Publicado por Clarin – Buenos Aires
Cristina Kirchner realizou uma inesperada mudança em seu Ministério. Decisão tirou do primeiro escalão a que um dia foi poderosa no núcleo Kirchnerista, Nilda Garré, que esteve à frente das duas pastas. Ela vai para a OEA. Medida também está ligada às eleições legislativas de outubro.
Por GUIDO BRASLAVSKY
Em um anúncio de surpresa, a presidente Cristina Kirchner fez, na quinta-feira, 30 de maio, a primeira mudança ministerial desde que começou o segundo mandato, em 2011.
O até ministro da Defesa, Arturo Puricelli, passou a ocupar o Ministério da Segurança e o atual líder da bancada governista na Câmara dos Deputados, deputado Agustín Rossi, da Frente para a Vitória, foi designado para a carteira da Defesa.
A troca significará a saída de Nilda Garré, cuja gestão como ministra de Segurança vinha apagada desde a virtual “intervenção” pinguina na pasta produzida com a imposição de Sergio Berni como seu vice-ministro.
‘Pinguim’ e ‘Pinguina’ é como são definidos os que integram um núcleo de políticos fiéis ao Kirchnerismo.
Saída elegante e quase de manual para Garré, que será enviada como embaixadora argentina na Organização de Estados Americanos (OEA).
Um destino para o qual o kirchnerismo dá pouca relevância desde a criação da Unasul, onde estão colocadas todas as fichas na decisão de afastar-se da influência exercida pelos Estados Unidos no organismo interamericano.
Na OEA, Garré substituirá Rodolfo Gil – atual operador político do ex-ministro de Economia Roberto Lavagna-, que renunciou em 2010.
Desde essa época o escritório estava a cargo, interinamente, de Martín Gómez Bustillo.
As mudanças no Ministério foram anunciadas pelo secretário de Comunicação Pública, Alfredo Scoccimarro, na Casa Rosada, a sede da Presidência, após o encontro político que a Presidenta liderou em Lomas de Zamora, na província de Buenos Aires.
Scoccimarro informou que na próxima segunda-feira, dia três de junho, Puricelli e Rossi prestarão juramento perante a Presidente e assumirão seus novos cargos.
Esse movimento ratifica o predomínio “pinguino” no Ministério dentro de um esquema personalista e centralizado de poder da Presidente.
E dá respaldo a Puricelli, que vem sendo questionado por sua gestão da última campanha antártica. Puricelli, primeiro governador peronista da província de Santa Cruz após a volta da democracia em 1983, foi um inimigo político de Néstor Kirchner, que precisou destroná-lo na província para fazer sua carreira política.
Ajudado pelo atual ministro de Planejamento, Julio de Vido, ele foi “readmitido” há alguns anos e se integrou ao grupo de funcionários K de confiança.
A troca foi motivada, sobretudo, pela necessidade de resolver a situação de Rossi, um líder de bancada eficaz, leal e funcional nestes anos, mas que enfrentava sérios problemas para renovar o mandato parlamentar, por sua província, a de Santa Fé, nas eleições legislativas de outubro.
Tudo indica que o kirchnerismo ficará em terceiro lugar nesse distrito;
Rossi vinha sendo criticado pelos prefeitos peronistas da província e há alguns meses o partido tinha se fraturado com a renúncia como deputada provincial de María Eugenia Bielsa, figura muito popular e com enfrentamentos com Rossi.
O ex-governador Jorge Obeid poderia liderar a lista de deputados por Santa Fé.
Na Argentina, as eleições legislativas são definidas a partir das listas dos candidatos e os nomes que as lideram podem ser decisivos nos resultados do pleito.
Rossi informou que a liderança da bancada da Frente para a Vitoria ficará, pelo menos por enquanto, em mãos da parlamentar que atuou como vice-líder da bancada governista na Casa, a deputada Juliana Di Tullio.
As mudanças ministeriais têm sido excepcionais no esquema cristinista e as anunciadas são de pouco peso.
Após assumir seu segundo mandato em dezembro de 2011, Cristina ratificou quase todo seu elenco (houve mudanças mínimas para substituir os foram para cargos eletivos).
O último grande impacto havia sido justamente a designação de Garré, na época na pasta da Defesa (onde foi substituída por Puricelli), para o recém-criado Ministério de Segurança.
Na época, a posse de Garré marcou a caída em desgraça do agora senador Aníbal Fernández, que durante anos tinha administrado as forças de segurança.
Mas a experiência de “renovação” das forças policiais e de luta contra a corrupção que Garré significava durou até a intervenção do governo com a chegada de Berni, o tenente-coronel médico, de alto perfil midiático, que tinha trabalhado durante anos junto com Alicia Kirchner no Ministério de Desenvolvimento Social e é especialista em negociar com ‘piqueteiros’ (grupos organizados de manifestantes sociais).
A relação de Garré e Berni já era insustentável. Eles se relacionavam separadamente com a Presidenta, que preferia falar com o tenente-coronel.