Giovanni Lorenzon
A 9ª economia mundial tem uma presença bastante tímida na 7ª (maior ainda na mão inversa), mas por ter entrado tardiamente no capitalismo, após a era Soviética, e por dispor de vastos recursos naturais e projetos de desenvolvimento em grande escala, é natural que o país suba rapidamente no ranking e suas empresas se movimentem mundo afora.
De acordo com Banco Central, que divulga sistematicamente apenas os primeiros 41 países de origem dos Investimentos Diretos (IED), em 2012 a Rússia não figura nessa lista. Ou seja, dos cerca de US$ 65,3 bilhões que ingressaram no país o ano passado, o capital russo deve ter sido diluído em pequenas quantias cuja divulgação é desprezada pela autoridade monetária brasileira.
Sabe-se que ao menos foram investidos US$ 280 milhões pela TNK-BP – recentemente comprada pela gigante estatal do petróleo Rosfnet – sócia da brasileira HRT no projeto de exploração na Bacia do Solimões (Amazonas). E, por enquanto, é com essa empresa que a presença do parceiro crescerá no País, além das esperanças depositadas com a entrada da Gazprom no mercado brasileiro (leia box abaixo).
Em recente visita, o diretor-executivo da companhia, Alex Dodds, comentou que o montante inicialmente previsto é de US$ 1 bilhão, o que corresponde a 45% de participação nos 21 blocos exploratórios da HRT naquela região amazônica. Técnicos vindos de Moscou têm colaborado nos trabalhos de abertura de novos poços, dada a experiência dos russos na exploração on-shore, enquanto o Brasil domina a exploração off-shore.
Fora esse investimento, os demais se contam nos dedos de uma mão. A Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Rússia contabiliza apenas mais três realizados nos últimos anos: da Mechel, no setor metalúrgico; da Severstal, na exploração de minério de ferro; e do Grupo Sodrugestvo em sociedade com uma cooperativa agrícola brasileira.
Havia a perspectiva de abertura da Metaprocess abrir uma fábrica de fertilizantes nitrogenados no Mato Grosso do Sul, ao custo de US$ 1 bilhão. O anúncio chegou a ser feito oficialmente pelo governo do estado, mas há mais de três anos o projeto está parado. A Voz da Rússia tentou obter mais informações, mas a assessoria do governo não retornou.
A Mechel, liderada por Igor Zuzin, principal acionista, está no Pará desde 2011 com participação de 75% nas ações da Cosipar, metalúrgica que estava à beira da falência. Consultada, a empresa não informou o montante de recursos alocados pela parceira russa, mas segundo especialistas pode ter chegado a US$ 250 milhões.
No caso do projeto de minério de ferro da Severstal, em uma mina no Amapá, sua presença é minoritária na sociedade com a brasileira SPG Mineração. Foram desembolsados US$ 49 milhões em 2010 dando direito a 25% das ações.
Por último, o Grupo Sodrugestvo sacou US$ 90 milhões para deter 51% da joint venture com a Cooperativa dos Agricultores da Região de Orlândia (CAROL), no estado de São Paulo. A CAROL Sodru, como foi rebatizada, tem como meta processar até 3 milhões de toneladas de soja até 2015.
Mas tendo em vista o estreitamento das relações dos dois parceiros no G-20 (grupo das 20 nações mais ricas) e no BRICS (grupo dos países emergentes composto também por Índia, China e África do Sul) e o maior conhecimento da economia brasileira, deverá haver uma boa diversificação do portfólio de IED russo no Brasil.
O presidente da Câmara Brasil-Rússia, Antonio Carlos Rosset, acredita na diversificação de empresas de outros setores, e inclusive menor concentração de interesses por parte de grandes grupos, como acontece hoje.
A mesma esperança demonstrada por Serguei Vassiliev, vice-presidente do maior banco de investimentos da Rússia, o Vneshekonombank, em entrevista ao correspondente da Voz da Rússia em Brasília, Alexander Krasnov, às vésperas da visita da presidente Dilma Rousseff a Moscou. Visita agora retribuída pelo primeiro-ministro Medvedev.
Enquanto a instituição russa espera o comércio e o intercâmbio de investimentos ganharem musculatura para montar uma sucursal no Brasil, o Banco do Brasil recém anunciou a abertura de um escritório em Moscou ainda no segundo semestre deste ano, assim que sair o aval da autoridade monetária russa.
Mas não deve ser problema, inclusive porque as negociações estão avançadas e até se prevê a abertura de uma agência "se a coisa andar bem", informou Paulo Rogério Caffarelli, vice-presidente de negócios internacionais do BB.
Além de estar de olho no aumento da corrente de comércio entre os dois países – foi de US$ 5,9 bilhões em 2012, sendo US$ 3,1 bilhões em exportações brasileiras – o executivo da instituição estatal diz querer atender a "clientelização de empresas russas que porventura se instalem no Brasil".
"É uma via de mão dupla", completa.
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Gazprom à espera de oportunidades
A gigante Gazprom está há um ano com um escritório de representação no Rio de Janeiro e, desde então, prospecta várias possibilidades de entrar definitivamente na economia brasileira.
"Dentro de nossa expertise, estamos analisando todas as possibilidades técnicas e comerciais, bem como conversando com as autoridades e a iniciativa privada", informou com o diretor Shakarbek Osmonov.
Com exclusividade à Voz da Rússia, o executivo da estatal no Brasil vê grande potencial na exploração de gás, tanto em terra quanto na futura exploração das reservas do pré-sal.
"O Brasil importa (da Bolívia) mais da metade do gás consumido, mas há uma demanda reprimida diante do tamanho da população e dos grandes consumidores o que trava o desenvolvimento de alguns setores", afirma Osmonov, citando a siderurgia, a petroquímica e os setores de alumínio e fertilizantes.
A tecnologia da Gazprom também pode ser estendida à prestação de serviços. O diretor da empresa argumenta que o centro de pesquisas na Rússia pode trazer ao País soluções de emprego do gás em áreas pouco ou quase nada desenvolvidas, como no transporte público.
Numa terceira corrente projetada, a Gazprom também quer convencer o empresariado brasileiro a importar gás liquefeito através de navios. "Se a Argentina compra nosso gás, por que não o Brasil também?"