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Brexit – Britânicos decidem deixar a União Europeia

Em disputa acirrada, os britânicos decidiram nesta quinta-feira (23/06) pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE), após mais de 46 milhões de eleitores terem ido às urnas no chamado referendo sobre o Brexit. Do total, 51,8% votaram pela saída do país do grupo e 48,2%, pela permanência – 17.410.742 pelo Brexit, 16.141.241 contra.

As urnas foram abertas às 7h (horário local), e os 382 locais de votação foram fechados às 22h (horário local). Estima-se que mais de 46 milhões de britânicos tenham dado seu voto nesta quinta-feira, dia que ficou marcado como a primeira vez em que um país membro decide deixar a União Europeia. Esta foi a maior participação percentual popular num plebiscito nacional desde 1992.

Ainda antes do resultado oficial, o líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), Neil Farage, celebrou a vitória do Brexit. "Lutamos contra as multinacionais, contra os grande bancos, contra a grande política, contra a mentira, a corrupção. E hoje vencerá a honestidade, a decência e a crença na nação", disse.

"Que o 23 de junho entre para a nossa história como o nosso dia da independência. Vamos nos livrar da bandeira [da UE], do hino, de Bruxelas e de tudo que deu errado. Espero que essa vitória quebre este projeto fracassado e nos leve a uma Europa de países soberanos negociando entre si", concluiu Farage.

Farage aproveitou para pedir a renúncia do premiê David Cameron. "Acho que precisamos de um primeiro-ministro do lado do Brexit", opinou, sugerindo alguns nomes. "Essa competição poderia ser entre Michael Gove, Boris Johnson e Liam Fox."

Cameron anuncia renúncia

Na manhã desta sexta-feira (24/06), o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, anunciou na manhã que seu Partido Trabalhista terá outro primeiro-ministro em outubro. O anúncio desencadeou uma corrida de lideranças dentro do partido.

"Eu não acho que seria certo eu ser o capitão que levará nosso país ao seu próximo destino", disse Cameron a repórteres em Downing Street. Ele disse que já informou a rainha Elizabeth 2ª sobre suas intenções.

A decisão foi tomada a despeito de uma carta de apoio a Cameron assinada por mais de 80 aliados do partido, publicada antes de o resultado do referendo ser conhecido. A carta dizia que o premiê tinha "o dever" de permanecer no cargo independentemente do resultado. Vários eurocéticos conservadores, contudo, não assinaram a carta.

Resultado deve gerar crises políticas internas no Reino Unido

A votação foi favorável pela permanência na UE na Irlanda do Norte e na Escócia, onde 100% dos distritos eleitorais votaram contra o Brexit. Por outro lado, País de Gales e o território inglês decidiu pela saída. Na Inglaterra, apenas no sudeste e em Londres predominaram os votos favoráveis pela permanência. Ou seja, áreas rurais e industriais decidiram pelo Brexit.

O resultado deve gerar abalos políticos internos no Reino Unido. O partido irlandês Sinn Fein se manifestou pedindo por uma votação pela reunificação irlandesa. O presidente da legenda, Gerry Adams, afirmou que se o Reino Unido deixar a UE o governo britânico "perdeu qualquer mandato" para representar os interesses das pessoas da Irlanda do Norte.

Além disso, a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, afirmou que a Escócia "vê seu futuro na UE"."A Escócia, claramente e decisivamente, votou pela permanência na União Europeia com 62% contra 38%", disse Sturgeon, que, antes do referendo, já tinha mencionado que o resultado poderia antecipar a independência escocesa.

As primeiras consequências já foram sentidas nas bolsa de valores. Durante a contagem dos votos, a libra esterlina Libra esterlina sofre maior queda desde 1985sofreu sua maior desvalorização# desde 1985.

O referendo foi convocado pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, com intuito de por fim ao debate de décadas sobre a posição do Reino Unido na UE. A campanha, que dividiu lideranças políticas locais e também a população, como se viu no resultado acirrado, focou-se em aspectos econômicos e migratórios e ficou marcada pelo assassinato da deputada Jo Cox, contrária ao Brexit.

Brexit pode ter vantagens para a UE

Perto do referendo que deve decidir o futuro do Reino Unido na União Europeia (UE), marcado para esta quinta-feira (22/06), os nervos estão à flor da pele. Apesar de muitos temerem as consequências de um Brexit, nos bastidores em Bruxelas, eurodeputados, funcionários das instituições do bloco e cientistas políticos afirmam que uma UE sem o Reino Unido é possível, e que isso traria até mesmo vantagens. Confira algumas delas:

Menos obstáculos

O Reino Unido ajudou a configurar a UE nos últimos 40 anos e impulsionou uma série de mudanças, afirma o eurodeputado Alexander Graf Lambsdorff. Sem os britânicos, que constantemente dizem não a projetos de lei da Comissão Europeia, algumas decisões se tornariam mais fáceis, acredita outro funcionário da UE. Sem os obstáculos britânicos no Conselho Europeu, muitos outros Estados-membros não poderiam mais se esconder atrás do grande Reino Unido. Eles precisariam tomar posição.

