Carlos Andrés Barahona
Armas e minas terrestres já não bastam: as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) acrescentaram Facebook, Twitter e blogs a seu arsenal.
Como as ações do grupo terrorista colombiano incluem propaganda ideológica, a internet é a melhor e mais barata arma, observa Alfredo Rangel, diretor da Fundação de Segurança e Democracia da Colômbia.
“Isso se tornou claramente um aspecto do conflito interno da Colômbia”, ressalta. “As FARC se adaptaram e estão usando tecnologias da informação para passar suas mensagens.”
Em setembro, o líder das FARC, Timoleón Jiménez, conhecido como “Timochenko”, abriu uma conta no Twitter que informa sua localização: as “Montanhas da Colômbia”. Sua conta tem mais de 7.000 seguidores, enquanto a das FARC tem 15.860.
Quando as FARC sequestraram o jornalista francês Roméo Langlois, no fim de abril, o grupo terrorista usou o Twitter para divulgar informações sobre sua saúde e subsequente libertação.
As FARC também usaram o Twitter para fornecer detalhes sobre a libertação de dez policiais e reféns militares, que ocorreu no início de abril.
“O Twitter se transformou em um meio para anunciar a libertação de prisioneiros. O site deles evoca a memória de seus ‘heróis’ caídos e as FARC publicam constantemente mensagens sobre liberar a Colômbia da [suposta] opressão que enfrenta atualmente”, destaca Rangel.
O governo colombiano investirá cerca de US$ 2,8 milhões (R$ 5,6 milhões) em tecnologia em 2013 para identificar a origem das comunicações digitais do grupo guerrilheiro, em um esforço para combater as atividades online das FARC.
“O importante é que o governo entende que a capacidade das FARC de se adaptar nesta área exige que as autoridades combatam o terrorismo também na mídia”, afirma Jhoan Guevara, especialista em ciências políticas e comunicações da Universidade Javeriana de Bogotá.
Embora as FARC e o governo colombiano estejam engajados em conversações de paz, o presidente Juan Manuel Santos deixou claro que não suspenderá as operações militares contra o grupo terrorista, pois o combate às FARC tem sido sua prioridade desde que assumiu o governo, em 2010.
“As FARC estão em desvantagem numérica e tecnológica”, disse Santos recentemente. “De uma forma ou de outra, esses grupos terroristas vão desaparecer. Preferiríamos que depusessem suas armas e se rendessem, mas, se querem continuar lutando, continuaremos melhorando nossa infraestrutura. Agregaremos mais policiais e compraremos tudo o que precisarmos para combater as FARC de todos os ângulos possíveis.”
Interceptações importantes
Ao monitorar as comunicações das FARC, o governo desferiu golpes importantes contra o grupo terrorista. Por exemplo, o comandante das FARC Raúl Reyes morreu em uma operação militar em 2008 que começou com as forças de segurança rastreando seu telefone via satélite para descobrir sua localização exata.
Comunicações interceptadas também revelaram os planos das FARC de assassinar Santos, em agosto.
“Na guerra contra o terrorismo, precisamos cobrir todos os ângulos e, por isso, temos pessoas trabalhando dia e noite para monitorar as comunicações das FARC, analisá-las e atacar os pontos fracos”, disse Sergio Jaramillo, conselheiro de segurança nacional e um dos criadores da Direção Nacional de Inteligência (DNI), instituição encarregada de travar a batalha digital contra as FARC.
Diana Carolina Montoya, cientista política da Universidade de Rosario, afirma que as FARC estão perdendo as batalhas armada e ideológica.
“Quando você lê os artigos de guerra publicados no site das FARC, o que desagrada a opinião pública é que sugerem que os ataques e perseguições são contra as forças militares da Colômbia. Mas, em nenhum momento, as FARC mostram remorso pelas ações tomadas contra a sociedade civil”, observa. “Para as FARC, o conceito de danos colaterais não existe. As FARC usam esses canais de comunicação exclusivamente para atender às suas necessidades.”
Destruição de rádios clandestinas
As FARC tradicionalmente usam estações de rádio clandestinas para transmitir sua mensagem às áreas rurais da Colômbia.
“Acreditamos que há pelo menos uma estação de rádio em cada região do país. Nas regiões caribenha, do Pacífico, amazônica, andina e do Orinoco, as FARC contam com pelo menos uma estação para alcançar especificamente essas regiões”, diz Ariel Ávila, pesquisador da Corporación Nuevo Arco Iris, ONG que analisa conflitos entre o Estado e o grupo terrorista.
As forças de segurança da Colômbia desmantelam regularmente estações de rádio clandestinas das FARC.
Em 25 de agosto, soldados do Exército colombiano invadiram uma estação de rádio das FARC na área rural de Cubarral, no departamento de Meta.
Durante a operação, as tropas confiscaram reguladores de tensão, um console, baterias de longa duração, cabos de comunicação, um scanner e outro equipamento usado para transmitir sinais de rádio.
A estação cobria municípios que incluíam La Uribe, La Macarena, Vista Hermosa, Granada, San José del Guaviare e Mapiripán, no departamento de Meta, além da região de Sumapaz, no departamento de Cundinamarca, segundo a 13ª Brigada do Exército.
O Exército anunciou em novembro de 2011 a desativação da “Voz da Resistência”, uma estação de rádio de Cubarral que as FARC operavam na região há mais de 15 anos, principalmente para doutrinação política e para elevar o ânimo dos guerrilheiros.