Visão do Correio
Os esforços de Brasília e Pequim têm feito avançar as relações políticas e econômicas entre os respectivos países a ponto de a perspectiva para o comércio bilateral este ano exceder os US$ 100 bilhões. Além de superar os Estados Unidos como o principal parceiro comercial do Brasil, com uma troca que em 2011 alcançou US$ 77,1 bilhões (superavit de US$ 11,5 bilhões a nosso favor), a China se tornou o principal investidor estrangeiro na maior economia latino-americana. Somente em 2010, o investimento chinês no Brasil passou de US$ 30 bilhões, abrangendo diversos setores, com especial ênfase nas áreas de petróleo, minério de ferro e soja.
É verdade que boa parte do empresariado brasileiro está sofrendo as consequências da incapacidade de competir com os preços baixos dos produtos importados da China. Em contrapartida, outra parte comemora a alta das exportações para o país, principal destino das vendas brasileiras. Seja como for, a aproximação estratégica ajuda a projetar os dois países como destacados atores econômicos mundiais. Nesse cenário, o governo brasileiro se deu conta de que, para continuar se beneficiando dos avanços do crescimento chinês, deve intensificar as parcerias tecnológicas, buscando, assim, novas oportunidades de ampliações comerciais.
A partir desse entendimento, Brasília e Pequim assinaram, recentemente, acordos no âmbito do Plano Decenal Brasil-China de Cooperação 2012/2021, beneficiando as áreas de tecnologia, inovação, infraestrutura, cooperação espacial, energia e transporte. O acordo ratifica a ênfase do plano na inserção internacional dos dois países na economia do conhecimento.
Também no campo acadêmico, há ações positivas na troca de experiências. No rol das medidas anunciadas figura a criação de um fundo comum de R$ 60 bilhões, que vai possibilitar à China sacar do Banco Central brasileiro essa quantia e ao Brasil ter acesso ao mesmo valor no banco chinês, para investimentos aqui e lá. Ou seja, em vez de focar na concorrência, os parceiros optaram por formatar estratégias que deem suporte não só às relações comerciais entre os dois países, mas também que os fortaleçam globalmente.
As conversas para se chegar a esse ponto começaram efetivamente em junho, com a visita de uma delegação brasileira à China, chefiada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), a convite do presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Wu Bangguo. Vislumbra-se agora o início de uma nova era nas relações econômicas e políticas entre dois integrantes do Brics (formado ainda por Rússia, Índia e África do Sul), que precisam o quanto antes enterrar de vez a concorrência desleal dos produtos do gigante asiático.