David E. Sanger e Eric Schmitt
Um oficial de alto escalão do Exército americano responsável pela defesa dos Estados Unidos contra ciberataques afirmou na semana passada que houve um aumento no número de ataques cibernéticos contra infraestruturas americanas entre 2009 e 2011, iniciados principalmente por gangues criminosas, hackers e outras nações.
A avaliação feita pelo general Keith B. Alexander, que administra a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) e também o recém-criado Comando Cibernético dos EUA, parece ser o primeiro reconhecimento oficial do governo sobre o ritmo pelo qual as redes americanas de energia elétrica, abastecimento de água, computadores e redes de telefonia celular e outras infraestruturas estão sofrendo constantes ataques. Esses ataques são considerados potencialmente muito mais sérios do que a espionagem informática ou os crimes financeiros.
Alexander, que raramente fala em público, não disse quantos ataques ocorreram no período. No entanto, afirmou que não acha que o aumento no número de ataques está relacionado com o vírus de computador Stuxnet, que tomou a web dois anos atrás e visava derrubar uma usina iraniana de enriquecimento de urânio localizada em Natanz.
Quando o vírus inadvertidamente se tornou público, muitos oficiais americanos e especialistas de fora expressaram preocupação de que esse tipo de engenharia poderia ser revertida e usada contra alvos americanos. Alexander disse que não via nenhuma evidência disso.
Alexander, como chefe da NSA, foi um elemento crucial na criação de um programa secreto americano chamado de Jogos Olímpicos que visava atacar o programa iraniano. Mas ao ser questionado pelo jornalista Pete Williams da NBC News em uma conferência de segurança em Aspen, Colorado, ele se recusou a dizer se o Stuxnet teve origem americana – o governo de Obama nunca reconheceu ter utilizado armas cibernéticas.
Rede: EUA querem estratégia de cibersegurança mundial
Alexander disse que o que lhe preocupava com o aumento dos ciberataques estrangeiros aos EUA era que um número crescente deles visava "infraestruturas críticas", e que os EUA continuavam despreparados para lidar com um ataque maior. Em uma escala de 1 a 10, disse ele, a preparação do país para lidar com um ataque cibernético em grande escala está "em torno de 3."
Ele pediu a aprovação de leis, que pode chegar a um voto nesta semana, que dariam ao governo novos poderes para defender as redes de computadores particulares nos EUA. A legislação provocou uma certa comoção à medida que empresas americanas tentam evitar caras regulamentações em suas redes e alguns grupos defensores das liberdades civis expressaram preocupação sobre o efeito que a lei terá sobre a privacidade.
Regras
Alexander disse que o governo ainda estava trabalhando nas regras de engajamento para responder aos ataques cibernéticos. Devido ao fato de que um ataque pode ocorrer em milésimos de segundo, ele disse que algumas defesas automáticas seriam necessárias, assim como o envolvimento do presidente em todas as decisões sobre as possíveis soluções de retaliação.
Ele confirmou que, de acordo com as autoridades existentes, apenas o presidente tinha o poder de autorizar um ataque cibernético realizado pelos EUA. Os primeiros ataques desse tipo ocorreram sob o mandato do presidente George W. Bush.
O Pentágono disse anteriormente que se os EUA retaliarem com um ataque em seu território, a resposta poderia vir na forma de um contra-ataque cibernético, ou uma resposta militar tradicional.
Alexander falou em uma entrevista no Fórum de Segurança no Instituto de Aspen. O New York Times é um patrocinador da conferência, que dura quatro dias. Outro palestrante da conferência, Matthew Olsen, diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo, abordou a "guerra fervente" que vem ocorrendo entre Israel e Irã e por grupos apoiados pelo Irã como o libanês Hezbollah.
O Irã culpou Israel por vários dos assassinatos de seus cientistas nucleares. Israel acusou membros do Hezbollah apoiados pelo Irã de realizar o atentado suicida que matou cinco turistas israelenses e um motorista de ônibus local na Bulgária, em 18 de julho.
Autoridades americanas disseram que o Irã esteve por trás de um complô frustrado no ano passado de uma tentativa de matar o embaixador da Arábia Saudita para os EUA.
"Tanto no que diz respeito ao Irã e ao Hezbollah, estamos vendo um pequeno aumento geral no nível de suas atividades ao redor do mundo em diferentes lugares", disse Olsen.
Olsen não aborda o ataque a Bulgária, mas ele disse que o plano para matar o enviado saudita a Washington "demonstrou que o Irã tinha intenção de realizar um ataque terrorista dentro dos EUA."