RIO – Estados Unidos e China, as duas maiores economias mundiais, enfrentam esta semana momentos políticos decisivos, que vão definir o rumo de suas economias. Na terça-feira, os americanos decidem se mantêm o democrata Barack Obama na presidência ou se o trocam pelo republicano Mitt Romney. Na quinta-feira, o Partido Comunista da China inicia seu 18º Congresso e define a nova liderança política chinesa, processo que ocorre a cada dez anos. O vice-presidente Xi Jinping está cotado para assumir a presidência de Hu Jintao, e Li Keqiang deve substituir Wen Jiabao como premier.
Os desafios do país asiático não são pequenos: depois de décadas de um crescimento em torno de 10% baseado em exportações e investimentos, o ritmo de expansão recuou e é preciso apostar mais no consumo para garantir crescimento econômico sustentado.
— Há um reconhecimento amplo de que não se pode mais confiar em exportações ou investimentos em infraestrutura para crescer e é preciso encontrar uma maneira de aumentar o consumo doméstico. O desafio é fazer isso numa época de transição política — diz o pesquisador associado do Instituto Peterson para a Economia Internacional Nicholas Borst, para quem o processo de transição econômica já começou, mas ainda está muito lento.
A necessidade de diversificação das fontes de crescimento da economia chinesa foi identificada no 12º Plano Quinquenal, lançado no ano passado. Em plena crise, a China viu o ritmo de expansão das exportações despencar — sob influência principalmente da União Europeia — e a produção industrial também se ressentir.
A dificuldade para transformar o modelo econômico, segundo a professora de Relações Internacionais da PUC-Rio e coordenadora do BRICS Policy Center Adriana Erthal Abdenur, é que há uma diferença entre o desejo do governo central e a atuação dos governos das províncias, com certa autonomia sobre seus orçamentos:
— Falta capacidade do Partido Comunista de gerar incentivos para que as províncias adotem esse novo modelo de crescimento da economia. Os governos locais querem continuar com políticas de investimentos em massa, de grandes projetos de infraestrutura, porque dão visibilidade.
O outro aspecto é que há indicação de que o ritmo do crescimento baseado em consumo é menor que o modelo atual, destaca o economista e presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios Cláudio Frischtak:
— Esta é uma fase crítica. Se fizer a transição do modelo de crescimento econômico de forma descuidada, o investimento vai cair.
Isso coloca em risco o emprego e a estabilidade, alicerces da legitimidade do Partido Comunista no poder.
— Espero que a nova liderança do Partido possa manter a estabilidade econômica, política e social, fundamental para o desenvolvimento da China — afirma o secretário-geral do Centro de Estudos Brasileiros do Instituto da América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Zhou Zhiwei.
Impacto nas ‘commodities’
Um dos pontos delicados na economia chinesa hoje é o mercado imobiliário. Os preços dos imóveis dispararam no país nos últimos anos, ajudando a sustentar a expansão da economia. O governo tem buscado restringir esse crescimento, de maneira a evitar o estouro de uma bolha, como ocorreu nos Estados Unidos ou na Espanha.
O depósito inicial para a compra de um imóvel, por exemplo, subiu para 40%. Outra diferença é o acesso a crédito imobiliário, muito mais facilitado nos EUA que na China, lembra Adriana Erthal Abdenur.
— A restrição ao mercado imobiliário é uma coisa boa a longo prazo, mas não a curto prazo. A economia como um todo está sofrendo — aponta Borst, que não acredita, no momento, no risco de um estouro da bolha imobiliária.
Como segunda maior economia mundial, o que ocorre na China reverbera para o resto do mundo, incluindo, claro, o Brasil. Segundo estimativa de Cláudio Frischtak, o recuo do ritmo de expansão chinesa de 10% para 7% significa um corte de 0,4 ponto percentual no crescimento da economia brasileira.
— É um impacto muito forte — atesta Frischtak.
Nos EUA, risco é o ‘abismo fiscal’
Com expansão menor por lá, cai a demanda por commodities como minério de ferro e soja, por exemplo, com forte peso na economia brasileira.
Se na China discute-se a desaceleração do crescimento, o que se vê nos Estados Unidos é uma expansão muito fraca da economia, que pode ser colocada em risco no caso de uma vitória do republicano Romney.
— Se Romney ganhar e seguir a cartilha republicana, o risco é maior para a economia — diz Frischtak.
Mais do que apenas a escolha entre o republicano e o democrata, o que está em jogo no momento é a negociação para se evitar o chamado abismo fiscal. Se o Congresso não fizer nada em sentido contrário, entram em vigor em janeiro cortes automáticos de gastos públicos e o fim de isenções de impostos de grande porte, que podem ter impacto de até 4 pontos percentuais na expansão da economia.
Ou seja, os Estados Unidos, que agora crescem a um ritmo de 2%, poderiam cair em recessão.
— Ambos os partidos veem os riscos do abismo fiscal e acredito que vão chegar a um acordo — acredita Borst.