"Piero" (a pena) era seu nome no exílio, Janowski foi sua autodenominação na fundação do primeiro Conselho Soviético, em 1905, mas era chamado também de "Jovem Águia". Trata-se de Leon Trotski (1879–1940), como ficou conhecido o revolucionário e teórico russo Lev Davidovitch Bronstein.
Nascido na Ucrânia, de uma família de agricultores judeus, foi um dos melhores alunos de Matemática, Literatura, Alemão e Francês em Odessa. Ainda como estudante, iniciou por acaso sua atividade contra o czarismo.
No verão europeu de 1896, cerca de 30 mil trabalhadores se rebelaram em São Petersburgo. A revolta não fora motivada pela frente de luta pela libertação da classe operária, recém-criada por Lênin e, sim, consequência da fome e da catastrófica situação social. Impressionado com as notícias sobre a greve e munido do idealismo de um jovem de 17 anos, Lev Bronstein fundou a Liga dos Trabalhadores do Sul da Rússia.
Estudantes e alunos escreviam panfletos, conclamações e pequenos textos de formação política para os trabalhadores. O serviço secreto do czar levou dois anos até descobrir as atividades subversivas da liga e prender o propagandista Bronstein em janeiro de 1898.
Difícil relação com Lênin
Deportado para a Sibéria, ele leu, pela primeira vez, no verão de 1902, um escrito de Lênin intitulado O que fazer?. Bronstein sabia o que tinha de fazer: fugir para o exílio. Escondido sob a palha numa carreta de agricultor, chegou a Irkutsk, onde amigos lhe arranjaram um passaporte falso, mudando seu nome para Leon Trotski – nome de um antigo carcereiro.
Seguiu-se o primeiro encontro com Lênin em outubro de 1902, sem que daí resultasse uma amizade entre os dois. Nos anos seguintes, eles oscilavam entre relações de conveniência e inimizades. Trotski era o mais inteligente e visionário dos dois revolucionários. Presidiu o primeiro soviete de Petrogrado até a derrota da primeira revolução contra a monarquia russa em dezembro de 1905.
Novamente deportado, fugiu da Sibéria em 1907 e passou os anos seguintes no exílio, tendo se refugiado também nos Estados Unidos. Voltou à Rússia em 1917, quando participou ativamente da organização da Revolução de Outubro.
Na noite em que completou 38 anos (7 de novembro), tropas de choque ocuparam estações de trem, pontes, o banco estatal e as principais repartições públicas de Petrogrado. Por volta do meio-dia, Trotski proclamou a destituição do governo, em nome do Comitê Revolucionário Militar.
Inimizade com Stálin
Foi uma revolução sem derramamento de sangue. O terror e a crueldade viriam mais tarde. Trotski tornou-se comissário das Relações Exteriores e assinou a paz com a Alemanha em Brest-Litovsk. Com a nomeação de ex-oficiais czaristas para o Exército Vermelho, provocou a fúria do comissário político superior da décima Armada, Josef Stálin, que passou a lutar sistematicamente contra ele, por meio de intrigas e rumores.
Trotski, por sua vez, culpou Stálin pela derrota da Rússia na guerra contra a Polônia em 1920. A partir de 1923, com o adoecimento de Lênin, organizou a oposição a Stálin. Após a morte de Lênin, em 1924, Stálin concentrou o poder em suas mãos e se vingou de Trotski, expulsando-o do Partido Comunista em 1927 e deportando-o para a Turquia em 1929.
No exílio, Trotski passou por vários países. Na França, foi informado do "suicídio" de sua segunda filha. Seus dois genros foram deportados para a Sibéria e seus quatro netos desapareceram.
Em 1937, chegou ao México, onde foi assassinado dia 20 de agosto de 1940 pelo agente stalinista Ramón del Rio Mercader, que havia conquistado a confiança da família com o pseudônimo Frank Jacson.
No Brasil, a fama de Trotski sofre devido ao sectarismo e dogmatismo de alguns grupos que reivindicam o trotskismo. O pensamento do teórico russo é polêmico e abrange as duas revoluções russas, o colapso da 2ª Internacional, a fundação da 3ª Internacional, as ascensões de Stálin na URSS e de Hitler na Alemanha, bem como a Revolução Espanhola.