Search
Close this search box.

África – Continente sofre com fuga de investidores

Uma confluência tóxica de fatores está levando os investidores a retirar seu dinheiro dos ativos da África, até recentemente uma aplicação popular entre os mais aventureiros.

O colapso dos preços das commodities, a desaceleração econômica da China e uma série de políticas fracassadas estão forçando os investidores a reavaliar o risco de investir na África, depois de anos de otimismo sobre as perspectivas de crescimento da região.

Os mercados de ações e as moedas de todo o continente vêm sofrendo vendas generalizadas, principalmente nas economias mais dependentes de commodities. O índice de ações da Nigéria, a maior economia da África e por muito tempo a favorita dos investidores, está tendo um dos piores desempenhos do mundo neste ano, com uma queda acumulada de 14%. O índice S&P Nigeria BMI perdeu mais de 25% de seu valor em dólar no passado, 10 pontos percentuais a mais que a média do índice de mercados de fronteira que a agência Standard & Poor’s monitora.

O índice S&P Zambia teve um desempenho ainda pior nos últimos 12 meses, despencando 45% à medida que as exportações de cobre do país recuavam com a queda na demanda da China. Em setembro do ano passado, o presidente da Zâmbia, Edgar Lungu, convocou um dia de nacional de orações para pedir a Deus que sustentasse a moeda do país, a kwacha. Na época, a moeda acumulava uma perda de 45% ante o dólar em 2015.

Os números mostram que as ações da África estão apresentando uma queda maior que em qualquer outro dos chamados mercados de fronteira. O índice MSCI Africa despencou 19% no ano passado, muito mais que o índice mais geral desses mercados, o MSCI Frontier Markets.

O cenário pode se tornar ainda mais sombrio: em janeiro, o Fundo Monetário Internacional alertou que o continente vai crescer numa média de 4% neste ano, bem menos que a tendência da última década e apenas um pouco acima dos 3,5% registrados em 2015, a menor alta em 20 anos. O quadro foi piorado por políticas equivocadas, como a recusa da Nigéria em desvalorizar sua moeda ou os gastos excessivos de Gana, que levaram a uma dívida recorde.

A onda de más notícias sobre a África também está tirando o apetite das multinacionais para investir no continente. O banco britânico Barclays afirmou recentemente que vai começar a vender ativos na África depois de um século de investimentos, através da venda da participação em sua subsidiária local, o Barclays Africa Group Ltd.

Gestores de fundos dizem que os ativos da África estão sendo castigados devido à dependência desproporcional que os países africanos têm dos recursos naturais e à sua incapacidade de usar o boom das commodities dos últimos anos para industrializar suas economias. O petróleo responde por mais de 90% da receita com exportações de Angola, Nigéria e Guiné Equatorial, enquanto o cobre representa mais de 70% da receita com exportações da Zâmbia.

“Há uma reação à euforia dos novos investidores chegando à África há um ano”, diz Stuart Culverhouse, economista da Exotix, fundo e consultoria de mercados de fronteira sediado em Londres.

O resultado é que os investidores em mercados de fronteira estão transferindo seu dinheiro da África para países asiáticos como Paquistão, Bangladesh e Vietnã, uma vez que importadores líquidos de petróleo e outras commodities têm demonstrado um comprometimento maior com a industrialização.

O êxodo dos investidores já está prejudicando empresas africanas, que tentam se ajustar a uma aguda reversão da confiança dos investidores. Desprovidas de opções para financiamentos de que desesperadamente precisam, elas agora enfrentam um mercado de ações menos líquido e com um volume de negócios menor.

Na bolsa da Nigéria, por exemplo, foram levantados mais de US$ 500 milhões em capital novo em 2014, mas somente US$ 23 milhões no ano passado. Empresas se deparam com chances menores de captar dinheiro e agora têm que fazê-lo na desvalorizada moeda do país, a naira, em vez dos euros ou dólares dos investidores que estão abandonando a região, diz Andew Del Boccio, diretor associado da consultoria PwC na África do Sul.

A mudança já aumentou os custos de captação dos governos, num momento em que os países africanos reduzem suas emissões nos mercados internacionais. Em 2014, os governos africanos emitiram US$ 12 bilhões em títulos soberanos nos mercados internacionais, ao passo que em 2015 esse valor caiu pela metade, segundo o banco alemão Deutsche Bank. Afundada numa crise, Gana emitiu o bônus em euro mais caro da história no ano passado, pagando juros de 10,75% ao ano numa emissão de US$ 1 bilhão.

Embora algumas das economias africanas de mais rápido crescimento estejam sendo abatidas pelas turbulências nos mercados, há exceções importantes: o Quênia, que tem uma economia mais diversificada, e a Costa do Marfim, maior produtor de cacau do mundo, ainda atraem investidores.

Analistas dizem que esses países estão contrariando a tendência porque são importadores de petróleo e suas políticas mais acertadas geram confiança. A bolsa da Costa do Marfim, por exemplo, subiu 7% em 2015. A do Quênia sofreu grandes perdas, mas está no azul neste ano.

“Há uma alocação cada vez mais sofisticada de ativos na classe de mercados de fronteira, o que vai beneficiar o Quênia, a Tanzânia e outros importadores de commodities e petróleo”, diz Aly Khan Satchu, diretor-presidente da Rich Management, firma de investimento sediada em Nairóbi, a capital queniana.

Compartilhar:

Leia também
Últimas Notícias

Inscreva-se na nossa newsletter