Já desde 1933, a liderança nazista se preparava para a guerra contra a então União Soviética, mas a investida, denominada Operação Barbarossa, ocorreria oito anos mais tarde. Em 22 de junho de 1941, um exército de 3 milhões de soldados marchava rumo ao leste da Europa, dando início a uma das guerras mais brutais já vistas na era moderna, uma campanha militar justificada por uma propaganda enganosa.
O pacto de não agressão entre alemães e soviéticos, fechado quase dois anos antes, ainda valia. Mesmo assim, neste 22 de junho de 1941 foram postos em marcha três milhões de soldados alemães com tudo o que a indústria de armamento nazista possuía: tanques, aviões, armas.
Operação Barbarossa
Hitler, em Julho de 1940, regressa de França em triunfo, encontrava-se no auge do seu poder. A rapidez e convicção das suas vitórias tinham espantado até os seus generais. As dúvidas tinham tido resposta, a oposição deles seria reduzida. Foi então que Hitler lhes revelou que os russos poderiam ser os seguintes.
O alemão comum, tal como os russos e a população em geral, foram apanhados de surpresa pelo pacto de Hitler com Stalin em Agosto de 1939. A ele e aos outros, parecia a mudança mais plausível entre os maiores rivais do mundo. O pacto nazi-soviético foi útil a Hitler e para Stalin. Hitler não enfrentou obstáculos, ao invadir a Polônia e a França.
Pelo seu lado, Stalin, ganhou espaço de manobra, enquanto o seu Exército recupera das sangrentas purgas dos anos 30. Ele também tinha apostado numa luta prolongada, entre a Alemanha e os Aliados. Mas as vitórias alemãs, no Ocidente, tinham sido mais rápidas do que ele esperava.
Hitler queria atacar a Rússia logo no Outono de 1940 e deixou-se convencer, só por essa vez, que seria impossível partir para a guerra, numa altura daquelas, devido ao clima na Rússia e também por ser urgente Alto Comando Alemão e necessário, refazer o Exército alemão, assim como, a Força Aérea, antes de iniciarem esta nova campanha. Em Agosto de 1939, quando Hitler assinou o pacto com a Rússia, à tarde havia um filme, que mostrava as tropas russas em parada em frente ao Kremlin.
Ele ficou bastante impressionado e aliviado, porque com o pacto, aquele exército estava neutralizado. Mas, mais tarde, quando as tropas alemãs se juntaram às russas, na ocupação da Polônia, os oficiais comunicaram a Hitler que o armamento daquelas unidades russas era muito precário. Ele, primeiro, não acreditou muito, mas quando os russos atacaram os finlandeses e não tiveram êxito ficou convencido de que era realmente verdade. E já não considerava o exército russo tão forte quanto julgava.
As dúvidas quanto à força do Exército Vermelho aumentavam dentro da própria Rússia. As purgas dos anos 30 tinham dizimado o poder de liderança. 90 por cento dos seus generais, 80 por cento dos seus coronéis e mais de metade dos seus comandantes tinham sido mortos, pelas idéias impulsivas de Stalin. Todos os comandantes de cada distrito militar foram eliminados. Todos os comandantes das divisões do exército foram eliminados. Os comandantes de regimento, e aqui houve exceções, também foram eliminados.
Isto é mais do que fragilidade política. O exército estava decapitado, por assim dizer. Após o fraco desempenho contra os finlandeses, foram tomadas medidas para a sua reforma. Quando Moscou sabe da vitória da Wehrmacht sobre os franceses, essas reformas foram aceleradas. Ainda estavam incompletas no Verão de 1940.
Mesmo assim, Stalin aproveitou a oportunidade, enquanto Hitler se empenhava na batalha de Inglaterra, para se apoderar, primeiro, dos Estados Bálticos da Estónia, Letônia e Lituânia e de seguida, ainda nesse mês, das regiões da Romênia, conhecidas como Bessarabia e Bukovina do Norte, um movimento que aos olhos de Hitler, deixou as tropas russas demasiado perto dos poços de petróleo romenos de Ploesti. O único local de abastecimento de petróleo aos alemães, vital para os seus tanques, aviões e navios.
