O embarque de mais de 600 toneladas de abacate despachados de um porto colombiano com destino a terras asiáticas será, ainda neste ano, o ponto de partida da nova aliança entre Colômbia e China. Esse é um dos primeiros entre os vários acordos bilaterais firmados pelos governos dos dois países que começam a sair do papel depois da visita do presidente Iván Duque a Pequim, no início de agosto.
Duque se reuniu com o presidente chinês, Xi Jinping, e com o premiê do país, Li Keqiang (na foto acima). Os encontros resultaram em acordos que vão desde projetos de energia, construção de rodovias, bolsas de estudo para colombianos, importação e exportação de frutas e verduras, além da possibilidade de repatriar cidadãos colombianos detidos na China por delitos como tráfico de "substâncias controladas". "É um passo histórico", definiu Duque, ao fazer um balanço de sua visita à China.
Essa não é a primeira vez que China e Colômbia firmam acordos e o país sul-americano não é o único parceiro do gigante asiático na região. Mas, segundo especialistas, o tamanho e o potencial dos novos acordos representam "uma nova era" da relação entre os dois países.
Diferentes analistas destacam que se trata de um movimento audacioso de Pequim. Isso porque a Colômbia, historicamente, mantém uma relação muito próxima com os Estados Unidos e, desde o ano passado, os governos americano e chinês travam uma dura guerra comercial.
China na Colômbia
Entre 2002 e 2019, a China investiu um total de US$ 240 milhões na Colômbia. A nova aliança envolve cifras muito maiores. Segundo o governo colombiano, apenas os projetos de energia já confirmados giram em torno de US$ 1 bilhão.
Pequim também confirmou que vai financiar US$ 400 milhões uma estrada considerada estratégica por unir Medelin às regiões agrícolas de Antioquia, que fica no noroeste da Colômbia.
E não é apenas abacate que a China vai importar. A partir de 2020, serão enviadas pelo menos 4 milhões de caixas de banana colombiana, além de outros produtos que ainda estão em negociação.
Iván Duque chama o momento de "relançamento" da relação bilateral com a China, que este ano completa 40 anos.
Para David Castrillón, especialista em relações entre Colômbia e China, esta "nova era" está concentrada na parte comercial e ainda não foi estendida a outras esferas, como, por exemplo, o intercâmbio cultural.
"Um aprofundamento econômico foi acertado entre os dois países, embora tenha um alcance limitado. Isso não significa que não seja importante, porque o fato de Iván Duque ter ido à China em seu primeiro ano de mandato (concluído em 7 de agosto) mostra que a China é uma de suas prioridades ", explica o especialista à BBC News Mundo.
Castrillón, que estuda a geopolítica do leste asiático, assinala que "além dos acordos, teremos de aguardar os próximos passos".
"Ainda está tudo muito no ar, mas é um relacionamento com muito potencial e que pode crescer em áreas como turismo e intercâmbio cultural", afirma o pesquisador.
O melhor amigo
Mais de uma vez, os EUA já chamaram a Colômbia de "melhor amigo" na América Latina.
Pesquisadores observam que, desde o início do século passado, a diplomacia colombiana optou por ser próxima à política americana.
É por isso que este "relançamento" das relações com a China, com investimentos multimilionários e anúncios exultantes por parte do governo colombiano, chamou a atenção de muita gente.
"Esse governo, como os anteriores, demonstrou sua relação preferencial com os EUA, ainda que muitos vizinhos estejam próximos da China há muito tempo. Acredito que a política externa com Washington muda com esses novos acordos e que a base do relacionamento com a China é eminentemente comercial", diz David Castrillón.
Castrillón diz ainda que, por enquanto, tanto Pequim quanto Bogotá sabem quais são os limites dos acordos.
"Acredito que os chineses não esperam que o relacionamento alcance outras dimensões. Eles enxergam os colombianos como sócios comerciais e vice-versa. Não acredito que, no momento, estejam cogitando fazer algo novo", indicou o analista.
Não é apenas o governo de Duque que comemorou os acordos com Pequim. O Unibán, um consórcio privado que reúne produtores de bananas na Colômbia, celebrou o novo mercado que acaba de abrir para o produto.
Quatro milhões de caixas de bananas que a Colômbia vai começar a mandar para a China tornarão o país o segundo maior provedor do gigante asiático, atrás apenas do Equador.
"A China é o primeiro consumidor e produtor de bananas. Além disso, há um consumo maior de bananas de qualidade e esta é a fruta que eles estão importando", afirma o presidente da Unibán, Juan Luis Cardona.
Ele diz ainda que existe "muito potencial para continuar aumentando as exportações à China" e expandir o mercado para vários produtos agrícolas colombianos.
Outro acordo firmado é o tratado de repatriação de prisioneiros do país sul-americano que estão em território chinês.
Em 22 de agosto, a comunidade de parentes dos colombianos detidos na China agradeceu a possibilidade de que seja negociado o retorno dos prisioneiros ao seu país, embora o tratado deva primeiro ser aprovado pelo Congresso em Bogotá.