Marta Watanabe
De São Paulo
Praticamente metade dos produtos que chegam ao Brasil vindos da Ásia é "made in China". As importações com origem no país asiático continuam crescendo de forma mais acelerada. No primeiro quadrimestre deste ano a importação com origem na China aumentou 10,7% em relação aos mesmos meses do ano passado. O avanço é maior do que a elevação média de 7,7% no valor que o Brasil importa de todo continente asiático, exceto os países do Oriente Médio. Outros fornecedores asiáticos, porém, também elevaram as exportações para o Brasil de forma acelerada.
As importações brasileiras com origem na Índia aumentaram 22,2%, e as do Vietnã, 48,5%. A Coreia do Sul, depois de ter reduzido seu embarques em 2012, ultrapassou no primeiro quadrimestre deste ano o valor exportado nos mesmos meses de 2011, quando suas vendas ao Brasil cresciam puxadas pelos automóveis. No primeiro quadrimestre do ano passado, os desembarques brasileiros com origem na Coreia caíram como reação à elevação de 30 pontos do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre veículos importados, medida que na prática atingiu principalmente carros chineses e coreanos.
Puxadas por partes e peças de veículos e também por material eletrônico, as importações brasileiras com origem na Coreia cresceram 10,8% no primeiro quadrimestre deste ano diante de iguais meses do ano passado. Em relação a iguais meses de 2011, a alta é de 2,32%. Juntamente com a Índia e a China, a Coreia do Sul está entre os três maiores fornecedores asiáticos ao Brasil.
A consolidação de espaço em mercados já explorados há algum tempo e também a diversificação de oferta contribuem para o forte ritmo da importação dos países asiáticos menores.
É o caso do Vietnã, que tornou-se a maior fornecedora dos 15 milhões de pares de calçados que entraram no país no primeiro quadrimestre. A liderança do Vietnã, segundo dados da Abicalçados, que reúne a indústria doméstica do setor, é inquestionável. O Brasil importou nos primeiros quatro meses do ano do Vietnã, US$ 105,75 milhões em calçados, o que representa metade do valor total importado em calçados no período. Da Indonésia, segunda maior fornecedora, foram comprados US$ 30,2 milhões e, da China, US$ 25 milhões.
Heitor Klein, presidente da Abicalçados, diz que o Vietnã começou a avançar mais como fornecedor externo de calçados desde 2010, quando o Brasil passou a aplicar o direito antidumping definitivo sobre calçados chineses. Depois da aplicação da sobretaxa, a Abicalçados, sob a alegação de triangulação, pediu ao Departamento de Defesa Comercial (Decom) para estender aos calçados importados do Vietnã, da Indonésia e da Malásia, a tarifa antidumping aplicada para a China. Em julho do ano passado, porém, o pedido foi negado.
Um exame na pauta de importação com origem na Vietnã mostra, porém, que o crescimento dos embarques dos vietnamitas ao Brasil não se restringe mais a calçados ou a produtos de baixo valor agregado. O Brasil já importa do pequeno país, de forma crescente, material elétrico, circuitos integrados e equipamentos. "É uma evolução que se espelha na China", diz Klein.
A elevação das importações originadas dos países do Sudeste Asiático, porém, não é uniforme. A exportação da Indonésia para o Brasil no primeiro quadrimestre cresceu apenas 0,6% enquanto as vendas da Malásia recuaram 17,8% (ver quadro ao lado).
Mesmo assim, esses países contribuem para o déficit de US$ 1,4 bilhão para o Brasil nas trocas com os países asiáticos no primeiro quadrimestre, num resultado pior que o saldo negativo de US$ 311 milhões em iguais meses do ano passado.
Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Comércio Exterior (Funcex), diz que há uma tendência de os países do Sudeste Asiático tornarem-se fornecedores cada vez mais importantes para o Brasil. "Isso deve acontecer principalmente nesses países que funcionam como satélites da China, para os quais as empresas chinesas estão transferindo a fabricação de produtos de menor valor agregado, em busca de custos menores e de salários mais baixos."
Branco pondera que os as variações nos desembarques originados desses países menores tendem a oscilar muito, porque os valores de importação ainda são relativamente pequenos. Mas as oscilações têm por trás uma estratégia previamente desenhada. Num primeiro momento esses países tentam vender para o Brasil produtos como vestuário e calçados. Depois, num segundo estágio, devem vir os produtos de maior valor agregado. "É possível que o ritmo dessa mudança seja acelerado. Os países menores dessa região não possuem a capacidade de escala da China, mas como são economias menores, respondem rapidamente aos estímulos do governo."
Lia Valls, professora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, diz que a política tradicionalmente voltada para o comércio exterior contribui para a rapidez com que os países asiáticos conquistam mercados.
A diversidade da pauta de exportação, mesmo dos pequenos países, destaca Lia, resulta de cadeias produtos regionais bem estruturadas. "Houve muito investimento do Japão nos pequenos países e atualmente há os investimentos chineses", diz a professora. E a organização da produção em cadeia entre os países resultou em complementaridade e diversificação de atividades na região, o que permite a eles aproveitar de forma eficiente as oportunidade de demanda. "Taiwan e Malásia fizeram isso e agora outros países da região seguem o mesmo caminho."