Mas com a maior parte das suas tropas ainda no Ocidente, Hitler não interveio. Em vez disso, exerceu pressão diplomática sobre os Bálcãs tentando ganhar o seu apoio. Primeiro, o Rei Boris da Bulgária foi convidado a visitar Hitler, nesse Outono, no Berchtesgarden, seguindo-se o príncipe Paulo, da Iugoslávia e o jovem Rei Michael, da Romênia.
Michael estava já sob influência do seu primeiro-ministro, o pró-alemão, Antonescu. Quando as notícias revelaram que a Romênia e a Hungria, se tinham unido ao Eixo, os russos reagiram bruscamente. Acusaram Berlim de violar o Pacto de agosto de 1939.
A debilitada amizade soviético-alemã começava a ruir. Nesse mesmo mês, Hitler foi mais longe, fortalecendo o Eixo. Assinou uma nova aliança militar com a Itália e o Japão. O Pacto Tripartido. Visava alegadamente, os Estados Unidos e a Inglaterra. Os russos não pensavam assim. Protestaram violentamente. Hitler convidou o conselheiro mais próximo de Stalin, Molotov, para se deslocar a Berlim em novembro de 1940, para ajudar, no seu entender, a clarificar a situação. Foi uma visita desastrosa para as relações soviético-alemãs.
Quando Molotov visitou Berlim, é óbvio que estava receoso de ser envenenado por bactérias e pediu que todos os seus pratos e copos fossem fervidos, antes de serem usados. Ele era áspero nos seus comentários e não poupava Hitler. Bastante intransigente, de sorriso difícil. Olhando para Hitler de forma ostil e dizendo: "O nosso acordo do ano passado continua válido?" E Hitler pensando que seria uma má tradução respondeu: "Claro, porque não"? E Molotov disse: "Sim. Pergunto isto por causa dos finlandeses. Estás com relações muito amigáveis com os finlandeses.
Convida pessoas da Finlândia e envia para lá missões e os finlandeses são gente muito perigosa. Enfraquecem a nossa segurança e temos de agir quanto a isso. E vamos agir quanto a isso".
Após o que Hitler explodiu e declarou: "Eu compreendo-o muito bem. Quer fazer guerra contra a Finlândia e isso está fora de questão. Ouviu bem? Impossível. Porque os meus abastecimentos de ferro, níquel e outras matérias-primas, serão cortados". Foi muito violento, um campeonato de pesos-pesados em discussão política.
Ainda com Molotov em Berlim, Hitler ordenou aos seus generais que planejassem o ataque à Rússia para 15 de Maio de 1941. Eles apresentaram um esquema detalhado que ele designou por: "Operação Barbarossa", como o Imperador Prussiano de barba ruiva, que há séculos, tomara parte numa cruzada. Os generais de Hitler acreditavam que atacando a Rússia com a Inglaterra ainda a resistir, seria como que combater em duas frentes, algo que em "Mein Kampf" seria o maior dos erros militares.
Mas Hitler defendeu, e com alguma razão, nesse Inverno de 1940, que a Inglaterra, ainda que não estando derrotada, não era uma ameaça. Portanto uma campanha para Leste seria uma única frente, desde que se desenrolasse rapidamente. Anos antes Hitler tinha escrito: "Os exércitos não existem para a paz. Existem somente para o empenho triunfante em tempo de guerra".
O moral da Wehrmacht estava no seu auge. Para onde marchar a seguir? Não podia avançar sobre a Inglaterra por terra e um combate anfíbio não era do agrado de Hitler. Parecia que só um magnetismo poderia impeli-lo, contra o seu último antagonista na Europa. Impeli-lo da mesma forma que os Exércitos de Napoleão o foram, ao serem deixados, impacientes, ao longo do Canal.
Leste, sempre para Leste, para a infindável Rússia. O Exército Vermelho em 1941 era o maior do mundo. Em número de tanques excedia, em aviões igualava o conjunto dos restantes exércitos do mundo inteiro. Apesar das suas falhas, o Exército Vermelho estava mais bem equipado, do que adversários anteriores da Wehrmacht.
