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“Brasil em desmanche”, alerta general ex-comandante do Estado-Maior do Exército


Luiz Eduardo Rocha Paiva
General-de-Brigada R1, ex-comandante e professor emérito
da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército


Uma causa longínqua, mas decisiva, do desmanche do Brasil é o seu sistema de ensino deficiente na transmissão de conhecimentos, no desenvolvimento da cultura, na formação cívica do cidadão, na valorização da História e das tradições, o que enfraquece o patriotismo, e na conscientização de princípios morais e éticos, fatores de fortalecimento da sociedade.

Essas deficiências facilitaram a implantação e expansão no País da crise de valores, nos anos 1960-1970, que contaminou a instituição da família globalmente e abalou sociedades imaturas como a brasileira. Tal cenário foi explorado pela esquerda socialista, a partir dos anos 1960, permitindo-lhe o progressivo domínio do sistema de ensino brasileiro.

Os partidos e movimentos dessa ideologia acabaram por dominar, também, o meio artístico e parte da mídia. Com os formadores de opinião nas mãos, promoveram a satanização da maioria conservadora, falsamente acusada de radical, regressista e avessa a anseios da população carente.

Na verdade, “o conservadorismo não é contrário às mudanças, como se costuma supor, mas entende o progresso útil como proveniente do saber anterior e acumulado e, portanto, plantado nas virtudes e nos valores do passado” (Rohmann, Chris, O Livro das Ideias, Rio de Janeiro, Editora Campus, 2000, pág. 79).

A democracia não se sustenta em nações sem consciência cívica, Justiça legítima e eficaz, onde o Estado não provê as necessidades básicas à população e é gerido por lideranças desacreditadas.

A esquerda socialista estava no poder desde 1994, primeiro a fabianista e depois a marxista, em parceria com lideranças patrimonialistas. Ambas são responsáveis por desacreditar a nascente democracia brasileira e afundar o País no mar de lama que sufoca a Nação.

Com sua ultrapassada visão de Estado, governo e sociedade, os socialistas ditaram rumos desastrosos na busca do Estado de bem-estar social, num país que não alcançou o nível de riqueza capaz de sustentá-lo e mantê-lo em desenvolvimento. Imagine se tomassem o poder nos anos 1960.

A crise brasileira está no limite do suportável. A continuar o ritmo de deterioração política, econômica, moral e social, a tendência será o advento de rebeliões generalizadas, comprometendo a unidade política do País.

Esse contexto é o resultado de mais de uma década de danosas políticas populistas eleitoreiras, de gestão econômica irresponsável e insustentável e da estratégia de corrupção para perpetuar o PT no poder.

O presidente da República e o PMDB foram parceiros da liderança petista e por isso também são responsabilizados pela crise nacional. Assim, embora o impeachment de Dilma Rousseff fosse o melhor para o País, e o processo tenha sido legal, era possível antever as dificuldades para o sucessor superar os óbices e recolocar o Brasil nos eixos.

Hoje, o Estado não cumpre o papel que lhe delega a Nação de garantir sua segurança, desenvolvimento e bem-estar. Na segurança pública a situação é de pré-anomia, pois o Estado não demonstra autoridade nem capacidade de controlar todo o território nacional, tampouco de exercer o comando e a disciplina sobre órgãos de segurança da população.

A demora em controlar as revoltas em presídios das Regiões Norte e Nordeste e o motim da PM do Espírito Santo revelam leniência, indecisão e falta de vontade ou autoridade dos governos federal e estaduais.

A mistura dessas fraquezas com o não atendimento das necessidades básicas da população é um estopim para a disseminação de revoltas capazes de provocar o caos político-social e comprometer a segurança nacional.

A efetiva reabilitação do Brasil, em todos os setores afetados, demandará mais de uma década, mas o ponto de partida e os alicerces da recuperação estão na economia. Será fundamental haver evidências seguras de reabilitação, nos próximos meses, para as tensões se amenizarem.

Com isso o governo terá fôlego para encaminhar as soluções para os problemas dos setores político e social. É justo reconhecer que o governo busca implementar medidas necessárias à recuperação econômica, mas precisa convencer a sociedade a aceitar sacrifícios.

Ela concordaria em arcar com um pesado ônus para ajudar o Brasil a sair do abismo desde que o andar de cima apertasse, e muito, o próprio cinto. Porém a liderança nacional, nos três Poderes da União, não entende que o exemplo vem de cima e é a base moral da autoridade.

Nos altos escalões do serviço público, da União e dos Estados, existem megassalários turbinados por benesses complementares, cuja legalidade sem legitimidade afronta a justiça. A socialização equilibrada desse custo é a única forma de legitimar sacrifícios impostos a uma sociedade sem reservas para cortar.

A deterioração da economia nos próximos meses geraria cenários de conflitos, pois as tensões sociais se agravariam, escalando para revoltas em diversas regiões e ameaçando os Poderes constitucionais e a unidade nacional.

O Executivo sem a confiança da Nação, leniente, tímido e sem força política, ao lado de um Legislativo desacreditado e descomprometido e de um Judiciário dividido, terá sérias dificuldades para pacificar o País com base no arcabouço legal vigente.

Para aquilatar o nível de violência desses conflitos basta lembrar que a unidade nacional é cláusula pétrea para as Forças Armadas. A Nação precisa entender que o poder da esquerda socialista, ideologia liberticida e fracassada, e da nossa liderança política fisiológica é fator de atraso e falência moral.

Elas afundaram o Brasil, promoveram a quebra de valores morais e do princípio da autoridade, bases da paz social, incentivaram a indisciplina no serviço público e fraturaram a coesão nacional.

Como deter o desmanche do País, dentro das normas legais, com a Nação sujeita à forte influência socialista e sob o poder de lideranças fisiológicas tão difíceis de expelir?
 

Luiz Eduardo Rocha Paiva

O General-de-brigada Luiz Eduardo Rocha Paiva (Exército Brasileiro R1) possui Doutorado em Aplicações, Planejamento e Estudos Militares na Escola de Comando e Estado–Maior do Exército (ECEME), Mestrado em Aplicações Militares na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e Pós Graduação Lato Sensu em Política, Estratégia e Alta Administração Militar – Especialização, com ênfase em Estratégia, na ECEME e Pós-Graduação Lato Sensu MBA Executivo do Exército Brasileiro – Especialização, na FGV – RJ – 2000.

Foi instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras, da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Atuou como Observador Militar das Nações Unidas em El Salvador e Comandou o 5º Batalhão de Infantaria Leve (Regimento Itororó) em Lorena – SP.

Como oficial-general foi Chefe da Assessoria Especial do Gabinete do Comandante do Exército, encarregada de implantar o Programa Excelência Gerencial do Exército, comandou a Escola de Comando e Estado-Maior e foi Secretário-Geral do Exército. Recebeu diversas condecorações nacionais e estrangeiras em 38 anos de serviço ativo.

É pesquisador pela Fundação Marechal Trompowski, realizando trabalhos no Centro de Estudos Estratégicos do Exército.

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