A Bélgica, onde morou Ayoub el Khazzani, o jovem que atacou na semana passada o trem Thalys Amsterdam-Paris, é considerada "um criadouro do terrorismo islamita na Europa".
O país de 11 milhões de habitantes também é o Estado europeu com maior proporção de jihadistas na Síria e no Iraque. Segundo o ministro do Interior, 440 belgas se uniram à Jihad nos últimos meses, dos quais 260 continuam atuando, 60 morreram e 120 regressaram ao país.
"A Bélgica é um centro essencial, um viveiro do terrorismo islamita, mas não é o único da Europa", afirmou Claude Moniquet, codiretor do Centro de Segurança e Inteligência de Estratégia Europeu.
O especialista também citou o Reino Unido, a região francesa de Ródano, nos Alpes, e partes de Paris e Roubaix-Tourcoing (norte da França).
Nos últimos meses, enquanto 5 mil europeus viajavam para a Síria com o intuito de se alistar em organizações jihadistas e a Europa sofria uma série de atentados relacionados ao Islã radical, a Bélgica foi apontada em várias investigações como um local de residência, compra de armas e alvo para os grupos islamitas.
Em maio de 2015, o francês Mehdi Nemmouche, que havia participado de combates como aliado ao Estado Islâmico (EI) na Síria, atacou o museu judeu de Bruxelas, causando quatro mortes.
Em janeiro, logo após os atentados que deixaram 17 mortos em Paris, a polícia Belga executou dois suspeitos jihadistas, depois de invadir seu esconderijo em Verviers (no leste do país).
As autoridades também registraram várias moradias e detiveram suspeitos em todo país, sobretudo em Molenbeek-Saint-Jean, um bairro popular de Bruxelas, onde também viveu El Khazzani.
A organização alocada ali, cujo líder permanece foragido, planejava atacar em breve delegacias e policiais nas ruas, segundo a autoridade belga.
Muitas AK-47
A Bélgica também é um centro essencial para o tráfico de armas, reconheceu o ministro da Justiça Koen Geens nesta semana. "É evidente que um número muito alto dessas AK-47 ilegais chegam aqui vindas do leste da Europa, declarou.
Segundo a mídia local, parte do arsenal usado pelos irmão Kouachi nos ataques em Paris contra o Charlie Hebdo em Janeiro e por Amédy Coulibaly contra um supermercado foram compradas em Bruxelas.
O procurador federal belga Frédéric Van Leeuw dá uma ideia da magnitude do problema. Em 2015, ele abriu "mais investigações vinculadas com terrorismo do que em todo ano de 2014, e se tratava de um ano recorde, com 195 investigações.
Em fevereiro, após julgamento de 46 membros do grupo salafista Sharia4Belgium, o tribunal de Amberes havia condenado seu líder, Fuad Belkacem, a 12 anos de prisão por enviar dezenas de voluntários à Síria.
"Em várias investigações sobre jovens franceses que voltaram da Síria, descobrimos que eles se radicalizaram ao ler publicações do Sharia4Belgium", que ajudou alguns deles a realizar a viagem, explicou Moniquet.
A maioria dos jihadisas belgas cresceu em regiões pobres e com muita população de origem estrangeira, como Antuérpia, Bruxelas, Verviers e Vilvorde.
Em 2013, a Bélgica foi um dos primeiros países da Europa a alertar sobre a ameaça que representavam os jihadistas europeus que voltavam a seus países depois de passarem pela Síria e pelo Iraque.
O país pede desde então, junto com a França, que seja reforçada a cooperação policial e a colaboração com os países de origem e trânsito dos jihadistas.