Javier Blas
A China superou os Estados Unidos como maior importador líquido de petróleo do mundo, numa mudança que vai sacudir a geopolítica dos recursos naturais. As importações líquidas de petróleo dos Estados Unidos caíram para 5,98 milhões de barris por dia em dezembro, o menor nível desde fevereiro de 1992, segundo números provisórios da Administração de Informações Energéticas dos EUA. No mesmo mês, as importações líquidas de petróleo da China aumentaram para 6,12 milhões de barris/dia, segundo a alfândega chinesa.
Os EUA têm sido o maior importador líquido de petróleo do mundo desde a década de 1970, o que moldou a política externa da Washington em relação a países ricos em petróleo como a Arábia Saudita e o Iraque.
Com a China superando os EUA como o maior importador líquido do mundo, Pequim enfrentará pressões para que assuma mais responsabilidades na manutenção da segurança das principais rotas de transporte do mundo. A China já adotou uma política externa mais assertiva em relação ao petróleo em países como Sudão, Angola e Iraque, onde companhias estatais chinesas vêm investindo bilhões de dólares.
"Os EUA estão dando passos largos rumo à independência energética", diz Eric G. Lee, um analista de commodities do Citigroup que foi o primeiro a informar a mudança.
Os números de dezembro são sempre voláteis por razões fiscais de fim de ano, mas analistas e operadores afirmam que a mudança se manterá. Os números incluem petróleo bruto e produtos refinados de petróleo, como o diesel e o querosene.
Neste ano, a Marinha americana vai reduzir o número de porta-aviões em operação no estreito de Hormuz, que liga o golfo Pérsico aos mercados internacionais de petróleo.
A produção doméstica de petróleo dos Estados Unidos está crescendo muito devido à revolução do xisto, o que está reduzindo a necessidade de importação de petróleo bruto. Grandes companhias de petróleo e refinarias americanas, como a ExxonMobil e a Philips 66, também estão exportando quantidades recorde de produtos de petróleo para atender a grande demanda por petróleo, diesel e querosene na América Latina e África, e reduzindo as importações líquidas de petróleo do país.
A produção de petróleo dos Estados Unidos aumentou em mais de 800 mil barris/dia no ano passado. A expansão permitiu ao país reduzir sua dependência da Organização dos Países Produtos de Petróleo (Opep), o cartel internacional do petróleo. Mas a redução tem sido desigual, com a Arábia Saudita, Kuwait e outros países do Oriente Médio sofrendo relativamente pouco com a redução da demanda dos EUA, em comparação aos produtores africanos.
A troca de posição entre a China e os EUA acontece no momento em que a Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que os países emergentes irão, pela primeira vez, consumir mais petróleo que as nações industrializadas. Sediada em Paris, a AIE estima que os países que não fazem parta da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) irão consumir 44,9 milhões de barris de petróleo por dia no próximo trimestre, em comparação a 44,7 milhões de barris/dia dos países que fazem parte da OCDE.
Os EUA continuam sendo o maior importador líquido de petróleo do mundo em uma base anual, mas a margem sobre a China diminuiu significativamente nos últimos cinco anos. As compras líquidas de petróleo bruto e produtos refinados no exterior caíram para 7,14 milhões de barris por dia no ano passado, o menor nível em 20 anos, enquanto que as importações líquidas dos chineses chegaram a 5,72 milhões de barris/dia.