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China – Empréstimos à Venezuela pesam na carteira de banco estatal

Prudence Ho
Hong Kong


Enquanto a economia venezuelana desmorona devido aos preços baixos do petróleo e anos de políticas equivocadas, um banco estatal chinês fica cada vez mais atado a ela.

O Banco de Desenvolvimento da China já emprestou quase US$ 37 bilhões para a Venezuela desde 2008, ajudando a sustentar o regime de Hugo Chávez e o de seu sucessor, Nicolás Maduro, e se tornando um dos maiores credores do país. A Venezuela afirma que a China prometeu emprestar outros bilhões.

O plano do BDC era simples. Em troca de seus financiamentos generosos, a Venezuela enviaria milhões de barris de petróleo para a China anualmente. Desde meados da década de 2000, o banco concedeu dezenas de bilhões [de dólares] em empréstimos semelhantes para petrolíferas e governos de países produtores de petróleo, no intuito de garantir combustível para a pujante economia chinesa.

Na Venezuela, a estratégia teve problemas. Nos últimos meses, o BDC prolongou prazos de empréstimos e relaxou condições de pagamento, permitindo que o país envie menos petróleo que o acordado e que pague em bolívares, em vez de dólares, a um fundo binacional de desenvolvimento que financia projetos locais. Com outros investidores fugindo de uma inflação de três dígitos e agitações populares, a Venezuela está ficando cada vez mais dependente do BDC.

“Muitos ficam chocados quando a China emite grandes empréstimos para a Venezuela, considerando que a situação lá está cada vez mais precária, mas realmente parece que existe um compromisso contínuo”, diz Margaret Myers, diretora do programa para China e América Latina no Diálogo Inter-Americano, um centro de estudos sediado em Washington.

Em janeiro, o governo venezuelano informou que a China prometeu US$ 20 bilhões em novos investimentos em habitação e infraestrutura, principalmente via BDC. Nem o banco nem as autoridades do governo chinês confirmaram a transação. O BDC não respondeu a pedidos de comentário.
 

 

Outros investidores estão se mostrando pouco leais à Venezuela. O preço dos títulos de dez anos emitidos em dólar pelo governo despencou 60% desde julho e chegou a US$ 0,31 por dólar de valor de face em janeiro. Na quarta-feira, o papel era negociado a 35,15 centavos de dólar e um rendimento de 26,4% ao ano. (O rendimento sobe quando o preço cai e vice-versa.)

Em janeiro, a Moody’s Investors Service reduziu a classificação de crédito da Venezuela para Caa3, afirmando que “o risco de inadimplência havia crescido substancialmente”. A inflação anual atingiu 68,5% em 2014 e o banco central parou de divulgar os dados desde então, mas economistas dizem que ela já ultrapassou 100%. Em dois anos, o bolívar já perdeu 93% do seu valor no mercado paralelo. O BDC não compra títulos do governo da Venezuela.

Os ministérios das Finanças, das Relações Exteriores e da Informação da Venezuela não quiseram comentar.

Ainda assim, o BDC segue apostando na Venezuela. Em julho do ano passado, o presidente da instituição, Hu Huaibang, abriu um escritório em Caracas, dizendo que era “um novo começo”.

O banco é o quinto maior da China e um dos 15 maiores do mundo, tendo encerrado 2014 com ativos de 10,3 trilhões de yuans (US$ 1,7 trilhão), segundo a S&P Capital IQ. Seus empréstimos em moeda estrangeira totalizaram US$ 267 bilhões no fim de 2014, de acordo com o relatório anual da instituição. O banco não divulga empréstimos estrangeiros separados por setor, mas, só em 2009 e 2010, distribuiu US$ 65 bilhões em financiamentos para petrolíferas e governos de países produtores de petróleo como Venezuela, Brasil, Rússia, Turcomenistão e Equador, segundo o Brookings Institution.

“De meados de 2000 até o início desta década, a maioria dos empréstimos estrangeiros do BDC foi relacionado a recursos naturais”, diz Erica Downs, analista sênior da firma de consultoria e pesquisa Eurasia Group.

O banco chinês entrou na Venezuela em 2008, criando um fundo de infraestrutura de US$ 6 bilhões com o governo. Os beneficiários chineses incluíam o Citic Group, que construiu conjuntos de apartamentos em Barinas e Caracas, e a China Railway Engineering Corp., que ajudou a construir uma linha de trem de alta velocidade. No total, o banco emprestou US$ 14 bilhões a um fundo binacional.

Os empréstimos exigem que a estatal Petróleos de Venezuela SA, ou PDVSA, envie petróleo para a China, com os mais recentes embarques obrigatórios atingindo no mínimo 330 mil barris por dia. A Venezuela contribui com cerca de 4% a 5% das importações de petróleo da China.

Com a queda dos preços do petróleo, a China teve que aceitar carregamentos menores. Em outubro de 2014, o BDC concordou em eximir a Venezuela do volume mínimo de entrega para que o país pudesse vender para outros compradores.

Apesar da torrente de empréstimos, a importação de petróleo da Venezuela para a China caiu 11,4% em 2014, permanecendo estável até agora no ano, segundo dados da alfândega chinesa. A China importou uma média de 296 mil barris diários de petróleo da Venezuela em abril.

Por ser um banco estatal, o BDC dificilmente enfrentará uma crise se os empréstimos para a Venezuela não forem pagos. Mas os problemas lá parecem estar alterando seu modo de atuar.

Em abril, o governo chinês pediu ao BDC e outros bancos estatais para priorizarem as necessidades de financiamento domésticas. Ao mesmo tempo, Pequim está adotando uma abordagem mais multilateral nos empréstimos para desenvolvimento. A China liderou a formação do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, que começará a funcionar no fim deste ano. O banco já atraiu o interesse de mais de 40 países, inclusive do Brasil.

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