A China alertou nesta quarta-feira que um projeto de lei da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos que pede uma reação norte-americana mais dura ao tratamento dado por Pequim à sua minoria muçulmana uigur impactará a cooperação bilateral, aumentando as dúvidas a respeito de um acordo próximo para encerrar a guerra comercial entre os dois países.
As expectativas de um acordo rápido arrefeceram, já que na terça-feira o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que ele pode só sair no final de 2020.
A aprovação da Câmara à Lei Uigur de 2019, que ainda tem que ser aprovada no Senado de maioria republicana antes de ser enviada a Trump, revoltou Pequim e tensiona ainda mais um relacionamento já difícil.
Várias fontes a par da postura chinesa disseram à Reuters que o projeto de lei pode ameaçar o chamado acordo comercial da fase um, já repleto de desentendimentos e complicações.
Como uma nova rodada de tarifas norte-americanas a produtos chineses deve entrar em vigor em menos de duas semanas, a possibilidade de outra crise só aumenta.
“Vocês acham que, se a América adotar ações para prejudicar os interesses da China, nós não adotaremos nenhuma ação?”, reagiu a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Hua Chunying, aos repórteres quando indagada se o projeto de lei dos uigures afetará as negociações comerciais. “Acho que quaisquer palavras e gestos errados devem pagar o devido preço.”
Hua disse que a China não estabelecerá nenhum cronograma ou prazo para um acordo comercial e adotará contramedidas “decisivas” para defender seus interesses se o protecionismo e o assédio de Washington no comércio continuarem. Ela não detalhou quais seriam as medidas.
Uma autoridade chinesa, que não quis ser identificada, alertou que a implantação da nova rodada de tarifas norte-americanas em 15 de dezembro será recebida pela China com tarifas retaliatórias – um resultado que, segundo a autoridade, prejudicará seriamente as negociações em andamento.
Outro funcionário chinês, que tampouco quis ser identificado, disse que pode levar muito tempo para Washington e Pequim firmarem um pacto se não conseguirem encontrar uma maneira de fazê-lo enquanto “o ferro está quente”.
O projeto de lei dos uigures, que foi aprovado por 407 a 1 na Câmara controlada pelos democratas, exige que o presidente dos EUA repudie os abusos contra muçulmanos e peça o fechamento dos campos de detenção em massa de Xinjiang, região do oeste chinês.
Pequim classificou o projeto de lei como um ataque mal-intencionado contra a China, exigiu que os EUA não permitam que ele seja sancionado e disse que agirá para defender seus interesses se necessário.
Líder de Hong Kong alerta que lei dos EUA abalará confiança do comércio
A líder de Hong Kong, Carrie Lam, disse nesta terça-feira que a legislação norte-americana em apoio aos manifestantes pode abalar a confiança do comércio no polo financeiro ao anunciar uma quarta rodada de medidas de alívio para fortalecer a economia fragilizada da cidade.
Lam disse aos repórteres que a Lei de Direitos Humanos e Democracia de Hong Kong sancionada na semana passada foi “totalmente desnecessária” agora que a ex-colônia britânica, que enfrenta grandes protestos há cerca de seis meses, atravessa sua primeira recessão em uma década.
A lei exige que o Departamento de Estado dos Estados Unidos certifique ao menos anualmente que Hong Kong preserva autonomia suficiente para justificar termos comerciais favoráveis com Washington e ameaça sanções devido a violações de direitos humanos.
“Atualmente, o impacto é na confiança… porque as corporações se preocuparão com as ações que o governo dos EUA pode adotar no futuro depois de analisarem esta legislação”, disse Lam.
Ela não especificou quais medidas adicionais serão tomadas para impulsionar a atividade econômica, dizendo que os detalhes serão anunciados no curto prazo. O governo já ofereceu uma ajuda de cerca de 2,7 bilhões de dólares para apoiar a economia, particularmente nos setores de transporte, turismo e varejo.
Os tumultos prejudicaram o comércio varejista, que atingiu a pior marca já registrada em outubro, já que os protestos afugentaram os turistas e afetaram os gastos.
Outra notícia ruim para a economia veio na segunda-feira, quando a China proibiu navios e aeronaves de militares norte-americanos de visitarem Hong Kong – uma parada de descanso e recreação para a Sétima Frota dos EUA – em retaliação pela legislação.
Lam disse que as aprovações de tais visitas portuárias cabem ao Ministério das Relações Exteriores da China.
Há seis meses Hong Kong vem sendo abalada por tumultos às vezes violentos, o maior desafio à estabilidade chinesa desde a repressão sangrenta a manifestantes pró-democracia no interior e nos arredores da Praça da Paz Celestial de Pequim em 1989.
Entre as exigências dos manifestantes estão o sufrágio universal, uma investigação sobre a suposta brutalidade policial e o fim dos aparentes esforços chineses para minar as liberdades democráticas prometidas quando a cidade foi devolvida à China em 1997.
Lam renovou seus apelos pela paz, mas sua gestão tem sido incapaz de oferecer qualquer concessão ao movimento de protesto, apesar do triunfo deste em uma eleição recente.