As relações entre Brasil e Venezuela entraram ontem numa área de grande turbulência. A chanceler Delcy Rodríguez acusou o governo de Michel Temer de apoiar um complô para impedir que o país assuma a presidência do Mercosul.
Foi uma reação da chefe da diplomacia do governo de Nicolás Maduro à proposta de adiamento da transferência do comando do bloco, discutida durante reunião, em Montevidéu, entre o chanceler brasileiro, José Serra, e o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez.
Em uma rede social Delcy Rodríguez, qualificando Serra como “chanceler de facto”, afirmou que a posição defendida pelo brasileiro “viola” princípios básicos das relações internacionais. A ministra venezuelana classificou de “insolentes e amorais” as declarações de Serra após a reunião, da qual também participou o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa.
“A presidência (do Mercosul) tem que ser fruto de uma unanimidade”, disse Serra, reconhecendo a falta de acordo na transferência da liderança do Mercosul em razão da situação interna da Venezuela. Ele defendeu que o bloco precisa de mais tempo para decidir se o país pode ou não assumir a condução do grupo no lugar do Uruguai. “O que pedimos foi mais tempo. Aguardar até agosto”, observou.
O Uruguai declarou sua forte oposição à proposta brasileira. O chanceler Nin Novoa não deu qualquer declaração durante a visita de Serra. “Não pensava em chegar a uma conclusão durante a visita”, limitou-se a dizer Serra, perguntado sobre a resposta dos uruguaios a seu pedido. Uma reunião de chanceleres pode acontecer no próximo dia 11, em Montevidéu.
O Mercosul é presidido pelo Uruguai desde o começo do ano. Pelo estatuto, este mês a condução da agenda do bloco deveria ser passada à Venezuela. Paraguai e Brasil se mostram claramente reativos a essa possibilidade. O presidente argentino, Mauricio Macri, em declaração reproduzida pela jornal La Nación, disse que a Argentina poderia assumir a presidência do bloco nos próximos meses no lugar da Venezuela.
Independência
Em Caracas, a comemoração dos 205 anos da independência da Venezuela se converteu ontem em um novo capítulo no enfrentamento entre Nicolás Maduro e a oposição, que promove um referendo revogatório para tirar o presidente do poder. Maduro aproveitou a data para defender o aumento do poderio das Forças Armadas no país e fomentar o clima de animosidade entre militares e o deputado Henry Ramos Allup, presidente da Assembleia Nacional, de maioria opositora.
“Não se meta com os soldados, não se meta com os sargentos, não se meta com os capitães. Meta-se comigo, que sou o comandante chefe desta Força Armada. Covarde!”, disparou Nicolás Maduro, num recado direto a Allup. Rompendo com a tradição, o presidente não assistiu a sessão especial que realizada no Legislativo para celebrar a independência.