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Bachelet mantém prioridade no T. O. Norte


Bachelet mantém prioridade no T. O. Norte

 

 
Roberto Lopes

Jornalista especializado em assuntos militares.
Em 2000 graduou-se em Gestão e Planejamento de Defesa
no Colégio de Estudos de Defesa Hemisférica
da Universidade de Defesa Nacional dos Estados Unidos, em Washington.
É também pesquisador associado ao Laboratório de Estudos da Etnicidade,
Racismo e Discriminação da Universidade de São Paulo (LEER-USP).

 
 
A presidenta eleita do Chile, Michelle Bachelet, deu a sua concordância, ao menos por enquanto, à prioridade conferida pelo Ministério da Defesa do seu país, ano passado, às forças militares encarregadas de custodiar o chamado Teatro de Operaciones Norte (TON), que engloba as áreas de fronteira com a Bolívia e o Peru.

Essa classificação preferencial se traduz, na prática, no recompletamento dos efetivos e da munição das unidades terrestres e aéreas envolvidas no dispositivo militar, bem como no adequado aprovisionamento de material de intendência e de víveres, além do atendimento expedito às reivindicações dessas tropas que exijam desembolso de recursos.

A ênfase na vigilância sobre a fronteira setentrional foi decidida no primeiro trimestre de 2013 pelos chefes do Exército e da Força Aérea em articulação com o Estado-Maior Conjunto do TON – e referendada pelo presidente Sebastián Piñera –, em face das reclamações diplomáticas do Peru e da Bolívia em relação, respectivamente, a disputas marítimas e territoriais em tramitação na Corte Internacional de Haia.

No início de fevereiro o Tribunal – máxima instância jurídica da Organização das Nações Unidas – anunciou o atendimento da maior parte (cerca de 70%) da demanda do governo de Lima por uma área no Oceano Pacífico que Santiago considerava de sua jurisdição. Ciente de que perderia a causa, a diplomacia chilena contactou previamente a chancelaria peruana, de forma a minimizar, nos dois países, as repercussões e conseqüências políticas da sentença – estratégia de boa convivência que se revelou bem sucedida.

O problema com a Bolívia parece ser, contudo, bem mais delicado – e difícil de lidar.

La Pazreclama uma faixa de território – 120.000 km² e 400 km de costas – perdida para o Chile durante a Guerra do Pacífico, no fim do século 19. A equipe de Bachelet receia algum ato de provocação engendrado – ou simplesmente estimulado – pelo grupo político do sociólogo Álvaro García Linera, atual vice-presidente da Bolívia. Teórico dos direitos sociais indígenas, Linera lidera a parcela mais radical e xenófoba da administração Evo Morales.

Os militares chilenos monitoram a possibilidade de elementos civis ou militares bolivianos tentarem um gesto extremo – como uma incursão não autorizada, por terra ou pelo ar, a um ponto qualquer do Chile para fincar uma bandeira boliviana –, de forma a chamar a atenção do mundo para a mutilação do seu território.

A ocupação chilena da área reclamada foi legalizada por meio do Tratado de Paz e Amizade firmado por dignatários de La Paz e de Santiago em 1904 – acordo que o vice-presidente assegura ter sido extraído aos bolivianos sob coação do inimigo.

A esquerdista Bachelet já foi ministra da Defesa do Chile entre 2002 e 2005, e presidenta da República entre março de 2006 e março de 2010. A 11 de março próximo ela assume o seu segundo mandato como Primeira Mandatária da nação.

Ela considera o assunto do litígio com a Bolívia de alto potencial de instabilidade para o ambiente de paz e cooperação da União de Nações Sul-Americanas (entidade que presidiu entre maio de 2008 e agosto de 2009), mas aprovou a prioridade para o TON mês passado, durante uma reunião que contou com a presença do ex-embaixador chileno no Equador, Jorge Burgos Varela – nome que a futura chefe de governo escolheu para ser o seu ministro da Defesa.

