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BR-US – TOA – Tropas dos EUA na Amazônia? Saiba o que está em jogo

Rodrigo Lopes

Zero Hora

Depois de anos de afastamento, os exércitos dos Estados Unidos e do Brasil realizam uma série de ações que indicam reaproximação na área de defesa e na luta contra o narcotráfico. A medida mais visível dessa intensificação das relações será uma operação conjunta entre tropas americanas e brasileiras em novembro na Amazônia, região sensível aos interesses nacionais e na qual a presença estrangeira provoca discórdia até entre os próprios militares.

Como parte do exercício, será instalada, entre os dias 6 e 13 de novembro, uma base multinacional na Tríplice Fronteira, entre Tabatinga (Amazonas, Brasil), Letícia (Colômbia) e Santa Rosa (Peru), que abrigará munição, equipamento de disparos e de comunicação. Como a operação está em fase de planejamento, não foi definido ainda o número de militares de EUA e Brasil que participarão do exercício, que envolverá ainda tropas de Peru e Colômbia.

A participação americana é uma resposta a um convite do Brasil, que testemunhou como observador um exercício semelhante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Hungria, em 2015. No Leste Europeu, a base multinacional, que seria temporária, acabou se tornando permanente. Comandantes brasileiros negam que o mesmo possa acontecer na Amazônia.

Questionado pela coluna, o Comando do Exército esclareceu que o exercício, denominado AmazonLog 2017, tem, entre outras metas, “aumentar a capacidade de pronta resposta multinacional, sobretudo nos campos da logística humanitária e de apoio ao enfrentamento de ilícios transnacionais”. Leia-se, combate a drogas e entrada ilegal de armas.

A guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) está em processo de desarmamento, após décadas de guerra civil – e a fronteira, que, por anos, foi usada como rota para transporte de drogas, poderia servir de esconderijo para esse arsenal.

Com a Tríplice Fronteira Sul, entre Foz do Iguaçu, Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina), a região de Tabatinga preocupa há anos as autoridades brasileiras por ser entreposto do narcotráfico. Em mensagem a ZH, o Exército explicou que, além de militares, participarão da manobra Polícia Federal, Receita Federal, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), entre outros órgãos civis.

A presença de tropas americanas na Amazônia é polêmica, mexe com os brios dos nacionalistas e provoca revolta entre oficiais da reserva: “Convidar as forças armadas dos EUA para fazer exercícios conjuntos com nossas Forças Armadas, na Amazônia, é como crime de lesa-pátria. Ensinar ao inimigo como nos combater na selva Amazônica é alta traição”, diz uma mensagem que circula entre militares.

 

Para Nelson Düring, especialista em assuntos estratégicos e editor do site Defesanet.com.br, visões como essa representam um retrocesso e atrapalham a inserção brasileira em assuntos internacionais.

– Até hoje, não descobri qual a razão de tanta restrição aos EUA por uma parte grande dos militares. O exercício trata-se de uma interação com outras forças militares. Até recentemente, não eram aceitos militares estrangeiros no Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs). Agora, já tivemos americanos, europeus e até chineses. Cabe ao Brasil preservar os seus segredos. Muito do que poderia ser mantido em sigilo antes é hoje devastado pelos satélites de observação – analisa Düring.

PARCERIAS NAS ÁREAS DE DEFESA E TECNOLOGIA VÃO ALÉM

O exercício na Tríplice Fronteira é apenas a parte mais visível da reaproximação entre EUA e Brasil na área de defesa. Há outras. Em abril, a empresa brasileira Bradar Savis, setor do grupo Embraer Defesa & Segurança especializado em radares para defesa e sensoriamento remoto, fechou um acordo com a americana Rockwell Collins, também da área aeroespacial, para o desenvolvimento de um produto em parceria. Um mês antes, o comando de Engenharia, Desenvolvimento e Pesquisa do exército americano abriu um escritório na sede do Consulado dos EUA em São Paulo para aprofundar as relações com o Brasil em projetos de pesquisa voltados para tecnologia. Um dos trabalhos em andamento é a colaboração entre pesquisadores para implantação de maior tecnologia embarcada em veículos blindados.

O próprio exercício em Tabatinga é parte de uma parceria maior, chamada Operação Culminating, que envolve cinco anos de manobras conjuntas entre os dois exércitos. O auge será um treinamento envolvendo grande número de soldados dos dois países. O Brasil deve enviar um batalhão, entre 300 e 500 militares, para integrar uma brigada do exército americano, no Joint Readiness Training Center, centro de instrução localizado em Fort Polk, no Estado da Louisiana, no segundo semestre de 2020.

O comandante do Comando Sul do exército americano, major-general Clarence K. K. Chinn, esteve no Brasil em março, quando se reuniu com o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas. Ele também conheceu a região da Tríplice Fronteira amazônica, onde ocorrerá o exercício de novembro.

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