A ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, afirmou nesta segunda-feira (17), em Kiev, que a Alemanha fará tudo o possível para garantir a segurança da Ucrânia, ao mesmo tempo em que reiterou seu desejo de manter um "diálogo sério" com a Rússia.
"Faremos tudo o possível para garantir a segurança da Ucrânia e da Europa", disse a chefe da diplomacia alemã em coletiva de imprensa conjunta com seu colega ucraniano, Dmitro Kuleba.
"Estamos dispostos a iniciar um diálogo sério com a Rússia", acrescentou, destacando o objetivo de apaziguar a situação atual, que qualificou de "extremamente perigosa".
Em visita a Madri, o chanceler alemão, Olaf Scholz, reiterou que é "importante" esperar "passos claros da Rússia para desescalar a situação".
"Uma agressão militar contra a Ucrânia teria consequências muito graves tanto políticas quanto econômicas" para a Rússia, acrescentou Scholz durante coletiva de imprensa com o chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, na qual pediu que se faça tudo o possível para "evitar" que isto ocorra.
Kuleba informou, por sua vez, ter abordado o tema espinhoso da entrega de armas para a Ucrânia, depois de Kiev ter acusado Berlim, em dezembro, de impedir a chegada de material defensivo no âmbito da cooperação com a OTAN.
"Nossos diálogos sobre este tema com a Alemanha vão continuar", disse o ministro.
A Rússia é acusada de ter mobilizado cerca de 100 mil soldados perto da fronteira com a Ucrânia, em um momento que Moscou busca que os países ocidentais se comprometam a que Kiev nunca vá integrar a OTAN.
A Ucrânia vive desde 2014 um conflito com os separatistas pró-russos, que deixou mais de 13.000 mortos e começou depois que Moscou anexou a península da Crimeia.
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, terá na terça-feira o primeiro encontro com a colega alemã.
"Vai haver uma troca profunda sobre os problemas internacionais da atualidade, especialmente as propostas russas sobre as garantias de segurança", informou a diplomacia russa em um comunicado.
Ex-presidente Poroshenko retorna à Ucrânia apesar do risco de prisão
O ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko retornou ao seu país nesta segunda-feira (17), apesar da ameaça de ser preso por "alta traição", um caso que pode provocar uma crise política interna em meio a tensões com a Rússia.
Poroshenko, que estava fora da Ucrânia há um mês, passou pelo controle de passaportes e depois afirmou que os guardas de fronteira tentaram impedir sua entrada no país.
Ele deve comparecer nesta segunda a uma audiência na qual será decidida a prisão preventiva do ex-chefe de Estado e opositor do atual presidente Volodimir Zelensky.
Durante a sessão, a promotoria pediu ao tribunal que autorize a prisão do ex-presidente ou que imponha uma fiança de cerca de 30 milhões de euros acompanhada da imposição de uma pulseira eletrônica.
Além disso, pediu aos juízes que obriguem Poroshenko a permanecer em Kiev e entregar seu passaporte.
As autoridades "têm muito medo de nós", disse Poroshenko. "Direcionaram todos os seus esforços não para a proteção do Estado contra o agressor [russo], mas para a luta contra a oposição".
Milhares de partidários se reuniram em frente ao aeroporto com faixas dizendo "Precisamos de democracia" ou "O país precisa de Porokh", apelido de Poroshenko.
Poroshenko acusa seu sucessor de ter ordenado seu julgamento para "desviar a atenção" dos problemas reais do país.
O ex-presidente de 56 anos é o principal rival do atual presidente e um dos homens mais ricos da Ucrânia.
As autoridades suspeitam que durante sua presidência manteve ligações comerciais com os separatistas pró-russos no leste, o que constituiria um ato de "alta traição".
Este embate ocorre enquanto a Ucrânia teme uma invasão da vizinha Rússia, que há meses concentra tropas e blindados em suas fronteiras. Moscou nega qualquer plano de ofensiva militar, mas exige que americanos e europeus se comprometam a nunca aceitar a entrada da Ucrânia na OTAN sob pena de retaliação.
Nesse contexto, Kiev acusou no domingo a Rússia de estar por trás de um grande ataque cibernético que teve como alvo os sites de vários ministérios na semana passada.
Poroshenko, cuja fortuna é estimada em US$ 1,6 bilhão pela revista Forbes, liderou o país de 2014 a 2019 antes de ser derrotado por Zelensky.
O ex-presidente, que agora é deputado, está envolvido em dezenas de processos judiciais. Em dezembro, as autoridades anunciaram que ele era suspeito de "alta traição".
Poroshenko rejeita as acusações e os Estados Unidos, principal aliado da Ucrânia contra a Rússia, disse que está "acompanhando de perto" o caso.
No início do mês, um tribunal de Kiev ordenou o congelamento dos bens do ex-presidente, dono de uma grande confeitaria, a Roshen, e de dois canais de televisão.
Ele é suspeito de facilitar a compra de carvão por empresas no leste da Ucrânia, controladas por separatistas pró-Rússia em guerra com Kiev.
Os eventos datam de 2014 e 2015 e representam cerca de 48 milhões de euros (54,8 milhões de dólares). O crime é punível com 15 anos de prisão.
A Ucrânia vive um conflito no leste do país desde 2014 entre forças de Kiev e separatistas pró-Rússia que deixou mais de 13.000 mortos e começou após a anexação por Moscou da península da Crimeia.