Cláudia Trevisan
A China acusou ontem os Estados Unidos de protecionismo, em resposta às conclusões de investigação do Congresso segundo a qual as fabricantes de equipamentos de telecomunicações Huawei e ZTE representam uma ameaça à segurança americana e devem ser impedidas de fazer aquisições ou fusões no país.
Resultado de investigação de quase um ano do Comitê Permanente sobre Inteligência, o relatório divulgado anteontem também recomendou que o governo exclua as empresas de sua lista de fornecedores e encorajou o setor privado a fazer o mesmo.
"Protecionismo e intervenção antimercado não são uma escolha sábia de Washington", disse comentário veiculado pela agência oficial de notícias Xinhua.
"Essas práticas vão prejudicar as duas economias, na medida em que não apenas afetam as ambições de companhias chinesas que buscam ampliar suas operações no exterior, mas custam aos cidadãos dos EUA empregos e produtos baratos levados pelas companhias chinesas que investem no país", ressaltou o texto.
As duas empresas operam no Brasil, onde são grandes fornecedoras de equipamentos para operadoras de telefonia. A Huawei é uma das líderes do mercado e está no topo do ranking das maiores fabricantes mundiais de equipamentos de telecomunicações.
Antes dos Estados Unidos, a Austrália já havia citado questões de segurança nacional para vetar a participação da Huawei na construção de uma rede de banda larga em todo o país – um projeto de US$ 36 bilhões.
O comitê do Congresso concluiu que as duas empresas podem ser usadas como instrumentos para espionagem e sabotagem dentro dos EUA, em razão de seus vínculos com o governo chinês. "Considerando informações confidenciais e não confidenciais, não se pode confiar que Huawei e ZTE sejam livres de influência de um Estado estrangeiro e, portanto, representem uma ameaça de segurança aos Estados Unidos e aos nossos sistemas", ressaltou o relatório.
Dúvidas. Segunda maior fabricante de equipamentos de telecomunicações do mundo, a Huawei não é uma estatal, mas existem dúvidas sobre a natureza de suas relações com o partido, o governo e os militares. Seu fundador é Ren Zhengfei, um ex-integrante do Exército de Libertação Popular que criou a empresa em 1987 com um capital inicial de 21 mil yuans (US$ 3,33 mil ao câmbio de hoje).
A ZTE é uma estatal e ocupa o quinto lugar no ranking global das maiores fabricantes de equipamentos de telecomunicações.
Na opinião do governo chinês, a posição do Congresso americano reflete uma mentalidade da guerra fria e revela a intenção dos congressistas de conter investimentos chineses nos EUA. "É aconselhável que os políticos dos EUA abandonem sua retórica de 'ameaça chinesa' e adotem uma visão racional em relação às atividades de negócios das companhias chinesas, para criar um ambiente de mercado justo e livre de discriminação", ressaltou a Xinhua.