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Quebra da Estabilidade Estratégica na América do do Sul

Quando a necessidade de emprego surge não há tempo para improvisações nem oportunidade para arrependimentos tardios.

Pinto Silva Carlos Alberto [1]

  1. BRASIL – UM ATOR EM BUSCA DE UM PAPEL.

O Brasil é um ator regional que na política e na economia já atingiu uma influência global.

A principal preocupação estratégica do Brasil é, inexoravelmente, relacionada à economia. A capacidade interna do país de conseguir realizar as mudanças estruturais necessárias e o crescimento econômico permitirão o aumento de dois dos padrões de Poder, o Econômico e o Militar (esse havendo vontade política).

O Brasil tem buscado desempenhar um papel presente como mediador em questões internacionais, apesar de ter alcançado sucesso limitado. Seu objetivo é fortalecer laços com diversas regiões do mundo e servir como voz para os países em desenvolvimento.

O país busca fortalecer laços com nações da América Latina, África, Ásia e Oriente Médio, além de mediar conflitos, como nas negociações recentes entre Rússia e Ucrânia, e Israel e o Hamas. No entanto, parece que o papel do Brasil como mediador tem sido ignorado pelo mundo ocidental, que tem reagido com medidas diversas, contrárias aos nossos interesses, no tabuleiro da disputa internacional

“Quando encontrar um espadachim, saque da espada: não recite poemas para quem não é poeta” [2].  A espada, além de estar à mão, deve estar afiada e luzida; afiada para lanhar, luzida para cintilar como um raio e ser vista de longe.

As estratégias militares [3] de curto e longo prazo podem ser regionais ou globais e podem requerer aperfeiçoamento da capacidade militar e uma nova estrutura para a força. Os objetivos militares, o conceito estratégico militar, e os recursos militares[4] são importantes ferramentas para chegarmos à estrutura da força no emprego de curto prazo e de longo prazo.

  • CONFLITOS NA ÁREA ESTRATÉGICA DE INTERESSE.

Possíveis conflitos entre os países da América Latina podem estar controlados e adormecidos, mas isso não significa que tenha desaparecido a relação de conflitualidade. A hostilidade não se manifesta apenas pela violência física do emprego do meio militar, ela continua a existir por problemas econômicos, diplomáticos, psicológicos, ideológicos, populistas, pela debilidade dos Estados, e, por rompantes nacionalistas e de valores étnico-culturais.

  • PODER MILITAR.

No Brasil, na atual conjuntura, os objetivos militares e os conceitos estratégicos estão bastante adiante das realidades em recursos militares, o que nos leva a podermos ter que nos defrontar com um desencontro de estratégia e possibilidades operacionais, ou seja, capacidades militares inadequadas para implementar os conceitos estratégicos e para atingir os objetivos previstos pela política para a estratégia militar.

A existência de um Poder Militar capaz de se opor com rapidez e sucesso a uma agressão, ou induzir o inimigo à percepção de custo demasiadamente elevado para o que ele pretende obter, constitui dissuasão eficaz, particularmente quando os Objetivos Políticos envolvidos são limitados, o que nos leva aos seguintes conceitos:

– Estabilidade Estratégica: equilíbrio alcançado entre nações enquanto cada lado evite realizar gastos em armamentos tais que possam causar apreensão no lado oposto e uma consequente e preventiva ação armada.

– Estabilidade de Crise: conhecimento pelas nações que nenhuma delas pode tirar vantagem substancial sobre outra numa ação armada limitada.

  • POSSÍVEL QUEBRA DA ESTABILIDADE ESTRATÉGICA PELA VENEZUELA

   4.1 Envolvimento com o Irã.

A colaboração entre o Irã e a Venezuela levanta questões sobre possíveis atividades hostis na região, considerando especialmente a capacidade ofensiva dos drones[5] em poder da Venezuela.

A presença de barcos com mísseis da classe Zolfaghar [6] da Venezuela próximo ao Golfo de Paria em 25 de fevereiro de 2024 é um fato relevante e que merece atenção.

4.2 Envolvimento com a Rússia.

Há informações que sugerem a presença de tropas russas na Venezuela, e há relatos de que a Rússia possua bases militares no país.

A Venezuela opera 21 aviões Sukhoi Su-30 de fabricação russa e possui três baterias de mísseis antiaéreos de longo alcance S-300VM, considerado um dos melhores sistemas de defesa aeroespacial da região por especialistas europeus.

4.3. Envolvimento com a China.

A atuação da China na Venezuela é um tema complexo que envolve relações diplomáticas, acordos comerciais e investimentos. No entanto, esses investimentos podem aumentar a dívida do país para com a China, tornando-a potencialmente impagável no futuro (Geoeconomia).

  • CONCLUSÃO.

Resta constatar, diante das percepções apresentadas, mesmo que de forma resumida:

– Vivemos uma quebra da “Estabilidade Estratégica” na América do Sul, o que nos leva a uma possível corrida armamentista.

– O apoio militar da Rússia e Irã, e o econômico da China a Venezuela, bem como, as ameaças a vizinhos, estão causando apreensão aos demais países.

– O descompasso do Poder Militar do Brasil com sua Estatura Política e Estratégica, gravame imposto à nação, não pode pagar o “tributo do tempo”.

– A existência de um Poder Militar capaz de se opor com rapidez e sucesso a uma agressão constitui dissuasão eficaz, particularmente quando os objetivos são limitados. Isso nos leva ao comprometimento com o conceito de “Estabilidade de Crise”.

– Quando a necessidade de emprego surge não há tempo para improvisações nem oportunidade para arrependimentos tardios.

– No Brasil real, sem os recursos militares (orçamentos, efetivos, material de emprego militar moderno, logística, e etc.) necessários para que suas Forças Armadas possam cumprir sua missão constitucional, não existe Estratégia Nacional de Defesa.

A estratégia mais eficiente e perversa para destruir um Exército é mandá-lo para uma guerra que não possa vencer, em que a derrota é utilizada para desacreditá-lo e torná-lo desprezado pela Nação.


Matérias publicadas pelo Gen Pinto Silva relacionadas à “Quebra Da Estabilidade Estratégica Na América Do Sul”.

Gen Ex Pinto Silva – Estamos Ignorando a História

Gen Ex Pinto Silva – Manter uma Força Armada, Transformada e Preparada

Gen Pinto Silva – Reação à Crise do ESSEQUIBO

Gen Pinto Silva – Estratégia Indireta na Crise com a Venezuela

Gen Pinto Silva – A Guerra de Nova Geração Chegando a América do Sul


[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército Veterano / ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.

[2] Clássico Budista-Traduzido por Thomas Cleary

[3] Estratégia Militar – Objetivos Militares (Fins) + Conceitos Estratégicos (Caminhos) + Recursos Militares (Meios).

[4] Para a Estratégia Militar: os objetivos militares são fixados pela Política; um conceito estratégico pode ser definido como a linha de ação militar resultante do estudo de situação estratégico, podendo combinar um largo espectro de linhas de ação; e recursos militares referem-se a efetivos, material de emprego militar, recursos orçamentários, logística, e outros, e determinam as possibilidades do cumprimento da missão. Esta ideia é aplicável aos quatro níveis da guerra, político, militar, operacional e tático.

[5] Detém drones com capacidade ofensiva; parceria com o Irã começou por volta de 2006 e deslanchou em 2011.

[6] É uma classe de embarcações de patrulha rápida operadas, no Irã, pela Marinha do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica.

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