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Candidato governista à Presidência da Argentina recebe ajuda financeira do Brasil e apoio de Lula

O ministro da Economia da Argentina e candidato governista à Presidência, Sergio Massa, será recebido nesta segunda-feira (28) em Brasília pelo próprio presidente Lula, que vai anunciar o financiamento às exportações brasileiras à Argentina, com garantia em yuans chineses. O crédito é crucial para a indústria argentina não parar na reta final da campanha eleitoral.

RFI

O ministro da Economia e candidato do Peronismo à Presidência, Sergio Massa, viajou na noite deste domingo a Brasília. Nesta segunda-feira, ele vai procurar capitalizar para a sua campanha eleitoral as ajudas do governo Lula.

O objetivo é que a Argentina se torne membro do Brics e, desta forma, o BNDES financie a construção do gasoduto argentino que levará gás ao Brasil . Outra meta é que o governo ofereça uma linha de crédito às exportações brasileiras à Argentina, cruciais para a economia vizinha não parar, apesar da escassez de dólares no Banco Central argentino.

“Sergio Massa precisa que a economia não colapse nesta reta final porque a sua candidatura depende da sua gestão. O candidato Massa depende do ministro Massa. A ajuda de Lula permite esse objetivo e também na prática, exibir ares de presidente com projeção internacional”, disse à RFI o analista político Sergio Berensztein.

Numa reunião com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, Sergio Massa vai agradecer pela gestão do Brasil para que a Argentina se torne membro do bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics).

O avanço do financiamento ao gasoduto e a nova linha de crédito do Banco do Brasil aos exportadores brasileiros serão tratados com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Os três assuntos serão anunciados pelo presidente Lula ao lado de Sergio Massa após reunião às 17h30 no Palácio do Planalto.

Para a reunião com o presidente Lula, a delegação argentina deveria ser liderada pelo presidente argentino, Alberto Fernández, atualmente um ex-presidente em exercício com poderes transferidos a Sergio Massa, protagonista do governo.

Espelho político brasileiro na Argentina

A foto com Lula é a que Massa procura em plena campanha eleitoral durante a qual, até as eleições de 22 de outubro, o ministro-candidato pretende polarizar com o candidato ultra liberal, Javier Milei, aliado de Bolsonaro.

“Lula pode ser um líder que gere consenso e simpatia no eleitorado governista, mas no restante do eleitorado não tem impacto e até pode ser um tiro pela culatra. Este Lula III, para os olhos do Ocidente, é diferente daquele que muitos esperavam. Tem questionado o papel dos Estados Unidos na guerra na Ucrânia e tem-se aproximado da China”, aponta Berensztein.

Ao contrário de Lula e em sintonia com a campanha de Bolsonaro em 2018, o libertário Milei já avisou que a sua política externa consistirá “num alinhamento total com os Estados Unidos e com Israel”, a ponto, inclusive, de transferir a Embaixada argentina em Tel Aviv a Jerusalém.

Milei também rejeita a entrada da Argentina no Brics porque “não faz acordos com comunistas”, incluindo nessa lista o próprio presidente Lula, motivo pelo qual também pretende romper com o Mercosul.

Massa pretende traçar esse paralelismo, ficando do lado de Lula, numa advertência implícita ao eleitorado argentino sobre como termina esse discurso disruptivo extremista.

“Se rompermos com o Mercosul e com a China, a primeira coisa que devemos saber é que vamos romper com os nossos dois mercados mais importantes”, advertiu Sergio Massa, na quinta-feira (24) diante de 150 empresários, reunidos pelo Conselho das Américas em Buenos Aires.

A candidata da centro-direita, Patricia Bullrich, tem no Brasil o seu principal aliado, mas também rejeita a entrada da Argentina no BRICS por ter o bloco uma maioria de países sob regime autoritário, por ter a invasora Rússia sob comando de Vladimir Putin e, principalmente, pela entrada do Irã, acusado pelo Supremo Tribunal argentina de ser o autor intelectual de dois atentados terroristas em Buenos Aires, em 1992 e 1994.

