Osama bin Laden não estava armado ao ser baleado na cabeça e no peito, durante a operação conduzida pelo comando Seal da Marinha americana no domingo, no Paquistão. Uma de suas mulheres, presente no mesmo cômodo do terceiro andar da casa, teria avançado sobre um soldado americano e tomado um tiro no joelho.
As retificações foram divulgadas ontem pela Casa Branca, com base em um novo relato do Departamento de Defesa. Na segunda-feira, autoridades americanas alegaram que Bin Laden estava armado, teria reagido e usado a mulher para se defender na troca de tiro. No pronunciamento de ontem, a Casa Branca evitou mencionar a questão do escudo humano – desmentida na véspera, anonimamente, por uma fonte de Washington. A nova versão indica que Bin Laden não teria tido chance de se entregar, mas não explicita que a ordem de Washington aos militares era a de executar o líder da Al-Qaeda.
Também corrige outros dados. No meio de um tiroteio, no primeiro andar, uma segunda mulher levou tiros e morreu.
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, insistiu ter havido "resistência" de Bin Laden, apesar de o saudita estar desarmado. "No quarto com Bin Laden, sua mulher avançou para o militar americano e levou um tiro na perna. Ela não foi morta. Então, Bin Laden foi alvejado e morreu. Ele não estava armado", disse Carney. "Havia preocupação com a resistência de Bin Laden à sua captura e, de fato, ele resistiu. Para resistir, ele não precisava de uma arma de fogo."
No momento da invasão do quarto onde estava Bin Laden, não houve ordem da Casa Branca para a execução do terrorista, segundo Carney.
Para Christopher Nelson, respeitado analista de política internacional americana, certamente havia um cálculo estratégico na escolha prévia da morte de Bin Laden. Uma vez preso, o terrorista continuaria a inspirar os extremistas islâmicos. Além disso, não era tido como "suspeito", mas como um comprovado assassino em massa.
"Bin Laden morto era melhor do que preso", afirmou Nelson. "Também temos de considerar que, em uma operação como essa, a hesitação do soldado americano poderia ter custado a vida do militar. A decisão de atirar tem de ser tomada em um milésimo de segundo", completou.
Ainda há contradições entre as versões da Casa Branca, do Pentágono e da CIA, a agência de inteligência dos EUA que comandou a operação, sobre o nível de informação obtido pelo presidente Barack Obama durante o desenrolar da missão.
Na segunda-feira, o assessor de Obama para Segurança Nacional, John Brennan, disse que a operação foi acompanhada em "tempo real" na Sala de Situação da Casa Branca, onde se reuniram o presidente e seus principais assessores.
Ontem, o diretor da CIA e futuro secretário de Defesa, Leon Panetta, declarou à rede de TV PBS que a comunicação entre o comando e as forças especiais foi suspensa durante parte do tempo da invasão à fortaleza de Bin Laden.
"Quando as equipes entraram na mansão, posso dizer que houve um período de cerca de 20 a 25 minutos em que não soubemos o que estava ocorrendo exatamente . Houve alguns momentos de grande tensão, enquanto esperávamos por informação", relatou Panetta. "Finalmente, o vice-almirante William McRaven (comandante da operação) voltou e disse que podia dizer a palavra "Gerônimo", o código de que tinham pego Bin Laden."
Segundo Nelson, a forma como foi organizada e executada a operação contra Bin Laden ainda trará "muita dor de cabeça" a Obama. Não só em possíveis atentados de militantes da Al-Qaeda e de outros grupos aliados, mas também porque a soberania do Paquistão foi violada.
No entanto, no cálculo dos EUA, informar Islamabad sobre detalhes da operação significaria elevar o risco de fracasso. Como insistiu Carney ontem, o sucesso da missão dependia do segredo.
Foto
A Casa Branca estuda se divulgará ou não uma foto do corpo de Bin Laden morto, debatendo-se entre o desejo de provar a morte do líder da Al-Qaeda e a reação à imagem, qualificada de "atroz"
MUDANÇA DE DISCURSO
Desarmado: Bin Laden não reagiu com disparos contra os soldados americanos. EUA, porém, afirmam que mesmo desarmado ele "resistiu" à invasão.
Escudo humano: Líder da Al-Qaeda não teria usado mulher, que estava no mesmo quarto que ele, como escudo humano. Ela teria sido baleada no joelho e sobrevivido.
Outra vítima: Mulher morta na troca de tiros não estava no mesmo cômodo que Bin Laden e não era casada com o líder jihadista.
Ao vivo: Cúpula do governo americano não acompanhou o auge da operação dos comandos. As comunicações entre Washington e os soldados teriam sido cortadas por 25 minuto.