E a sua reorganização desde o fiasco da Guerra Finlandesa, estava bem encaminhada. Mas e o seu moral? Hitler estava certo de que sabia a resposta. "É só um pontapé na porta e toda aquela estrutura cairá por terra." Os líderes da Rússia ainda pensavam que teriam tempo, para o seu exército se preparar para lutar. Em Março de 1941, as tropas russas já tinham enfrentado as alemãs, ao longo das fronteiras com a Hungria, a Romênia e a Bulgária. Também a Iugoslávia parecia tornar-se um satélite da Alemanha, até que, encorajada pelos Serviços Secretos Britânicos uma ação popular em Belgrado, conseguiu expulsar os nazis.
Por incrível que pareça, Moscou firmou um pacto com os rebeldes. Logo no dia seguinte, Hitler atacou a Iugoslávia. Irritado com a revolta, deu à operação o nome "Retaliação". A Operação Retaliação obrigava a adiar a Operação Barbarossa, por cinco semanas cruciais. Mas agora a Rússia estava alerta enquanto a Wehrmacht invadia a sua nova aliada. Hitler invadiu a Grécia, sem que Moscou protestasse de novo.
Esta inércia teve efeitos sobre Hitler. Tornou-o ainda mais obstinado e as suas tropas facilmente arrebatavam novas vitórias. Os próprios espiões de Stalin tinham enviado informações, sobre a concentração de tropas ao longo das suas fronteiras, informações essas que Stalin preferiu ignorar.
1 de Maio em Moscou, 1941.
Uma parada militar particularmente impressionante, como que a reafirmar a confiança do povo russo, em face de todos os rumores de uma iminente invasão. A diplomacia russa tentava ainda apaziguar Hitler, esperando com isso adiar qualquer ataque, até que as reformas do Exército Vermelho estivessem completas.
E enquanto os generais conferenciavam, os diplomatas racionavam cereais e outras matérias-primas imprescindíveis à Alemanha, fechando os olhos aos aviões de reconhecimento alemães, sobre o território soviético, até mesmo abrandando a defesa na fronteira, para não ofender Berlim. E enquanto o Comissário dos Negócios Estrangeiros de Stalin aperta a mão ao adido militar de Hitler em Moscou, três milhões de tropas alemãs avançavam para a fronteira.
A maior batalha terrestre da história estava prestes a começar.
22 de junho, 1941.
O choque foi enorme quando aquilo tudo começou. Disseram que o Exército Vermelho nunca lutaria no seu território. Que o primeiro tiro seria dado em território inimigo.
Os alemães após o êxito das outras campanhas, estávam confiantes de que a "Barbarossa" também teria êxito. A primeira fase do avanço foi muito rápida. Fazíam mais de 100 km por dia. Ainda não tínham perdido uma batalha, por isso, estávam habituados a sairem vitoriosos. O plano de Hitler era, com três exércitos numerosos, encontrar e destruir as forças russas, no prazo de 4 meses.
Além do fator surpresa, os alemães tinham a vantagem de uma superioridade esmagadora, em homens e armamento, naqueles pontos escolhidos para o ataque dos seus blindados. Três divisões de infantaria russas foram dizimadas no primeiro dia e mais cinco destruídas.
– Durante a travessia do Rio Bug, fomos atacados por vários aviões russos obsoletos, que eram abatidos de imediato e ficamos muito impressionados com a superioridade da nossa Força Aérea, no início.
Durante os dois primeiros dias, foram destruídos dois mil aviões russos, a maioria no chão. A maior força aérea do mundo tinha sido praticamente erradicada. Sem proteção aérea, as tropas russas na fronteira perderam a força e desapareceram.
Numa semana, a Wehrmacht já ia a meio caminho de Moscou. Num mês, os alemães já tinham tomado o dobro da área do seu próprio país. As cidades russas caíam face ao poder dos carros blindados. Numa delas os elétricos ainda andavam. Os cidadãos gritavam com entusiasmo aos tanques alemães. Na maioria das vezes, eram muito bem recebidos pela população.
Tal como os franceses, no verão anterior, os russos operavam com os tanques em pequenos grupos, em vez das formações maciças dos panzers alemães. Fáceis de enganar pelos anti-tanques alemães, as suas carcaças em chamas espalhavam-se pelo campo de batalha.
Perderam-se 6 mil tanques russos, em apenas dois confrontos, em Minsk e em Smolensk, no mês de Julho. Meio milhão de russos foram mortos nos primeiros quinze dias e perto de um milhão, feitos prisioneiros. Com o passar das semanas, as perdas russas acumulavam-se, confundindo os alemães, que se recusavam a acreditar, que pudessem continuar a perderem-se tantas vidas humanas.
