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A geopolítica nórdica: OTAN e o relacionamento russo

Bruno Veillard
CEIRI NEWSPAPER

 

A Geopolítica é uma disciplina de constante uso pelas forças militares e políticas na mais alta esfera de decisão, pois permite realçar a percepção analítica por meio da construção de cenários hipotéticos. A linguagem da Geopolítica interliga os aspectos da geografia física, da geografia humana e o uso de estratégias políticas com o objetivo de atingir um fim ofensivo ou defensivo, politicamente falando, em relação a um determinado Estado, um conjunto de Estados, ou uma região.

A Geopolítica Nórdica configura a região do Norte Europeu composta por países de origem Escandinava e Fino-Báltica, e retrata o entendimento de um conjunto de países no tocante a suas próprias seguranças nacionais, ou seja, a percepção atual da aplicação desta ciência em suas políticas nacionais e políticas de defesa.

Nesse sentido, identifica-se como necessário tratar dos atuais acontecimentos que envolvem a Noruega, a Suécia e a Finlândia no âmbito da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), com ênfase nas questões Geopolíticas e no relacionamento dos atores com a Rússia.

A OTAN é um Organismo de caráter militar que nasceu em 1949, com o objetivo de dissuadir possíveis ameaças do Bloco Soviético, todavia a instituição chegou a um impasse no início da década de 1990 com a fragmentação da União Soviética, seu maior rival, o que acarretou na formação de um vácuo de poder global.

No período do Pós-Guerra Fria, os Estados-membros da OTAN tiveram que adaptar o Bloco e reorganizar suas prioridades a partir da concentração de atividades na Europa por meio de políticas de segurança defensivas. O ingresso de países do Leste Europeu e a expansão do organismo para o Oriente deixou a Rússia inquieta e deu origem a grandes protestos.

Atualmente, os russos tiveram envolvimento na Crise Ucraniana por meio de apoio aos segmentos que são de etnia russa e aos rebeldes que não aceitaram se submeter ao desenlace da queda do então Presidente ucraniano, Victor Yanukovich, sobre a qual (a deposição) surgiram suspeitas de ilegalidade e interferência estrangeira, e trabalhou para que a Criméia reivindica-se a integração ao território russo, entretanto, esta ação desagradou diversos Estados na comunidade internacional, que interpretam como tendo ocorrido a violação do Direito Internacional.

A posteriori, a estrutura da OTAN entrou em alerta e alguns países vizinhos de Moscou começaram a especular sobre um possível ataque russo na região, assim como no uso de estratégias de guerra híbrida com a intenção de provocar instabilidade política no espaço Nórdico e Báltico.

Os noruegueses aderiram a OTAN, já em 1949, e tiveram uma política estável durante a Guerra Fria, porém permaneceram dependentes da infraestrutura da instituição militar até os dias correntes. Conforme alega o Tenente-General das Forças Armadas do país, Robert Mood, “Nós somos completamente dependentes da OTAN e dos nossos aliados desde o primeiro dia.

Em 2016 podemos não ter a capacidade de defender-nos em um cenário clássico até chegarem reforços, e vamos ter grandes desafios em um cenário de chantagem”. Isto significa que Oslo não possui condições satisfatórias de apresentar respostas bruscas em caso de defesa e o país estaria praticamente aberto e em grande desvantagem Geoestratégica.

A Ministra da Defesa da Noruega, Ine Eriksen Søreide, declarou: “A capacidade operacional deve ser reforçada. É por isso que o Governo vai apresentar um novo plano de longo prazo para a defesa, antes do Verão”, todavia esta não parece ser uma solução eficaz, pois alguns políticos do país creem que o Parlamento poderá não analisá-la a tempo, e militares queixam-se da falta de pessoal e de peças de reposição.

Os suecos não fazem parte do Bloco, mas colocaram-se na posição de cooperadores a partir da Parceria da OTAN pela Paz, em 1994, por meio de uma política de não alinhamento militar, participação em operações de paz e de treinamento. Entretanto, a política de Estocolmo modificou-se ao longo dos meses em detrimento das ações russas na região, o que contribuiu para a ratificação do Acordo de Anfitrião com a OTAN pelo Riksdag, Parlamento sueco, o qual concede privilégios a instituição.

O Acordo abrange mudanças específicas na legislação sueca, de modo a permitir imunidades tributárias, regulamentação aduaneira, e o transporte de aviões, helicópteros, navios e tropas do organismo militar no território sueco, mediante convite da própria Suécia. É relevante mencionar que o Acordo veta a implantação de armamentos nucleares em solo sueco.

A proposta teve aprovação no Riksdag e a oposição obteve desvantagem de 21 votos contra 291 votos na tentativa de suspender a votação. O representante do Comitê de Defesa da Esquerda, Stig Henkisson, afirmou: “É um dia triste para as alianças, e mais um passo para a adesão à OTAN”, e o Ministro da Defesa, Peter Hultqvist, declarou: “Tenho sido muito claro em dizer não a adesão da Suécia a OTAN, mas ao mesmo tempo ela está preparada para entrar em uma longa série de acordos que nos trazem muito perto da OTAN e mudaria a percepção de como os outros países nos vêem”.

