A comunicação foi suspensa, apesar de um terceiro encontro na Zona Desmilitarizada que divide a península da Coreia, e nenhum avanço considerável foi registrado para permitir a desnuclearização.
"Parece que a Coreia do Norte está voltando ao modelo familiar de usar as provocações para chamar atenção", disse Jean Lee, do Wilson Center de Washington.
Pyongyang organizou uma série de testes de armas no ano passado que chamou de "artilharia de longo alcance", embora alguns países tenham descrito os projéteis como mísseis balísticos de curto alcance.
Trump "quis fechar os olhos para os lançamentos balísticos da Coreia do Norte desde que não fossem testes de mísseis de longo alcance", disse Lee.
"Mas suspeito que a administração Biden enfrentará qualquer lançamento de mísseis balísticos que viole as resoluções do Conselho de Segurança da ONU".
"Teoria lunática"
A Coreia do Norte já lançou dois mísseis no domingo na direção da China, pouco depois dos exercícios militares conjuntos entre Coreia do Sul e Estados Unidos e da visita a Seul do secretário de Estado americano, Anthony Blinken, e do secretário de Defesa, Lloyd Austin.
De acordo com fontes do governo americano, os lançamentos envolveram dois mísseis de curto alcance, não balísticos. Eles minimizaram os disparos e afirmaram que os projéteis estão catalogados na "categoria de atividades militares normais do Norte".
Durante a viagem a Seul e Tóquio, Blinken destacou a importância de desnuclearizar a Coreia do Norte.
Em resposta, Choe Son Hui, primeira vice-ministra norte-coreana das Relações Exteriores, acusou o governo dos Estados Unidos de adotar "uma teoria lunática de 'ameaça da Coreia do Norte' e de por sua retórica sen fundamento da 'desnuclearização total".
"O lançamento de quinta-feira aponta o início da pressão de Pyongyang sobre Washington para negociar a questão nuclear", declarou à AFP Yoo Ho-yeol, professor emérito de estudos norte-coreanos na Universidade da Coreia.
"O que vai acontecer depois depende da resposta dos Estados Unidos e da China", completa.
Funcionários do governo americano afirmaram que a administração Biden tentou, desde a posse em janeiro, entrar em contato com as autoridades norte-coreanas por diversos canais, mas não teve sucesso.
Agora a Casa Branca analisa uma estratégia que discutirá com autoridades de segurança japonesas e sul-coreanos na próxima semana.
Lançamento de mísseis da Coreia do Norte testa Biden e alarma Japão antes da Olimpíada¹
A Coreia do Norte lançou dois supostos mísseis balísticos no mar perto do Japão nesta quinta-feira, sublinhando o progresso constante de seu programa de armas e aumentando a pressão sobre o novo governo dos Estados Unidos no momento em que a nova gestão em Washington elabora sua política para Pyongyang.
Os testes aparentes foram relatados por autoridades dos EUA, da Coreia do Sul e do Japão, e coincidiram com o início do revezamento da tocha olímpica em solo japonês.
Estes seriam os primeiros mísseis balísticos testados pela Coreia do Norte em quase um ano e os primeiros relatados desde que o presidente norte-americano, Joe Biden, tomou posse em janeiro.
Analistas disseram que os testes de mísseis mais recentes não significam que a diplomacia da desnuclearização está morta, mas que ressaltam uma verdade inconveniente para o governo dos EUA: o arsenal de Pyongyang está melhorando, o que cria novas ameaças e aumenta o poder de barganha em potencial caso as conversas sejam retomadas.
"Cada dia que passa sem um acordo que tente diminuir os riscos representados pelo arsenal nuclear e de mísseis da Coreia do Norte é um dia em que este se torna maior e mais nocivo", disse Vipin Narang, especialista em questões nucleares do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA.
Os lançamentos desta quinta-feira ocorreram poucos dias depois de a Coreia do Norte lançar vários mísseis de cruzeiro em um exercício que Biden disse não ter sido uma provocação, mas algo "corriqueiro".
"O primeiro lançamento em pouco menos de um ano representa uma ameaça à paz e à estabilidade do Japão e da região e viola resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas)", disse o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, em comentários transmitidos pela emissora pública NHK.
¹com Reuters