Ludmilla Amaral
Em 2011, quando a sigla Bric foi criada pelo economista inglês Jim O´Neill para designar os emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China (mais tarde, a África do Sul acrescentaria o "S" ao termo), analistas previam que esses países avançariam em ritmo maior do que o restante do mundo e que, embora não formassem um bloco econômico, teriam força suficiente para impulsionar o crescimento global.
Exatos 15 anos depois, a realidade é bem diferente.
O Brasil, que chegou a ser um dos alvos preferenciais dos investidores estrangeiros, está em recessão – que pode ser a mais profunda em um século – e perdeu o selo de bom pagador das agências de classificação de risco. Segunda maior força financeira mundial, a China, cujo PIB chegou a acelerar mais do que dois dígitos, terá em 2016 o seu pior desempenho econômico em 26 anos.
Na Rússia, que está em guerra com a vizinha Ucrânia, o PIB encolheu 4% em 2015 e até a Índia, que estava em vias de tornar a queridinha do mercado internacional, enfrenta uma maré negativa, com o resultado econômico mais fraco em 5 anos.
Na semana passada, uma pesquisa realizada pelo FDI Markets, um serviço de dados do jornal britânico Financial Times, dimensionou o enfraquecimento dos emergentes. Segundo o levantamento, em 2015 empresas estrangeiras investiram US$ 452 bilhões em países em desenvolvimento, ante US$ 482 bilhões em 2014.
De acordo com o FDI Markets, 97 de 154 países classificados como mercados emergentes estão recebendo atualmente menos fluxo de capital internacional do que recebiam antes. Um outro estudo, desta vez realizado pelo FMI, identificou uma queda, desde 2011, de 25% no volume de recursos estrangeiros captados por emergentes, especialmente os que integram os Brics.
Afinal, por que acabou o encanto dos Brics? A principal razão para o declínio destes países está do outro lado do mundo. Depois de instigar a economia de diversas nações, inclusive a brasileira, a China enfrenta agora o que parece ser o começo de um processo de esgotamento.
Seu modelo, sustentado por um volume brutal de investimentos em outros países, chegou ao limite. "O governo chinês passou a priorizar o mercado interno e isso provocou efeitos negativos em muitas nações", diz Otto Nogami, professor do MBA do Insper. "Essa mudança repercute sobre uma economia como a do Brasil, dependente da exportação de commodities e que tem a China como principal destino de suas mercadorias."
Com o crescimento chinês menor do que o esperado, a queda da demanda por commodities como petróleo, minério de ferro, açúcar e soja provoca estragos principalmente entre outros países emergentes.
Além da questão chinesa, os Brics enfrentam seus demônios internos. A Rússia é um caso clássico. Estima-se que o conflito com a Ucrânia gere perdas anuais de pelo menos US 85 bilhões, decorrentes de sanções impostas pelos países do Ocidente, além do receio dos investidores de despejar recursos em uma zona de conflito.
No Brasil, a instabilidade política e os sucessivos erros na condução da economia levaram o País a um desânimo generalizado. Na semana passada, um levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) confirmou a falta de perspectivas.
De acordo com a pesquisa, 54% dos comerciantes entrevistados temem que a recessão se prolongue. Na economia, a falta de confiança é um dos principais inibidores do crescimento. Enquanto os empresários e a sociedade não tornarem a acreditar no País, a crise não dará trégua.