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China flerta com projetos novos no Brasil

A China já tem US$ 117 bilhões em investimentos diretos acumulados no Brasil, segundo o Ministério do Planejamento, mas concentra quase 45% de tudo isso em apenas três setores: energia, mineração e agronegócio.

Uma das grandes incógnitas em 2018 é se as empresas chinesas deixarão de fazer suas maiores apostas na compra de ativos existentes e consolidados, como tem acontecido até agora, para fazer avanços em projetos novos (conhecidos como "greenfield" no jargão do mercado) – principalmente em segmentos da infraestrutura.

A expectativa do governo brasileiro e de especialistas é justamente essa. O Fundo Brasil-China para a Expansão da Capacidade Produtiva, que foi lançado neste ano e tem até US$ 20 bilhões disponíveis, deve dar uma mãozinha.

No fim de janeiro, autoridades dos dois países se reúnem em Brasília e vão avaliar conjuntamente oito projetos pré-selecionados para inaugurar o mecanismo de apoio bilateral.

Há cláusula de confidencialidade em torno dos empreendimentos, que precisaram se candidatar oficialmente a receber os recursos, mas o mercado acredita em pelo menos dois favoritos: a Ferrogrão, ferrovia que ligará Sinop (MT) a Miritituba (PA), e uma usina siderúrgica no Maranhão, em parceria com a CBSteel.

Ainda em janeiro, espera-se uma definição sobre a entrada das empresas China Railway Capital e da China Railway First Group na linha 6 do metrô de São Paulo, que foi paralisada com apenas 15% das obras executadas.

Junto com a japonesa Mitsui, os dois grupos chineses negociam uma substituição do consórcio responsável por construir a linha, que tem à frente três empreiteiras afetadas pela Lava-Jato – Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC.

Outro projeto tido como prioritário é a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que rasga o interior da Bahia, e a construção do Porto Sul de Ilhéus para escoar a carga transportada sobre os trilhos.

Trata-se, conforme diversas fontes oficiais e da iniciativa privada, do empreendimento logístico de maior interesse da China no Brasil. A dificuldade tem sido formatar o leilão ainda em 2018. "Hoje as empresas chinesas buscam não só garantir o suprimento de commodities ou desovar a capacidade ociosa de suas fábricas em outros países", afirma o secretário de assuntos internacionais do Ministério do Planejamento, Jorge Arbache, um dos principais interlocutores dos asiáticos no governo brasileiro.

"Elas estão procurando aumento de escala e participação mais ativa em bons negócios, em um saudável processo de diversificação, deixando de focar apenas em bens e focando também no campo de serviços, inclusive em áreas com um elevado grau de conhecimento tecnológico."

Em 2017, uma série de negócios de peso foi anunciada pelos chineses: a compra da CPFL Energia pela State Grid, a aquisição do Terminal de Contêineres de Paranaguá (PR) pela China Merchants Port, a vitória da State Power Investment Corporation (Spic) no leilão da hidrelétrica de São Simão (antes pertencente à Cemig), as negociações da HNA para assumir o aeroporto do Galeão (RJ).

Para Arbache, a entrada dos chineses em mais projetos "greenfield" é questão de tempo. "Isso vai acontecer. É um processo de aprendizagem", diz o secretário, que acha nociva a comparação com americanos, europeus ou japoneses. "A presença deles no Brasil tem mais de 100 anos, houve tempo de sobra para entender os sacolejos da macroeconomia, do câmbio. Os chineses começaram a investir em 2009 e 2010."

As eleições presidenciais estão no radar dos asiáticos, que demonstram enorme desconforto com o crescimento da candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), segundo fontes ouvidas pelo Valor em Pequim.

Ele é tido como "sinofóbico" por causa de uma sequência de declarações recentes prometendo impor freios às aquisições da China no Brasil. Independentemente das urnas, o aumento da presença chinesa parece mesmo para valer. "Para os investidores, de maneira geral, há muitas incertezas sobre as perspectivas eleitorais e o processo de reformas.

Mas os investidores chineses, em particular, são menos suscetíveis a essas flutuações e estão decididas a fortalecer suas parcerias de longo prazo", afirma o economista Marcelo Allain, ex-secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e atualmente sócio-diretor da consultoria BR Infra Group.

De acordo com ele, Brasil e Paquistão saíram do 19 Congresso do Partido Comunista – realizado em outubro – como apostas da China no mundo emergente. Diante da orientação dada pelo PC, fatores como risco ambiental e de construção perdem importância. "Quando existe uma diretriz política de Pequim, o peso relativo que se dá a esses fatores é menor do que em empresas de outros países", observa Allain.

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