O embaixador da China em Londres acusou nesta segunda-feira países estrangeiros, incluindo Estados Unidos e Reino Unido, de interferirem nos assuntos internos chineses por meio de suas reações aos confrontos violentos que vêm ocorrendo em Hong Kong.
O polo financeiro asiático, que foi devolvido pelo Reino Unido, seu antigo governante colonial, à China em 1997, mas que desfruta de certo grau de autonomia conforme a fórmula “um país, dois sistemas”, está mergulhado no caos há quase seis meses.
Em uma escalada dramática, a polícia de Hong Kong sitiou uma universidade da cidade, disparando balas de borracha e gás lacrimogêneo para reprimir manifestantes contra o governo munidos de coquetéis molotov e outras armas para impedi-los de fugir. Em Londres, o embaixador Liu Xiaoming convocou uma coletiva de imprensa na embaixada chinesa para comentar os eventos em Hong Kong e criticou governos e a mídia ocidental por suas reações à crise.
“Alguns países ocidentais têm apoiado publicamente perpetradores de violência extrema”, disse. “A Câmara dos Deputados dos EUA adotou a chamada Lei de Direitos Humanos e Democracia de Hong Kong para interferir descaradamente nos assuntos de Hong Kong, que são assuntos internos da China”, argumentou. “O governo britânico e o Comitê de Assuntos Externos da Câmara dos Comuns publicaram relatórios relacionados à China fazendo comentários irresponsáveis sobre Hong Kong”, acrescentou.
Manifestantes fazem fuga dramática durante protesto em universidade de Hong Kong
Dezenas de manifestantes em Hong Kong protagonizaram uma fuga dramática de um campus de uma universidade que estava cercado pela polícia na segunda-feira, estendendo mangueiras de plástico a partir de uma ponte e partindo em motocicletas que esperavam do lado de baixo, enquanto a polícia atirava projéteis.
Muitos outros manifestantes contrários ao governo continuavam aprisionados do lado de dentro da Universidade Politécnica de Hong Kong e a entrada de dois importantes negociadores foi permitida no campus pela polícia na noite de segunda-feira para mediação, um sinal de que há um risco crescente de violência. “A situação está ficando cada vez mais perigosa”, disse Jasper Tsang, um político pró-Pequim que é o ex-chefe do Conselho Legislativo de Hong Kong, à Reuters pouco depois de chegar ao campus.
Enquanto ele falava, grandes explosões foram ouvidas e chamas ardiam em uma parte distante do campus. Em ruas próximas, manifestantes arremessavam coquetéis molotov e queimavam carros e a fachada de uma agência bancária do Standard Chartered.
A Universidade Politécnica no distrito de Kowloon em Hong Kong é o epicentro de um impasse na última semana e tem visto os piores episódios de violência nos últimos cinco meses de manifestações contra o governo.
Alguns dos manifestantes que escaparam nesta segunda-feira desceram de uma ponte de cerca de 10 metros de altura que havia sido ocupada no campus para um viaduto abaixo. Eles então se retiraram em velocidade com o auxílio de motocicletas que os esperavam. Mas vários deles parecem ter sido presos logo após a fuga, afirmou uma testemunha à Reuters.
Outros manifestantes, atirando coquetéis molotov, tentavam repetidamente invadir o campus, mas a polícia atirava bombas de gás lacrimogêneo e utilizava canhões de água para afastá-los. O tamanho das manifestações diminuiu nas últimas semanas, mas os confrontos se intensificaram desde a semana passada, quando a polícia atirou em um manifestante, um homem foi incendiado e o distrito financeiro da cidade foi inundado de gás lacrimogêneo no meio do expediente. A autoridade hospitalar da cidade reportou 116 feridos na segunda-feira, incluindo uma mulher que estava em estado grave.
Mais cedo na segunda-feira a polícia apertou o cerco à Universidade Politécnica e impediu que dezenas de pessoas passassem pelas linhas policiais. A polícia afirmou que agentes haviam sido destacados para o “o perímetro” do campus por uma semana, apelando para que os “depredadores” deixassem o local.
Líder de Hong Kong faz apelo por fim de impasse entre estudantes e polícia em universidade
A líder de Hong Kong, Carrie Lam, disse nesta terça-feira que espera que um impasse entre a polícia e um grupo de manifestantes antigoverno entrincheirado em uma universidade possa ser resolvido logo, e instruiu a polícia a tratá-los com dignidade.
Cerca de 100 manifestantes permanecem na Universidade Politécnica de Hong Kong, que foi cercada pela polícia, depois de mais de dois dias de confrontos nos quais mais de 200 pessoas ficaram feridas.
Lam falou pouco depois de o novo chefe de polícia da cidade pedir o apoio de todos os cidadãos para encerrar mais de cinco meses de tumultos, provocados pelo temor de que o governo central da China esteja minando a autonomia especial e as liberdades do território.
No campus abrangente da Universidade Politécnica, localizada no distrito de Kowloon, a sensação de desespero imperava em meio ao som de alarmes de incêndio na tarde desta terça-feira.
A universidade é a última de cinco que os manifestantes ocuparam para usar como bases a partir das quais lançam os protestos pela cidade, interditando o túnel subterrâneo central e ruas importantes e forçando o fechamento de negócios, inclusive shopping centers, para submeter o governo a uma pressão econômica, disseram.
Lam disse que 600 manifestantes deixaram o campus, incluindo 200 com menos de 18 anos. Centenas deles fugiram da universidade ou se renderam de madrugada em meio a batalhas recorrentes em ruas próximas enquanto a polícia disparava gás lacrimogêneo, canhões de água e balas de borracha, e os manifestantes lançavam coquetéis molotov e tijolos.
A certa altura, dezenas de manifestantes realizaram uma fuga dramática deslizando por tubos de plástico de uma ponte e escapando em motos que os esperavam enquanto policiais disparavam projéteis.
No que muitos verão como uma ilustração do endurecimento do controle de Pequim, a legislatura da China questionou a legalidade de um veredicto emitido por um tribunal de Hong Kong na segunda-feira que determinou que a proibição das máscaras usadas pelos manifestantes é ilegal.
O Congresso Nacional do Povo (NPC) disse que as cortes de Hong Kong não têm autoridade para opinar sobre a constitucionalidade da legislação da cidade, noticiou a agência estatal de notícias Xinhua. Lam disse que seu governo está basicamente do “lado reativo” ao lidar com os protestos, mas não descartou mais episódios de violência, apesar de estar pedindo paz.