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Armando Brasil – Política Externa e o Interesse Nacional

 

Armando Brasil


A América do Sul, por questões geográficas, já diz a geopolítica, deve ser a maior prioridade no relacionamento internacional do Brasil. Na primeira década deste milênio foi assim. A rejeição à ALCA, a criação da UNASUL, a inserção da Venezuela no MERCOSUL — a ideologia passa, mas a Venezuela fica —, tudo seguia essa prioridade.

 Contudo, na segunda década deste milênio pouco foi feito. Hoje, o projeto de integração da infraestrutura física da região jaz natimorto. E para piorar este projeto foi transformado em um instrumento de degradação da imagem do Brasil, em função da explicitação de práticas de corrupção, usuais na atividade de engenharia pesada, pelas grandes construtoras brasileiras em toda região.

No início deste século, os Estados Unidos relegaram a um segundo plano a América do Sul. Contudo, isto mudou em 2012. O governo Obama buscou escolher parceiros na região, como o Paraguai e o Suriname e acordos multilaterais, como a parceria com os países banhados pelo Oceano Pacífico, a Aliança do Pacífico. A atual administração dos EUA se afastou da agenda anterior e isto nos favorece, na medida em que ela se opôs a acordos multilaterais de livre comércio. Isto trouxe aos países da orla do Pacífico do Hemisfério Ocidental grandes embaraços às suas diplomacias comerciais.

Em paralelo, desde a virada do século, a China tem tido uma presença crescente nos negócios na região. Por conveniência e por interesses de longo prazo de seu projeto nacional, o governo chinês vê a América do Sul como um espaço de expansão de sua atuação internacional.

A penetração do capital chinês se fez sentir até em setores estratégicos, como a engenharia pesada. Isso pode levar a que a articulação interna do espaço da região observe a lógica chinesa de disponibilização dos recursos naturais da América do Sul para si. A China também deve defender o livre comércio para atender sua atual prevalência na indústria e nos enredar neste processo pela nossa presença no BRICS.

Olhando o futuro, a diplomacia brasileira deveria se afirmar e  aproveitar, como um terceiro interessado, no que lhe convier, da disputa que ocorrerá entre a China e os EUA, pelo domínio do comércio regional e mundial.

Seria o momento de se fomentar uma reestruturação, tanto na Aliança do Pacífico quanto do MERCOSUL, fundindo-os e dando início a um efetivo mercado comum na América Latina. Esta iniciativa poderia resolver tanto a inoperância sistêmica do MERCOSUL quanto a perda de sentido da Aliança do Pacífico e fortaleceria, em muito, a presença política e comercial do Brasil na região. É preciso ter uma resposta à volta do tempo do protecionismo.

Como já foi dito, desde 2010, o interesse nacional não se explicita de forma coerente na América do Sul. Sem o Brasil, os demais países da região ficam expostos às ambições globais. Mas só será possível atuar coerentemente se a nossa política na região estiver inscrita nas alternativas de desenvolvimento, que oferecermos aos nossos vizinhos, no âmbito de nosso próprio projeto nacional.

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