PEQUIM – O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, tem de equilibrar a dependência de seu país pelo petróleo iraniano com uma nascente parceria energética com a Arábia Saudita em sua primeira visita ao país do Golfo Pérsico, disse Paul Sullivan, um cientista político especializado em segurança do Oriente Médio da Universidade Georgetown, em Washington.
A visita do premiê chinês, a partir deste sábado, ocorre em meio a sinais de que sanções econômicas mais severas podem impedir o Irã, o segundo maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) depois da Arábia Saudita, de vender petróleo. Wen também vai visitar o Qatar e os Emirados Árabes Unidos (EAU), outros membros do cartel de produtores, durante um tour pelo Golfo Pérsico que termina no dia 19 de janeiro.
“A China parece bastante relutante em ficar no lado errado no caso do Irã, considerando as tensões existentes na região e a importância do Irã para o seu petróleo”, disse Sullivan.
Wen será o mais graduado líder chinês a visitar a Arábia Saudita desde o presidente Hu Jintao em 2009. Sua visita começará com a Saudi Arabian Oil e a China Petroleum & Chemical (Sinopec) assinando um acordo para uma proposta para construir uma refinaria na costa do Mar Vermelho. A Sinopec planeja ter uma participação de 37,5% na refinaria em Yanbu, que seria o primeiro investimento chinês em uma instalação petrolífera saudita.
A Europa e os Estados Unidos estão considerando sanções mais rígidas contra o Irã, para obrigar o governo a suspender seu programa nuclear. A União Europeia planeja decidir no dia 23 de janeiro se irá impor um embargo sobre o petróleo iraniano.
A China é a maior importadora de petróleo do Irã, respondendo por 22% das exportações do país em 2010, segundo dados do governo americano.
SANÇÕES
Embora a China tenha votado a favor de quatro rodadas de sanções das Nações Unidas contra o Irã, seus líderes têm criticado os esforços individuais para expandir as restrições impostas pelos Estados Unidos e a Europa. O vice-ministro das Relações Exteriores, Zhai Jun, declarou à imprensa esta semana que a China precisa de petróleo para o seu desenvolvimento e espera que suas importações não sejam afetadas.
Wen pode pedir à Arábia Saudita que use parte de sua capacidade ociosa de produção para manter os mercados abastecidos no caso de um embargo sobre o petróleo iraniano, disse Sullivan. “A China tem de caminhar por uma linha bastante estreita no Golfo e tem de trabalhar dentro de nuances muito complexas e um campo minado político e econômico na região”, acrescentou.
“Alguns países estão tentando obter a promessa de que a Arábia Saudita vai substituir o petróleo iraniano”, disse Olivier Jakob, diretor-gerente da empresa de consultoria Petromatrix. “Os sauditas vêm dizendo que não querem se intrometer no lado político da questão e vêm mantendo a linha de que irão fornecer o que mercado precisar”, acrescentou.
Na segunda-feira, o Gabinete saudita disse que sua política para a venda de petróleo é administrada “puramente sobre bases comerciais”, segundo a agência oficial de notícias.
Para a China e outros importadores de petróleo, a confiabilidade dos embarques da Arábia Saudita e de outros fornecedores do Golfo Pérsico se tornou uma preocupação desde que o Irã ameaçou no fim de dezembro bloquear o estratégico estreito de Hormuz, caso seja impedido de exportar o seu petróleo.
O estreito é um gargalo por onde passam um quinto de todo petróleo transportado no mundo, ou o equivalente a quase 17 milhões de barris por dia, segundo estimativa do governo americano.
O Japão teve uma recepção positiva quando pediu aos produtores do Golfo para aumentarem sua produção, afirmou o ministro das Relações Exteriores Koichi Gemba durante uma visita a Abu Dhabi – capital dos EAU –, na terça-feira. Nos primeiros 11 meses de 2011, 9% de todo o petróleo importado pelos japoneses saiu do Irã, segundo dados do Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão. A Arábia Saudita fornece quase um terço do petróleo importado por Tóquio.
O premiê chinês, que planeja fazer um discurso sobre a política energética da China em uma conferência em Abu Dhabi, vai “buscar garantias adicionais” dos embarques de petróleo do Golfo, disse Theodore Karasik, diretor de pesquisa do Instituto de Análises Militares do Oriente Próximo e Golfo, com sede em Dubai. “A Arábia Saudita vai fornecer petróleo para a China se o petróleo do Irã sair do mercado”, disse.