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O Editor
Venezuelização?
SAMY ADGHIRNI
Correspondente da Folha em Caracas (Venezuela).
Antipetistas alardeiam a ideia de que a reeleição de Dilma Rousseff abre caminho para o Brasil se tornar uma Venezuela. Isso é improvável. Apesar dos arroubos retóricos, Lula e Dilma nunca emularam o chavismo.
Hugo Chávez trabalhou desde sua chegada ao poder, em 1999, para pulverizar tudo o que existia antes dele. A Venezuela mudou de Constituição e de nome, tornando-se república bolivariana. O PT nunca foi revolucionário, embora Lula defenda uma constituinte para reforma política.
O petismo permeia órgãos federais, mas nada se compara ao aparelhamento à venezuelana. Chávez fechou o cerco à oposição até sufocar os que tentaram um golpe de Estado contra ele.
O desajeitado Nicolás Maduro herdou essa bomba relógio institucional. Acuado por protestos neste ano, recorreu a bandos armados irregulares, os "coletivos", para esmagá-los. Saldo: 42 mortos. Bem diferente de junho de 2013.
Lula passou os dois mandatos construindo pontes –com a classe média, com o empresariado e com velhos rivais. Falta a Dilma essa veia conciliadora, mas ela manteve o arcabouço republicano e evita guerrear a oposição.
Dilma, aliás, reflete a institucionalidade brasileira. Apesar de sua força política, Lula resistiu à tentação de atropelar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato consecutivo. Chávez não teve esses pudores. Enquanto o chavismo governa por decreto, o Planalto continua refém do Congresso.
Se a economia brasileira preocupa, a do vizinho está em vias de colapso, com inflação a 63%, reservas minguantes e desabastecimento geral. Mercados temem um default no pagamento dos títulos da dívida venezuelana.
Lula e Dilma não só deram continuidade a políticas econômicas dos governos anteriores como rejeitaram o modelo venezuelano de controle cambial, expropriação e subsídios em larga escala.
No Brasil, acusações de corrupção são investigadas e passíveis de cadeia. Na Venezuela, é impensável ver presos governistas do nível equivalente a José Dirceu e José Genoino.
O quarto mandato petista está sujeito a retrocessos. Menções à regulamentação da mídia não condizem com o que vem sendo demonstrado.
Por ora, o que está mesmo dando ao Brasil ares de Venezuela não são os políticos nem o apertado placar presidencial, mas a banalização do ódio, propalada principalmente pelo eleitorado inconformado.
A sociedade se deixou dominar pela intolerância. Redes sociais transbordam de aberração. A deslegitimação do "outro" já gera violência física. Sinais de um país dilacerado entre metades surdas e irreconciliáveis. O maior risco de Venezuelização vem de nós mesmos.
Notas DefesaNet
Nota 1 – Na coletiva de imprensa, realizada em 06 NOV14, a presidente Dilma Rousseff fez o sequinte comentário referente ao texto acima:
BOLIVARIANISMO
Dilma fez elogios a um texto publicado pela Folha comparando Brasil e Venezuela ("Venezuelização?", do correspondente em Caracas, Samy Adghirni, publicada em 4/11). "Só faltei beijar ele [o autor], porque ele mostra que é uma vergonha tratar os dois países como iguais. É uma excrescência, porque não tem similaridade", afirmou.
"Querido, essa história de bolivarianismo está eivada de camadas de preconceitos contra o meu governo", afirmou Dilma, usando o tratamento que dá quando quer ser assertiva.
"O uso ideológico de certas categorias distorce a compreensão da realidade", afirmou.
"O mais estarrecedor é que cheguei à conclusão de que o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, integrado pelo PIB brasileiro, é bolivariano", brincou, comentando a rejeição pelo Congresso sob alegação de "bolivarianismo" do decreto que instituía uma política nacional para estimular participação popular por meio de conselhos.
Artigo – Regulação da Mídia passa por monopólios, diz Dilma Link
Nota 2 – Opinião DefesaNet
O texto do correspondente da Folha em Caracas, parece mais um dos inúmeros textos discursivos e verborrágicos emitidos pelo Palácio Miraflores.
A argumentação do autor (?) é a mesma empregada pela ideologia Bolivariana para desqualificar e demonizar os protestos e a oposição venezuelana.
O próximo passo desta argumentação será o emprego dos coletivos petistas contra a nascente oposição no Brasil (os Black Blocks no caso Brasileiro), e posteriormente as Forças de Segurança e Militares contra o seu próprio povo.
Ver Reportagem Especial – Um mês de marchas e barricadas na Venezuela Link