Dilma diz a sueco que compra de caças ficou para 2012
Declaração à imprensa da Presidenta da República, Dilma Rousseff, em conjunto com o primeiro-ministro da Suécia, Fredrik Reinfeldt
Palácio do Planalto, 17 de maio de 2011
Excelentíssimo senhor Fredrik Reinfeldt, primeiro-ministro do Reino da Suécia,
Embaixador Antonio Patriota, ministro das Relações Exteriores, por intermédio de quem cumprimento as senhoras e os senhores integrantes da delegação da Suécia e do Brasil,
Senhoras e senhores jornalistas,
Senhoras e senhores,
Quem nos honra hoje em sua primeira visita a um país latino-americano, como chefe de Governo da Suécia, é o primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt. Sua presença entre nós, acompanhado de expressiva delegação empresarial, reflete a amizade e o entendimento que animam as relações entre os nossos países. Expressa, ainda, a vontade recíproca de estreitar relações e a cooperação bilateral nos mais diversos campos.
Também quero registrar, para os senhores, a presença, no Brasil, da rainha Sílvia. Sua Majestade, com quem me encontrarei amanhã, representa um elo permanente entre os nossos países, e vem a Brasília participar de um seminário no Congresso Nacional sobre experiências legislativas contra castigos corporais de crianças e adolescentes.
Na reunião de hoje eu discuti várias coisas com o Primeiro-Ministro. Por exemplo, a necessidade de promover iniciativas no âmbito de nossa parceria estratégica, tanto nas áreas de bioenergia, meio ambiente, como nas áreas de inovação e educação, entre outras.
A Suécia é tradicional e importante investidora no Brasil. Mais de 200 empresas suecas estão aqui instaladas, criando mais de 50 mil empregos, com faturamento em torno de US$ 23 bilhões. Nosso comércio é próspero e triplicou entre 2003 e 2008. Apesar dos efeitos negativos da crise, a cifra dos primeiros meses deste ano indica que poderemos ultrapassar os US$ 2 bilhões registrados em 2010.
Indiquei ao primeiro-ministro Reinfeldt o desejo do Brasil de expandir e tornar mais equilibrado o nosso intercâmbio, ampliando e diversificando as exportações brasileiras e sua composição com bens e serviços de maior valor agregado.
Tenho certeza de que o primeiro encontro do Conselho Empresarial Brasil-Suécia, realizado hoje pela manhã, e o Seminário Empresarial na Fiesp, do qual o senhor Primeiro-Ministro participará amanhã, vão permitir às empresas de seu país perceberem a transformação que estamos realizando em várias áreas e, sobretudo, em matéria de infraestrutura, no Brasil.
O Programa de Aceleração do Crescimento, as Olimpíadas e a Copa são oportunidades excelentes de ampliação de investimentos. Assim como a Suécia fez ao longo do século XX, o Brasil quer se desenvolver de forma competitiva, inovadora, sustentável, com ênfase na promoção do bem-estar social do seu povo.
Na área tecnológica, o Primeiro-Ministro e eu concordamos que nossa cooperação já começa a produzir resultados concretos. O projeto conjunto entre a Vale Soluções com [em] Energia e a Scania para adaptação, no Brasil, de motores de grande porte, é um exemplo disso.
Saudamos, igualmente, a iniciativa de estabelecimento em São Bernardo do Campo do Centro Brasil-Suécia de Pesquisa e Inovação, que contribuirá para o desenvolvimento do setor aeroespacial dos nossos países.
Nos últimos anos, a ABDI e sua contraparte sueca, a Vinnova, vêm buscando identificar áreas prioritárias de cooperação. Fruto desse esforço, pequenas e médias empresas já dão os primeiros passos como fornecedores de produtos de alta tecnologia na Suécia.
Sei que o desenvolvimento socioeconômico e tecnológico está relacionado a uma política efetiva de formação e capacitação profissional. Por isso estamos empenhados no programa de ensino no exterior, que fornecerá, nos próximos quatro anos, 75 mil bolsas financiadas pelo governo, para que os jovens brasileiros possam estudar nas melhores universidades, nas áreas de ciências exatas e médicas. Por isso eu saúdo, com muito orgulho, a nossa expectativa de que parte desses estudantes possa ser aproveitada em instituições de ensino suecas.
Coincidimos também sobre o caráter, cada vez mais promissor, no setor de biocombustíveis. O Brasil e a Suécia são países comprometidos com energias renováveis, e estamos ampliando nosso entendimento no aspecto comercial.
Os biocombustíveis oferecem, ainda, importante campo para nossos esforços de cooperação trilateral. Concordamos sobre a necessidade de dar início, em breve, ao projeto-piloto de produção do etanol na Tanzânia.
Além dos aspectos bilaterais tratei, com o primeiro-ministro Reinfeldt, temas de grande relevo no âmbito multilateral: a questão das instituições de governança global, como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, de forma a conferir-lhes maior eficiência e legitimidade.
Informei ao Primeiro-Ministro a posição do Brasil sobre os conflitos no Oriente Médio e no Norte da África, ressaltando nossa preocupação com o bem-estar das populações civis em todos os países da região.
O Brasil espera que a comunidade internacional ajude os países da região por meio do diálogo, da negociação, com estrito respeito à soberania nacional, às liberdades civis e aos direitos humanos. E sendo necessário observar estritamente o mandato da ONU.
Destaquei ainda que não se pode postergar uma solução negociada em todos os rincões do mundo. Como membros da coalizão da nova agenda, Suécia e Brasil, defendem que o desarmamento passa não apenas pela redução dos arsenais, mas também por uma revisão abrangente do papel das armas nucleares. E, sobretudo, conduzindo a eliminação dos armamentos atômicos.
Atuamos de forma coordenada na luta contra os desafios da mudança do clima. A Suécia foi um dos primeiros países a aceitar a meta de 30% de redução de suas emissões até 2020. Tive, pelo Primeiro-Ministro, conhecimento de que internamente a Suécia assume 40% de redução das emissões, e com isso me congratulo de forma toda especial.
Estamos cientes de que… o Brasil está ciente de que somente a ação multilateral, guiada pelos princípios consagrados no Protocolo de Kyoto, proporcionará as bases necessárias para a redução das emissões, adaptação dos efeitos da mudança do clima, e promoção do desenvolvimento sustentável.
Obtive do Primeiro-Ministro reiteradas manifestações de apoio e engajamento da Suécia nos trabalhos preparatórios da Conferência da Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável Rio + 20, que sediaremos no Rio de Janeiro, em 2012.
Apresentei, por fim, ao Primeiro-Ministro as razões que me levaram a apresentar a candidatura do dr. José Graziano da Silva para o posto de diretor-geral da FAO, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Tenho convicção de que o candidato brasileiro reúne as mais sólidas credenciais para assumir esse importante cargo.
Quero terminar saudando mais uma vez a amizade entre o Brasil e a Suécia, celebrada nesta visita, e compartilhando com todos a esperança de que esses laços de fraternidade continuem se aprofundando, em benefício da prosperidade e da paz de nossos povos e de todo o mundo.
Muito obrigada.
Dilma Rousseff