Crédito brasileiro com garantia em moeda chinesa

O ponto mais urgente da viagem é a possibilidade de o Brasil continuar a exportar à Argentina sem que o Banco Central argentino, com reservas negativas, precise desembolsar dólares. Vários setores da economia argentina começam a parar por falta de componentes importados, necessários para o produto final na Argentina. É o caso da indústria automotiva argentina, dependente das autopeças brasileiras para a terminação de automóveis.

“Sergio Massa quer aliviar o efeito da falta de dólares na atividade econômica argentina porque há muitos setores, sobretudo o automotivo, que têm limitado as suas importações, freando fortemente a economia”, indica Berensztein.

O governo brasileiro vai abrir uma linha de crédito de até 700 milhões de reais através do Programa de Financiamento às Exportações (Proex) aos exportadores brasileiros que venderem à Argentina. O crédito terá como garantia os yuans de uma linha de crédito “swap” entre Argentina e China, disponíveis no Banco Central argentino. O crédito é um financiamento da China para que a Argentina compre os produtos chineses.

Os recursos serão convertidos de yuans a reais através do Banco do Brasil, que manterá a custódia do montante das operações e executará a garantia em caso de inadimplência por parte do importador argentino.

Atualmente, os importadores argentinos mantêm uma dívida superior a US$ 20 bilhões com exportadores estrangeiros sem que o Banco Central argentino libere esse dinheiro por absoluta falta de dólares. Cerca de 210 empresas exportadoras brasileiras têm tido atrasos superiores a 180 dias para receber os pagamentos.

Para o presidente Lula, a criatividade financeira desse crédito está em sintonia com o seu objetivo de substituir o dólar das transações comerciais entre terceiros países, optando por moedas locais. Para a China, é mais um passo para a internacionalização da sua moeda.

“É um procedimento para aliviar ainda mais o uso de reservas num momento no qual temos de cuidá-las”, indicou Sergio Massa, dias atrás quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antecipou a proposta brasileira.

Interesse do Brasil pelo mercado argentino

Na quarta-feira passada (23), numa entrevista coletiva em Johanesburgo, à margem da reunião do Brics, Haddad revelou ter proposto uma linha de crédito à Argentina com garantia em yuans chineses.

Embora a Argentina seja o terceiro maior comprador da produção brasileira, atrás de China e Estados Unidos, o mercado argentino é o principal para as exportações brasileiras industrializadas, aquelas que mais empregos geram no Brasil.

Nos últimos tempos, justamente por não contar com um instrumento como a China, o Brasil perdeu parte do mercado argentino para os produtos chineses. A escassez de dólares no Banco Central argentino tem sido uma barreira para produtos importados na Argentina, com exceção dos chineses, financiados por esse crédito da China à Argentina.

No dia 2 de maio, o presidente Alberto Fernández viajou com Sergio Massa a Brasília com o objetivo de conseguir uma linha de crédito do BNDES, mas, diante da falta de uma garantia, o presidente argentino voltou com as mãos vazias.

No dia 4 de julho, durante a reunião de Cúpula do Mercosul, em Puerto Iguazú, Lula e Massa acertaram ter uma reunião em Brasília, quando fosse habilitado um mecanismo para financiar as exportações brasileiras à Argentina.

Gasoduto argentino ao Brasil

O ministro-candidato argentino também incluiu na agenda da reunião o financiamento do BNDES às exportações de bens e serviços brasileiros de um gasoduto entre a reserva patagônica de Vaca Muerta, a segunda maior jazida de gás de xisto e a quarta de petróleo não-convencional do mundo, até o Sul do Brasil. O gás argentino é suficiente para o Brasil substituir o da Bolívia cujas reservas têm caído anualmente.

O BNDES vai financiar os canos de aço para o gasoduto. Esses canos são produzidos no Brasil pela empresa argentina Techint.

O gasoduto também é uma forma de Sergio Massa capitalizar avanços concretos numa campanha que rema contra a corrente de uma economia em agonia, com uma inflação que em agosto deve superar os 12%, encerrando o ano acima de 150%.

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