O Brasil é de longe o principal destino na América Latina dos crescentes investimentos e empréstimos chineses feitos desde a década passada, segundo relatório da Moody's Investors Service. De 2003 a 2016, a China direcionou à região US$ 110 bilhões em investimentos diretos, dos quais US$ 61 bilhões, ou 55%, tiveram a economia brasileira como destino. Já os empréstimos de instituições financeiras chinesas à América Latina somaram US$ 222 bilhões de 2005 a 2016, dos quais 42% foram abocanhados pelo Brasil, apontam números compilados pela agência de classificação de risco.
Para a Moody's, o investimento chinês na região vai crescer nos próximos anos, estimulado pela alta qualidade das matérias-primas, pelas necessidades de infraestrutura e pela demografia favorável. A entrada de recursos da China "oferece oportunidades de crescimento especialmente para países pequenos, mas também riscos, como dívida mais alta e balança comercial mais fraca", aponta a agência.
Na visão da Moody's, o investimento chinês traz diversificação de financiamento para os países latino-americanos, mas, no caso de economias grandes como a brasileira, os projetos da China não devem dar um impulso significativo ao crescimento. No âmbito local ou estadual, porém, os recursos aplicados podem estimular o crescimento, a depender da escala das operações, pondera a Moody's.
O investimento da China dá às companhias não financeiras da América Latina mais opções para venda de ativos, parcerias ou financiamentos, principalmente nos setores de commodities e de energia, de acordo com a agência. Há diversos fatores que tornam a região atraente para o dinheiro chinês, como as baixas barreiras ao investimento direto, os ativos baratos, especialmente no Brasil pós-recessão, os recursos naturais abundantes e uma classe média crescente. "Mas nós não prevemos um grande aumento nos gastos de capital das empresas chinesas ou dos investimentos 'greenfield' [em negócios novos] na América Latina."
O relatório destaca a preponderância do Brasil como principal destino do que a China investe na região, dado o tamanho do país. A economia brasileira ficou com mais de 50% dos US$ 110 bilhões investidos de 2003 a 2016 na América Latina. "Em anos recentes, coincidindo com a mais grave contração econômica em décadas, o governo brasileiro buscou ativamente investimentos chineses numa ampla gama de iniciativas de desenvolvimento em infraestrutura", observa a Moody's.
Em 2017, das 10 maiores aquisições na América Latina por empresas estrangeiras, nove foram no Brasil. Desse número, sete envolveram companhias chinesas, diz a agência, citando informações da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês). As operações ocorreram em setores como eletricidade, petróleo, agronegócio e transmissão de gás.
A Moody's nota que, embora os benefícios dos investimentos crescentes sejam "aparentes", também há riscos potenciais para os países. Um deles é que parte dos recursos investidos são acompanhados por empréstimos feitos pelos investidores. "Isso cria dívida", lembra a agência.
A América Latina também recebeu um volume significativo de empréstimos de instituições financeiras chinesas. De 2005 a 2016, foram US$ 222 bilhões de financiamentos para a região, dos quais o Brasil ficou com 42%. Do total de US$ 222 bilhões, US$ 140 bilhões foram direcionados para empresas estatais e outras instituições "quase governamentais", além de US$ 82 bilhões para governos. Os empréstimos foram mais significativos especialmente entre 2012 a 2016, quando atingiram US$ 155 bilhões. Nesse intervalo, a fatia brasileira do total foi ainda maior, chegando a 53%. A Venezuela ficou com 18%, o Equador, com 10%, o México, com 7% e a Argentina, com outros 7%.
Do ponto de vista setorial, metade dos financiamentos das instituições chinesas realizados entre 2005 e 2016 foi para o segmento de infraestrutura. Outros 34% se destinaram ao setor de energia, aponta o relatório.
"Os empréstimos chineses para governos e companhias estatais latino-americanos têm beneficiado especialmente os países com acesso limitado a financiamentos", diz, em nota, Marianna Waltz, diretora da Moody's para finanças corporativas na América Latina.
Ela ressalva, contudo, que a dependência de crédito "altamente discricionário" traz "elementos potencialmente adversos" para os perfis de crédito de alguns governos, como "maior nível de endividamento e balança comercial mais fraca, elevando o risco de refinanciamento".
A Moody's também trata do investimento da China no setor bancário no Brasil. Segundo a agência, o movimento reflete um "forte interesse" em estabelecer uma presença local para impulsionar o crescimento das empresas chinesas no país e aumentar o comércio entre as duas economias.