O senador e ex-presidente chileno Eduardo Frei Ruiz-Tagle considerou neste domingo que a América Latina deu um "mau exemplo" no caso da destituição de Fernando Lugo da Presidência do Paraguai e com a incorporação plena da Venezuela no Mercosul em "uma rápida" reunião do bloco.
"Ao meu ver, tudo o que ocorreu a partir da saída de Lugo parece ser inconveniente. Acho que mais uma vez a América Latina deu um mau exemplo", declarou Frei em entrevista à agência EFE em Caracas, onde participará de um fórum a partir de terça-feira.
Frei declarou que "sentiu vergonha" da destituição de Lugo após o julgamento político do Senado paraguaio no último dia 22 de junho. Segundo o político, esse processo foi "uma coisa de 24 horas e que ninguém entendeu".
O parlamentar, que governou Chile entre 1994 e 2000, criticou o fato de não terem respeitado o devido processo no Paraguai e também a "rápida" reunião que foi realizada pelo Mercosul no dia 29 de junho.
Nesta, os países do bloco concordaram com a incorporação da Venezuela como um membro pleno e com a suspensão temporária do Paraguai, cujo Senado já havia bloqueado a entrada venezuelana no Mercosul.
"Tiraram um país e colocaram outro. Isto é muito mal para a América Latina. Se quisermos ser respeitados no mundo temos que fazer as coisas bem feitas", assinalou Frei.
Nesse sentido, o ex-presidente chileno destacou que a América Latina precisa consolidar "sua estabilidade democrática" regional.
Segundo Frei, "a América Latina precisa de profundas transformações para adquirir governabilidade, estabilidade aos países e partidos políticos sérios e responsáveis".
Ao se referir ao seu país, Frei considerou que a Concertação, que se encontra na oposição após 20 anos à frente do governo, deve lutar "unida" para ganhar as eleições de 2013, com ou sem a liderança da ex-presidente Michelle Bachelet.
O político foi taxativo sobre as versões que situam Michelle, a atual diretora-executiva da ONU Mulheres, como candidata da esquerda para as eleições de 2013. "Eu não vejo os rumores, eu vejo a realidade. Ela terá que tomar uma decisão", disse Frei ao lembrar que a Concertação, de centro-esquerda, decidiu escolher seu candidato através de primárias.
"O mais importante para mim, mais que as demais pessoas, é que a Concertação seja capaz de estar unida (na diversidade) para apresentar uma proposta de Governo e resolver os problemas que o Chile possui hoje dia", acrescentou.
Em maio, uma enquete do Centro de Estudos Públicos (CEP) do Chile situou Michelle como a candidata favorita dos chilenos com 51% dos votos. Além do favoritismo para substituir o atual presidente, Sebastián Piñera, Michelle também aparecia com 83% de aprovação em uma lista de líderes políticos do país sul-americano.
Frei não quis analisar o desempenho de Piñera, que teve uma popularidade de 33%, alegando que deve existir um "respeito básico" na relação entre presidentes. "Me reuni várias vezes com o presidente e ele sabe o que eu penso", afirmou Frei, sem dar mais detalhes.
O senador também foi cauteloso ao falar sobre a Venezuela, que se encontra em plena campanha para as eleições do próximo dia 7 de outubro, que evidencia uma disputa entre o presidente Hugo Chávez e o opositor Henrique Capriles.
Antes da participação no fórum "Diálogo, Paz e Desenvolvimento" do Centro de Políticas Públicas IFEDEC, que começará na próxima terça, Frei explicou que sua visita ao país não era para "dar lições", mas para compartilhar experiências.
No entanto, o senador assinalou que a aliança opositora venezuelana, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), e a Concertação chilena possuem os "mesmos princípios" na "democracia e independência dos poderes políticos". "A democracia funciona basicamente quando há total independência entre os poderes políticos, liberdade de imprensa, eleições transparentes e com participação de todos os cidadãos", assinalou.