Desde que se tornou a principal liderança da China, em 2012, Xi Jinping vem comandando uma grande e implacável campanha anticorrupção que já puniu até agora mais de 1 milhão de funcionários públicos.
Mais de 170 ministros e vice-ministros foram demitidos e muitos deles acabaram na prisão após serem acusados de crimes como corrupção, má conduta e transgressão das diretrizes do partido.
Essa é a conclusão de um estudo realizado pela BBC que mostra o que alguns descreveram como um expurgo interno sem precedentes de opositores, em uma dimensão nunca antes vista desde Mao Tsé-Tung (1893-1976).
Arquiteto e fundador da República Popular da China, Mao se livrou de muitos altos comandantes do partido. Ele governou o país de sua criação, em 1949, até sua morte, em 1976.
Xi acaba de ser elevado ao mesmo status que Mao. Por unanimidade, seu nome e sua teoria de governo foram incluídos na constituição do partido.
Expurgo
A maior diferença é que desta vez muitas convenções que existiam no Partido Comunista Chinês (PCC) desde a época de Mao foram quebradas.
Várias autoridades estatais, por exemplo, foram julgadas e figuras proeminentes discretamente retiradas de cena.
Nos últimos cinco anos, 35 membros com e sem direito a voto no poderoso Comitê Central do PCC foram punidos.
Ou seja, quase o mesmo número dos que tiveram a mesma sorte entre 1949 e 2012.
'Na mira'
Os dados oficiais indicam a punição de 1,34 milhão de funcionários do governo em todos os níveis (apelidados de "tigres e moscas") durante os primeiros cinco anos do governo Xi.
Eles foram acusados de corrupção e transgressões disciplinares.
Nenhuma área foi poupada: as baixas atingiram desde líderes de vilarejos e gerentes de fábricas, passando por ministros e generais do governo.
A chamada "grande limpeza" atingiu, inclusive, a cúpula do regime.
Um caso emblemático foi o de Zhou Yongkang. Ex-chefe da segurança interna, ele foi condenado à prisão perpétua por suborno, abuso de poder e "intencionalmente revelar segredos nacionais".
Já Sun Zhengcai perdeu o cargo de secretário do partido na cidade de Chongqing. Também se tornou o quarto membro do politburo – o comitê que reúne as principais lideranças do PCC – a ser expulso do partido.
Ele tinha ascendido à cúpula do governo chinês antes de Xi chegar ao poder e havia a expectativa de que poderia futuramente liderar o politburo.
Quase 70% dos membros do Comitê Central serão substituídos no Congresso do Partido Comunista, que acontece desde a semana passada.
Mas, na maioria dos casos, o motivo não está ligado à corrupção ou a transgressões semelhantes, mas à idade.
Muitos dos membros do Comitê têm mais de 60 anos e, de acordo com a tradição, devem se aposentar.
Exército
Nenhuma área foi reestruturada de forma mais radical pelo governo do que a militar. Xi foi rápido em reorganizá-la e modernizá-la em grande escala.
Mais de 60 generais foram investigados e demitidos como parte de um plano para inserir um estilo ocidental de comando conjunto e colocar jovens em postos de comando.
Mesmo quando os delegados começaram a se reunir em Pequim para o Congresso, o ritmo da campanha de expurgo não dava sinais de desaceleração.
Dois generais, Fang Fenghui e Zhang Yang, desapareceram da cena pública no mês passado e uma série de investigações de alto nível foi anunciada.
O que Xi quer?
A expectativa é que Xi permaneça como chefe do partido, mas que uma nova leva de líderes surja – o que ajudará o presidente chinês a consolidar o seu já amplo poder.
Se tudo sair conforme planejado, ele deverá pôr seus aliados mais fiéis em posições-chave. Desde sua ascensão ao comando da China, vários deles foram promovidos.
O poder de Xi ficará patente quando os sete lugares do Comitê Permanente do Politburo estiverem ocupados.
A identidade de seus membros (e dos que compõem o politburo) será revelada nesta quarta-feira, tão logo o congresso acabe.
Mas, de acordo com analistas, Xi e Wang Qishan, seu chefe anti-corrupção e braço direito, usaram essa campanha de limpeza para ajudar a determinar quem será o novo líder da China.
O PCC tem governado por consenso há décadas, mas analistas dizem que Xi está reescrevendo as regras e concentrando o poder em suas próprias mãos.
Seus críticos o acusam de fomentar um culto de personalidade. Eles afirmam que a maioria dos altos funcionários que foi punida apoiova seus opositores ou ex-líderes, como Jiang e Hu.
Já os defensores de Xi alegam que a campanha anticorrupção é necessária para restaurar a credibilidade do partido, em um momento em que a China caminha para substituir os Estados Unidos como a maior economia do mundo.