Ariel Palacios
O embaixador da Argentina em Caracas, Carlos Cheppi, deu uma nova versão para a prisão do jornalista Jorge Lanata, no aeroporto de Maiquetía, na segunda-feira. Segundo o diplomata, o repórter foi só retido em uma operação de rotina da polícia venezuelana.
Lanata relatou que foi interrogado pelos agentes do governo do presidente Hugo Chávez, sob a acusação de ser um "espião". O Serviço de Inteligência, que também deteve toda a equipe de produção e cinegrafistas do jornalista, copiou e apagou o conteúdo dos vídeos gravados por Lanata na Venezuela e dos computadores e tablets da equipe.
Durante sua estadia, o jornalista havia revelado em seu programa que a polícia venezuelana tinha ordens de vigiá-lo. Ao desembarcar ontem em Buenos Aires, Lanata afirmou que conteúdo de seu computador foi copiado pelo serviço de inteligência e na sequência apagado do laptop. Ele foi liberado uma hora e meia depois.
Lanata, que nos anos 80 fundou o Página 12, comanda desde o início deste ano o programa Jornalismo para todos, transmitido pelo Canal Trece, do Grupo Clarín. O programa, com ironia, disseca os casos de corrupção do governo argentino e seus aliados, fato que o transformou em inimigo da presidente Cristina Kirchner.
Cheppi – homem de confiança dos Kirchners desde os anos 90 – disse que sua fonte era o próprio Ministério do Interior da Venezuela. Segundo o embaixador, os integrantes da equipe de Lanata teriam "provocado" as forças de segurança venezuelanas, exibindo uma pasta. Os policiais venezuelanos teriam retido Lanata para saber o conteúdo.
"O fato de que o embaixador argentino não nos defenda é uma vergonha", declarou Lanata ao desembarcar ontem no aeroporto de Ezeiza em Buenos Aires. "Cheppi é mais embaixador de Chávez do que dos argentinos", lamentou o jornalista.
Claudio Paolillo, do Comitê Executivo da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) , disse ontem ao Estado que o governo Kirchner, ao relativizar a detenção de Lanata, "deixa claro que considera esse tipo de coisa como algo normal, já que é sócio político do líder bolivariano".