Tal como em França, no ano anterior, Hitler estava mais preocupado em destruir as forças inimigas no terreno, do que tomar cidades, ou conquistar território. Os seus generais nem sempre viam as coisas desse modo. Tentados, talvez, por galões dourados, rivalizavam entre si, o serem o conquistador desta ou daquela cidade, principalmente, Moscou. Capturar a capital russa sem demora, segundo Guderian, seria decisivo.
Hitler preferia destruir primeiro às forças russas no sul, esperando que a batalha fosse decisiva. Moscou não era a sua primeira prioridade.
Em Agosto, ordenou que os seus panzers virassem para sul. Kiev, capital da Ucrânia, foi tomada em meados de Setembro. Num dos mais espetaculares movimentos circundantes, da história militar, os panzers alemães prenderam em Kiev cerca de 750 mil russos. O operador de câmara alemão fez uma excelente filmagem, destas longas colunas de infelizes russos, para os quais a linha da frente de combate, tinha agora terminado.
Em finais de Setembro de 1941, apenas três meses depois da guerra, os russos tinham perdido cerca de três milhões de homens. Mas a resistência russa perante a aparente fatalidade, iria deixar o mundo atônito. Os alemães foram instruídos para olharem o inimigo russo, como um subumano, mas não tardou muito, para que os soldados alemães da linha da frente, o vissem mais como supra-humano do que subumano. Os russos raramente gritam, quando feridos, e parece sempre que há muitos deles no horizonte.
Um coronel da Wehrmacht escreveu: "Ao atacar a Rússia, o exército alemão, é como um elefante a atacar uma invasão de formigas. O elefante irá matar milhares, talvez milhões, mas por fim, elas são tantas, que irão vencê-lo e ele será comido até ao osso".
– A orientação na Rússia é tão difícil, como é no deserto, só que não vemos o horizonte. Sentimo-nos perdidos. A imensidão do espaço é tal, que alguns soldados ficavam melancólicos. Os vales, vales planos, encostas planas, e vales e encostas planas intermináveis. Não havia limite. Não víamos um fim e isso era tão desolador. Víamos os campos enormes, campos de milho, de horizonte a horizonte. Nunca tínhamos visto uma coisa daquelas. Era muito grande. Não se consegue imaginar a vastidão daquele país e avançávamos de um rio ao outro, de uma posição para outra e não havia um fim para aquilo.
"Trocar o espaço por tempo", era a tradicional estratégia russa. O tempo não estava do lado de Hitler, se ele queria alcançar a sua vitória decisiva antes do Inverno. Com a Ucrânia subjugada e Leningrado cercada, Hitler virou a sua atenção para o alvo mais valioso, Moscou. Coisa que os seus generais imploravam, desde o início da campanha.
Moscou, em Outubro de 1941, já era uma cidade da linha da frente. Os alemães estavam apenas a cerca de 300 km, em Agosto, quando Hitler desviou os seus panzers para sul. Havia rumores freqüentes de uma rendição antecipada. A cidade estava há muito sob a disciplina militar. Era raro o dia sem uma visita da Luftwaffe.
A batalha por Moscou começou a sério, no princípio de Outubro. De imediato, as coisas correram mal para os seus defensores. Em dois enormes movimentos em "tenaz", os alemães capturaram mais 700 mil tropas russas. Goebbels chamou correspondentes de guerra a Berlim para anunciar, a queda iminente de Moscou.
– Tínhamos tido um Verão lindo, sem problemas climáticos, ou de qualquer outro tipo. Tanto quanto me lembro, começou a nevar e começou o frio, por volta de 10 de Outubro e soubemos de imediato que não estávamos preparados ou equipados, para o que nos esperava. Quando um comandante perguntou ao seu quartel-general, quando podia esperar roupas de Inverno, disseram-lhe para não fazer mais pedidos desnecessários.
No dia em que caíram as primeiras neves em Moscou, os seus defensores receberam o novo comandante: Zhukov. As informações secretas alemãs não informaram Hitler, apesar de Zhukov ter chefiado a defesa de Leningrado com enorme eficiência, desde meados de setembro. Mas a defesa de Moscou seria um teste maior ao comando de Zhukov.