Não obstante isso, a presidenta eleita recomendou ao Estado-Maior Conjunto do Teatro Norte cautela com a intensidade e a divulgação das manobras militares, evitando os deslocamentos prolongados de unidades terrestres (ou mudanças de sede) que possam parecer um desdobramento de forças na região. O objetivo da orientação é não dar motivo para que os vizinhos comentem sobre provocações ou redistribuição de contingentes nas linhas de fronteira.

Dez meses atrás, o comandante do Exército chileno, general Juan Miguel Fuente-Alba, visitou as guarnições de Iquique e de Antofagasta, instruindo seus comandantes a testarem suas unidades no terreno, de maneira a avaliar a condição operacional delas, e relatar suas necessidades para o caso de emprego real repentino, em situação de emergência.

Todos esses dados circulam há algumas semanas no grupo de adidos militares estrangeiros acreditados em Santiago, representado pela Asociación de las Fuerzas Armadas y Policiales Extranjeras(Associação das Forças Armadas e Policiais Estrangeiras) do Chile – que reúne Attachés de mais de 20 países (Brasil inclusive). A origem das informações seria um relatório sobre a forma com que o novo governo pretende enfrentar os litígios fronteiriços, preparado (ou recebido, não se sabe ao certo) pelo Comando Sul dos Estados Unidos, sediado na Flórida.

O escudo de defesa chileno no Teatro de Operações Norte é o principal do país.

Ele engloba batalhões de tanques Leopard no eixo Arica-Iquique-Antofagasta, protegidos pelo ar por dois esquadrões de caças supersônicos F-16, de fabricação americana. Além disso, a região é periodicamente sobrevoada por um jato Boeing 707 chileno que a indústria militar israelense transformou num sofisticado avião-radar: o EB-707 Condor (uma segunda aeronave de alarme aéreo antecipado desse tipo pode ser entregue ao Chile já no ano que vem). Tanto no aeroporto militar de Iquique quanto no de Antofagasta, a aviação militar chilena dispõe de equipamentos de detecção eletrônica que espreitam as rotas aéreas procedentes do espaço aéreo boliviano 24 horas por dia.

Para se contrapor a esse aparato, tudo o que a Bolívia pode mobilizar pelo ar é um punhado de caças AT-33A, projetados há meio século e comprados de segunda mão ao Canadá, e um diminuto agrupamento de jatos chineses de ataque leve ao solo (e treinamento de pilotos de combate) – todos aparelhos subsônicos. 

Ciente de que a via militar não favorece os interesses de La Paz, no último domingo, 10 de fevereiro, o vice-presidente Linares definiu o Chile como “país agressor e abusivo” – que, em sua opinião, estaria na obrigação de tomar a iniciativa de discutir o litígio com a Bolívia. Ele apareceu para conversar com os jornalistas metido num inusitado traje camuflado do Exército boliviano, e foi duro: “Eles [os chilenos] são os agressores, os que têm a obrigação de se aproximar para dialogar, porque nós, os agredidos, os invadidos, sempre consideramos a opção do diálogo” (Bolivia acusa a Chile de ‘país agresor’, agência EFE).

Linares está particularmente irritado com o fato de o Chile ter conseguido um canal de entendimento com o Peru no âmbito da Aliança do Pacífico, bloco comercial que, além desses dois países, reúne Colômbia e México, e tem despertado o interesse de outros governos, como o paraguaio e os da América Central.

Durante todo o ano de 2013, tanto o vice-presidente boliviano quanto seu chefe, Evo Morales, fizeram repetidas críticas à entidade, que avaliam ser dominada pelos Estados Unidos.

 

Nota DefesaNet.

Há dois anos  o representante chileno, General do Ejército ao evento Armoured Vehicles Brazil foi de uma clareza lapidar:

"O Chile procurará ter sempre a supremacia tecnológica na área de blindados em especial no Teatro de Operaciones Norte (TON)."

O Editor

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