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China – Faz mistério com zona especial

 

Simon Rabinovitch
Financial Times, de Xangai

 

A nova zona de livre comércio da China, que deverá ser lançada neste fim de semana, está provocando euforia. Não há mais imóveis disponíveis à venda perto da área, localizada num subúrbio distante de Xangai. As ações das empresas que deverão se beneficiar subiram, algumas mais de 300% no último mês. Economistas vêm chamando a iniciativa de a maior reforma em mais de uma década.

Só não pergunte a nenhum comprador, investidor ou analista o que exatamente será a zona de livre comércio, pois, ao menos por enquanto, eles ainda não sabem.

Quando o Conselho de Estado [o Gabinete de governo] aprovou a criação da zona de livre comércio de Xangai, em julho, autoridades locais inicialmente a descreveram como uma benção para o setor de logística. Disseram que ela levaria a impostos menores sobre os produtos exportados a partir da zona – um acontecimento importante, mas longe de ser uma revolução.

Mas, desde então, as especulações sobre o que mais poderá estar incluído viraram uma bola de neve. O governo já sugeriu que ela será usada como um teste para reformas financeiras. Segundo assessores, estão sendo discutidas a desregulamentação das taxas de juros, uma taxa de câmbio conversível e a eliminação das restrições de investimentos a empresas estrangeiras.

"Deverá ser um negócio enorme para a China. Autoridades de Xangai pensaram inicialmente que seria uma iniciativa da cidade, mas já se transformou numa iniciativa nacional", diz Liu Ligang, economista da ANZ. "O premiê Li [Keqi-ang] assumiu o comando e quer usar a zona como um teste para acelerar a liberalização do setor de serviços e a conta de capital."

Essas medidas são parte do projeto de longo prazo da China, com que o governo tenta reduzir a dependência da economia dos investimentos, mirando setores mais inovadores. Mas é difícil vencer a arraigada oposição burocrática a essas reformas, e é arriscado implementá-las em âmbito nacional.

Daí a decisão de concentrar o esforço de reforma num lugar específico. Ao escolher a zona de livre comércio de Xangai como prova de fogo da mudança, Li segue a cartilha que a China adotou desde os anos de 80, quando o governo iniciou as reformas de livre mercado na cidade de Shenzhen, antes de disseminá-las pelo país.

A imprensa estatal vem dizendo que o governo lançará o projeto oficialmente no domingo, com o anúncio de 56 medidas. Muitas delas serão inicialmente formuladas de maneira geral, para serem aprofundadas nos próximos meses.

As expectativas de reforma são muitas para caberem num espaço físico pequeno. A nova zona de livre comércio englobará três áreas: o aeroporto de Pudong, o porto de Yangshan e a zona aduaneira de Waigaoqiao. Juntas, ocupam apenas 28 km2 e estão a uma hora de carro de Lujiazui, principal distrito financeiro de Xangai.

O jornal "South China Morning Post", de Hong Kong, informou esta semana que o governo também vai suspender os controles sobre a internet na zona de livre comércio, dando às pessoas acesso a sites bloqueados no resto do país, incluindo Facebook e Twitter. Não há moradores na zona, só prédios de escritórios, fábricas e hotéis. Ainda assim, a iniciativa é um forte símbolo de intenções reformistas.

Nos últimos dias as autoridades locais estiveram arrumando o local. Um grande portal de pedra com entalhe do nome da zona – "China (Shanghai) Pilot Free Trade Zone" – está sendo erguido.

Apostando que a iniciativa será um grande sucesso, especialmente para a economia de Xangai, investidores estão comprando ações de empresas locais. As da Shanghai Material Trading, de logística e da Shanghai International Port subiram 307% e 152% desde julho.

O mercado imobiliário também se aqueceu. O preço das moradias subiu de 20% a 30% em um mês junto aos portões de Waigaoqiao, segundo a Shanghai Yuexin Real Estate. "Acho isso uma loucura. Ninguém sabe exatamente qual é a situação da zona, e as pessoas nem estão dando uma olhada nas casas antes de comprá-las", disse Xi Xinlei, um corretor da imobiliária.

Li Ka-shing, o magnata de Hong Kong e o homem mais rico da Ásia, prevê que a zona de livre comércio ajudará Xanghai a "roubar" negócios de Hong Kong.

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