A estabilização da economia, na primeira metade da década de 90, a partir do Plano Real, deu as bases para o Brasil servir de força motriz ao Mercosul, cujos pilares haviam sido lançados no governo Sarney, no início da redemocratização. As economias do Cone Sul, integradas, se candidatavam a ser um polo de dinamismo no mundo.
À frente mesmo do entendimento diplomático entre governos, a indústria automobilística anteviu que a região era adequada a um tipo de operação integrada, com as montadoras dividindo linhas de montagem entre Brasil e Argentina, principalmente.
O Mercosul chegou a ser o maior mercado de exportação do Brasil, até o crescimento da importância da China como forte importadora de matérias-primas. Mas foi a ideologização do acordo de comércio que começou a corroer as bases do projeto de integração econômica.
A chegada do casal Kirchner à Casa Rosada e o controle do Itamaraty, com Lula no Planalto, por correntes terceiro-mundistas deram as bases para o bombardeio conjunto da proposta da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) feita pelos Estados Unidos. Condicionados pelo antiamericanismo juvenil do terceiro-mundismo e do kirchnerismo, Brasil e Argentina sequer negociaram a Alca. Perderam uma oportunidade de barganhar um acesso mais fácil ao maior mercado importador do planeta.
A aposta brasileira na rodada da OMC de Doha, com o objetivo de fazer uma ampla abertura comercial no mundo, foi frustrada. Abriu-se a temporada de acordos bilaterais, e o Brasil dela não se aproveitou – e nem se aproveita – porque está amarrado aos acordos do Mercosul. E este, em crise, paralisado por uma Argentina sem divisas, em luta jurídica com credores internacionais, em intensa febre protecionista e tentando de forma até infantil esconder a verdadeira inflação acima de 20% por meio do congelamento dos índices oficiais em 10%.
Para piorar as perspectivas, o Planalto e a Casa Rosada patrocinaram a operação matreira de aproveitar a destituição de Lugo da presidência do Paraguai e tachá-la de "golpe", para contrabandear ao Mercosul a Venezuela de Chávez. Está decretada a imobilidade do bloco.
Enquanto isso, surge a Aliança do Pacífico, da qual fazem parte Colômbia, Chile, Peru e México, economias mais abertas ao exterior que as do Mercosul, e em situação relativamente privilegiada neste ciclo de crise mundial: inflação sob controle, crescimento a taxas superiores que a brasileira, por exemplo. E com um ambiente para negócios, em geral, melhor que o do bloco do Cone Sul. O México, que tende a atrair crescentes investimentos externos, já faz parte do Nafta, com Estados Unidos e Canadá, uma vantagem inigualável para este bloco. A Aliança do Pacífico comprovará os erros cometidos pelo Mercosul nos últimos anos, o quanto tem sido dominado por uma visão autárquica, atrasada.