As primeiras neves em breve derreteram, transformando as estradas em autênticos pântanos. Apenas algumas estradas na Rússia eram pavimentadas. Por conseguinte, em outubro, começava a fase terrível da lama, as estradas ficavam completamente empapadas, tornando-se impróprias para qualquer veículo, exceto tanques. Enquanto infantaria tinha de marchar ao longo da beira das estradas, para deixar passar carros e tanques.
– As rodas da minha artilharia partiram-se. E durante dois ou três dias, tivemos de improvisar uma forma de avançarmos, requisitando alguns cavalos e carroças. Estávamos todos satisfeitos, com o êxito das tropas alemãs na Rússia.
Goebbels fez uma grande campanha por toda a Alemanha, para recolher peles e roupas de Inverno para as tropas alemãs.
– Apercebemo-nos de que algo imprevisto se passava. Não tínhamos agasalhos, nem nada… Apenas as coisas que tínhamos no Verão. E estávamos muito zangados por não termos equipamento melhor. O tempo piorou.
Muitos comandantes alemães hesitaram perante o Inverno. Hitler não pensava assim. Convencido de que a vitória seria sua antes de o Inverno começar, ordenou aos generais que prosseguissem. Em breve, o terreno estava gelado demais para suportar os panzers. O atraso foi bem-vindo, permitindo a Zhukov organizar a defesa de Moscou. Os russos tinham menos de 400 tanques para defender Moscou.
O "espaço" esgotava-se para Zhukov, mas o "tempo" continuava do seu lado, com os ventos frios do Inverno a soprarem de Norte. Mas, a 14 de Outubro, uma formação de panzers consegue avançar e toma Kalinin, situada a menos de 160 km a norte. Uns dias mais tarde, uma outra formação toma Mozhaysk, 90 km a ocidente, enquanto uma divisão de infantaria alcançava Gorki, apenas a 60 km. O pânico invadiu os cidadãos de Moscou.
Aqueles que conseguiram, fugiram, cerca de dois milhões, incluindo departamentos do Governo. O féretro de Lenine foi evacuado, com outros tesouros do Kremlin. Foi um grande choque, quando naqueles dois ou três dias, provavelmente alguns mais adiantados, chegaram algumas tropas motorizadas, a cerca de 40 ou 50 km de Moscou.
– Devo dizer que havia um sobressalto grande em Moscou. Havia pessoas a tentar sair. Julgavam que os alemães estavam a chegar. É fácil imaginar, que entre os dias 16 de Outubro e 20 de Outubro, a população pensasse que Moscou cairia nos dias seguintes e era a isso que se devia o pânico.
As pessoas faziam parar os oficiais dos serviços secretos e insultavam-nos sem medo algum. Numa situação normal, não fariam uma coisa dessas. Esta foi a única ocasião, em que, se provavelmente uma pequena força alemã conseguisse ser largada de pára-quedas sobre a cidade, nós ficaríamos em apuros.
Mas enquanto Hitler traçava o seu ataque final a Moscou, Zhukov também planejava um ataque. Mas com quê? Ele já tinha retirado tantas tropas quantas se atreveu, de outros setores, para defender Moscou. Mas havia uma reserva em que os russos ainda não tinham tocado. Nem nunca pensaram fazê-lo. As 40 divisões da Frente Siberiana, das melhores tropas da Rússia, treinadas para combater em condições de Inverno.
Desde junho que eles esperavam um ataque japonês. Em meados de outubro, o espião de Stalin em Tóquio, informa que o objetivo do Japão estava noutro lugar qualquer. Desta vez, Stalin acreditou nos seus espiões. Deslocou as divisões siberianas para Moscou.
Mesmo neste momento de crise, Moscou arranjou tempo para celebrar o aniversário da Revolução e Stalin apareceu ao seu povo.
– Eu diria que, apesar de todas as suas falhas, Stalin prestou um grande serviço à URSS com essa presença, porque mostrou duas coisas: primeira, o comandante supremo não fugiu; segunda, Stalin manteve a coragem. Esse sentimento de coragem que, de imediato, se espalhou pelas forças armadas em geral. Todos os comandantes diziam: "O próprio Stalin está presente."