Os finlandeses possuem situação semelhante a da Suécia e não ingressaram na OTAN, mas aderiram ao Programa Parceria para a Paz, em 1994, no qual cooperam no desenvolvimento de capacidades militares e apoio a operações de paz multinacionais, todavia o país encomendou um Relatório, recentemente, à fim de tomar uma decisão sobre a ampliação de sua relação com o Bloco, o qual indicou forte tensão com a Rússia, em caso de conclusão.

No plano político, a Finlândia optou por manter estável sua relação com a OTAN, mas observa-se a possibilidade de agravamento de belicismo regional, visto que a Suécia aprovou o Acordo de Anfitrião, o que, geopoliticamente, não é benéfico a Helsínque, pois esta ação abre margem para pressão intensa de Moscou e configura uma dificuldade logística para a OTAN, na hipótese de ter que prestar assistência a seus membros do Báltico.

Entretanto o relatório feito por especialistas advertiu que a Rússia “poderia se dar ao luxo de ignorar” o ingresso finlandês na estrutura da OTAN, ou seja, isto significa que o país poderia sofrer campanhas de guerra híbrida e distanciamento diplomático, quer esteja dentro da Instituição, quer fora da mesma, mas chegariam ao tempo limite conforme observou-se na inclusão norueguesa.

Os russos possuem sua própria visão de mundo ao contemplarem o avanço da OTAN no Leste Europeu. Compreendem a ação como uma ameaça a sua segurança nacional e veem a retórica de ameaça e de invasão nos países Nórdicos como vazia. De acordo com a linha de pensamento de Moscou, pode-se afirmar que a expansão do Organismo Militar e a hostilidade Nórdica contra os russos são um pretexto para transformar a Rússia em inimigo internacional.

No tocante à Noruega, o especialista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Theodore Postol, fez um alerta na instalação de um novo radar militar dos Estados Unidos na cidade de Vardo, cuja localização é próxima da fronteira russa. Postol advertiu: “Do ponto de vista da Rússia, a perspectiva de ter um novo radar na Noruega como parte do sistema de defesa antimísseis é mais um exemplo das más intenções dos Estados Unidos em relação a Rússia”, pois esta atitude poderia acarretar em desconforto diplomático para os atores, sobretudo, para Oslo que poderia ter feito uma análise mais sensata sobre o local de construção.

Em relação à Suécia, os russos declararam que o distanciamento entre Estocolmo e Moscou é resultante das próprias ações suecas, à medida que iniciaram sanções contra a Rússia no âmbito da UE. Consoante afirmou o chanceler russo, Sergei Lavrov, “Sempre vimos na Suécia um bom vizinho e um parceiro promissor em vários campos. Lembro-me que de 2009 a 2011 tivemos um aumento de contatos, cooperação, diálogo político, troca de visitas de ministros, a visita do Presidente russo Dmitry Medvedev, em 2009. De alguma forma sentiram-se ofendidos por nossa resposta ao golpe armado do Estado de Kiev, quando chegaram ao poder nacionalistas radicais, que começaram a destruir os russos na Ucrânia”.

No quesito segurança, os russos afirmam não possuírem desejo de conflito com a Suécia ou com os países membros da OTAN, e reafirmam, conforme declaração do chanceler Lavrov: “Em geral, se falarmos da atividade militar na Europa, especialmente no contexto das relações OTAN-Rússia e o status de neutralidade da Suécia, não estamos interessados em fomentar confronto militar”. Algumas vezes mencionou-se a incursão de submarinos russos em proximidade de águas territoriais da Suécia o que teria proposto agitação, porém Moscou nega a informação ao declarar falta de comprovações das autoridades de Estocolmo e qualifica estes episódios como errôneos.

No tangente à Finlândia, os russos advogam argumentos a partir da publicação do próprio relatório finlandês sobre a questão da segurança regional: “A reação política e econômica (de Moscou) pode ser muito forte, mesmo dura, especialmente no período de transição. Embora o uso da força é altamente improvável”.

Na análise da Geopolítica e Geoestratégia Nórdicas existem basicamente dois atores principais: a OTAN e a Rússia, e o objetivo de ambos é exercer o poder na esfera regional sob o pretexto de uma política de segurança e defesa com a intenção de tornarem-se potências dominantes o Bloco Europeu, ou a Rússia.

A OTAN constitui-se de um agrupamento de potências de diferentes níveis de poder que escolheram viver debaixo de sua proteção, ou seja, optaram pela associação a uma potência dominante na esfera internacional. A Rússia prefere atuar sozinha e entende que a transferência de forças pode criar uma dependência diante de um sistema internacional que preza pela anarquia.

O especialista em política internacional, Martin Wight, em seu livro: A Política do Poder nos relata: “Uma potência dominante, contudo, tem de ser definida em termos de propósitos, assim como em termos de poder. Cada potência dominante está engajada num processo direto de engrandecimento, mas, em geral, também apela para alguma forma de unidade ou solidariedade internacional”. (Capítulo II. P.18).

Em suma, observa-se um jogo de potências dominantes na conjuntura Nórdica que somente poderá ter conclusão pacífica por meio do diálogo e do cumprimento de ações, isto é, com o afastamento da estrutura bélica da OTAN das fronteiras russas, e de negociações transparentes no tocante ao caso de intervenção russa na Ucrânia, a fim de configurar ou reconfigurar um sistema de poder no qual os países não ingressem na autodestruição.

Leia também:

– A geopolítica nórdica: relação entre Suécia e Rússia [Link]

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