O especialista em UE Janis Emmanouilidis questiona se decisões no bloco realmente ficariam mais fáceis, mas fato é que muitas derrogações e o desconto nas contribuições dos países-membros concedido aos muitas vezes teimosos britânicos seriam abolidos.

Mau exemplo

A França vem se engajando para excluir os britânicos do bloco europeu o mais rápido possível, se eles realmente quiserem sair. Na opinião de diplomatas franceses, é preciso que a saída realmente doa, para que outros Estados eurocéticos não sigam o exemplo britânico. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, também não demonstra clemência perante o desertor.

"Precisamos combater as forças centrífugas e mostrar que realmente vamos sofrer as consequências de um Brexit", afirma a deputada francesa Elisabeth Guigou. Populistas de direita – como Marine Le Pen, na França, e Geert Wilders, na Holanda –, que querem dissolver a UE, devem ser dissuadidos, diz a parlamentar.

Exército europeu

O Reino Unido bombardeou todas as tentativas até o momento de criar um Exército da UE independente e missões militares sem a participação da Otan. Estrategistas militares poderiam se alegrar com o fim dos obstáculos impostos pelos britânicos. Também os países que defendem mais protecionismo, a intervenção estatal em questões econômicas e uma política orçamentária menos rígida poderiam ficar felizes com o fato de Londres não se meter mais nesses assuntos.

Mais empregos

Ao menos no longo prazo, cidadãos britânicos deixariam seus postos de trabalho na Comissão Europeia, no Parlamento Europeu, no Tribunal de Justiça da União Europeia, no Tribunal de Contas Europeu, no Comitê Econômico e Social Europeu e em muitas outras instituições. Isso significaria milhares de vagas.

O Reino Unido tem hoje menos funcionários em Bruxelas do que a Grécia, país bem menor, mas um número relativamente alto de diretores e executivos. A troca de pessoal, no entanto, levaria muitos anos, pois os contratos de trabalho não seriam encerrados automaticamente com a saída do Reino Unido da UE.

Mais francês

Há 15 anos, o francês ainda era a língua que mais se ouvia nos corredores das instituições europeias. Um comissário da UE que não falasse francês fluentemente era algo impensável. Com a adesão dos Estados do Leste Europeu, o cenário mudou. De repente, o inglês se tornou o principal idioma da UE. O alemão também perdeu importância.

Se o maior país de língua inglesa sair do bloco, pode ser que o francês volte a ganhar espaço. Institutos de língua francesa e especialistas em estudos culturais aguardam tal hipótese com ansiedade. No entanto, na prática nada mudaria no trabalho dos intérpretes da UE. O inglês continuaria sendo a língua oficial do bloco, porque a Irlanda, além do gaélico irlandês, e Malta, além do maltês, adotam o inglês como língua nacional.

Menos irritação

Os eurodeputados britânicos contrários à UE desapareceriam do Parlamento Europeu. Para europeus convictos, os devaneios de alguns conservadores britânicos e os ataques do Partido da Independência do Reino Unido (Ukip) foram particularmente irritantes. O líder da legenda, Nigel Farage, é um bom orador em termos técnicos. "Mas não vamos sentir falta das baboseiras que ele inventou", disse um deputado social-democrata, em anonimato.
 

Merkel pede prudência quanto a Brexit e quer manter parceria

A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, lamentou nesta sexta-feira (24/06) o resultado do referendo sobre a retirada do Reino Unido da União Europeia, e pediu aos países-membros calma e prudência ao analisar a situação, a fim de evitarem decisões que causem mais divisão.

"O dia de hoje é uma cesura para a Europa. É uma cesura para o processo europeu de união", ressaltou Merkel, que foi uma das principais defensoras da unidade do bloco e contra o Brexit.
 

Ela lembrou que o objetivo da criação do bloco era promover a paz, e esse ideal permanecerá no futuro. "Não devemos esquecer nunca que a ideia de uma União Europeia foi uma ideia de paz.". Ela atribui à Alemanha uma responsabilidade especial para o êxito da UE. "Somente juntos poderemos continuar sustentando nossos valores de liberdade e de Estado de direito no mundo."

O Reino Unido permanece sendo um membro do bloco, enquanto as negociações sobre a saída estiverem em andamento, e que ambos os lados têm deveres a cumprir, frisou a chefe de governo.

Merkel anunciou também uma reunião de emergência com os presidentes do Conselho Europeu, Donald Tusk, e da França, François Hollande, além do primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, marcada para a próxima segunda-feira em Berlim. O encontro visa tratar sobre os próximos passos em relação à saída britânica.

"Nosso objetivo dever ser alcançar, no futuro, uma relação próxima e de parceria com o Reino Unido. Apesar do resultado, a Europa é forte suficiente para encontrar as respostas corretas", assegurou a política democrata cristã.

 

 

 

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