O terreno secou. Os panzers já conseguiam rolar de novo. A 26 de Novembro entraram em Istra, situada apenas 50 km a oeste de Moscou. Quatro dias mais tarde tinham tomado Krasnaya Polyana, apenas a 30 km a norte. Zhukov ainda não tinha utilizado os siberianos e os alemães não tinham dado pela presença, perto de Moscou, dessas tropas tão recentes. Os alemães também tinham os seus problemas.
– Uma manhã acabou assim. Estava tudo gelado e os carros estavam presos na lama, congelada. Os tanques não conseguiam rolar e, nesse momento, o meu coração parou. Havia ao longe aquela grande cidade e acho que foi a primeira vez e a última, que vi Moscou. As temperaturas estavam abaixo dos 40º negativos. O óleo solidificava no cárter dos caminhões e tanques.
– O frio intenso afetava também os soldados. Houve mais vítimas devido ao frio e a problemas estomacais, do que propriamente aos combates. Não tínhamos calçado de Inverno, nem qualquer equipamento, para combater ou agüentar o frio e penso que esse foi o grande problema do momento. Perdemos uma parte considerável do nosso material, armas, equipamento pesado e ligeiro, em geral.
Nós, claro, perdemos muita gente, devido a ulcerações provocadas pelo frio e não tínhamos pomadas ou outros meios, por mais simples e primitivos que fossem para combatê-las. Dos 900 homens do meu batalhão, 200 morreram, devido ao frio, nos primeiros 14 dias. À medida que ia ficando mais frio, em finais de novembro, princípios de Dezembro, a maior parte da nossa artilharia ia ficando totalmente inutilizada. Não tínhamos o óleo lubrificante adequado, para esta guerra de Inverno.
Todavia, os russos tinham-no e de repente, os nossos soldados aperceberam-se de que de um momento para o outro, a arma deixava de disparar. A pior recordação foram as viaturas gelarem no terreno e o óleo do motor solidificar. Não conseguíamos sair dali. Precisávamos e queríamos sair dali. Acho que isso foi o pior.
– Na Rússia, não havia tabuletas de sinalização e para encontrarmos o nosso caminho, tínhamos disposto os corpos gelados dos cavalos, ao longo das paredes de neve, para não nos perdermos, durante as nevascas. E a paisagem era tão desoladora. Neve, sempre neve. Estávamos sempre solitários, a sonhar com a altura em que regressaríamos a Berlim. Mas os maiorais de Berlim negavam-se a acreditar no pior. As notícias das atualidades faziam crer que era tudo uma diversão. A realidade era bem diferente.
Nessa altura, tínhamos avançado quase 2000 km.
De início, Hitler, não queria conceber que esta crise fosse o fim de todo o seu plano estratégico, mas o exército estava mais ciente da situação e os russos fizeram à parte mais importante, também a convencer Hitler de que a Campanha Russa desse primeiro ano tinha falhado e tinha chegado ao fim.
6 de Dezembro.
Com o moral da Wehrmacht completamente em baixo, apesar de algumas tropas alemãs estarem só a 25 km do Kremlin, Zhukov soltou os seus siberianos.
– Foi surpreendente, aquele momento. O primeiro momento em que vi os tanques russos, trinta e quatro, a espalharem-se rapidamente pelos campos e pela neve. Os nossos próprios tanques não conseguiam mover-se, não conseguiam disparar, porque estava demasiado frio. Quando quis voltar, encontrei russos por todo o lado e foi a minha primeira sensação de que já não ia haver vitória.
À medida que recuperavam o seu território, os russos descobriam os horrores da guerra. "Camarada, mata um alemão", foi uma expressão muito utilizada. No primeiro mês, após a ofensiva russa, mais de 300 mil alemães foram mortos ou capturados.
– A pior recordação dessa retirada foi o medo que sentimos, noite e dia, de cairmos em cativeiro. E já conhecíamos o inimigo a ponto de sabermos, que naqueles casos, tratavam severamente os prisioneiros. Foi a primeira vez que os nossos soldados se aperceberam que tempos negros se aproximavam. Quando tivemos de bater em retirada de Moscou, a população russa e os soldados russos devem ter pensado: "É possível derrotar o Exército Alemão."
Dois dias após o início da ofensiva russa, os japoneses atacaram Pearl Harbour. A guerra estava a tomar um rumo muito diferente.