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Ações do documento Brasil e Venezuela – a economia explica?

 

Sandra Polônia e Pedro Motta Veiga
  CINDES – Centro de Estudos de
Integração e Desenvolvimento


A defesa, dos interesses das em­presas brasileiras tem sido evocada com frequência para justificar posturas complacentes do governo brasileiro com os descami­nhos da democracia em países da América do Sul, em particular da Ve­nezuela. O crescimento das exporta­ções brasileiras para o país vizinho desde o início do governo Chávez, que passaram de US$ 536 milhões em 1999 para US$ 5,056 bilhões em 2012, e a atuação de grandes grupos brasileiros na Venezuela, beneficia­dos pela "boa vontade” do governo venezuelano, seriam motivos sufi­cientes para estimular a pouco trans­parente manobra que resultou no in­gresso da Venezuela no Mercosul ou o rápido reconhecimento de Nicolás Maduro como presidente eleito, mesmo antes que a controvérsia so­bre a necessidade de recontagem dos votos estivesse superada.

De fato, a participação da Venezuela como destino das exportações do Brasi cresceu de pouco mais de 1%, na década de 1990, para 2,08%, em 2012, ainda que o auge da relevância do país para as ven­das externas brasileiras tenha sido al­cançado em 2008, quando chegou a re­presentar quase 3% do total das exporta­ções. Por outro lado, o Brasil só ganha participação no total das importações venezuelanas na primeira metade da dé­cada passada. De lá para cá, essa partici­pação tem oscilado em torno de 9%, in­dicando que as boas relações entre os governos não têm representado benefí­cios especiais para os exportadores do Brasil em comparação com fornecedo­res de outros países.

Também é verdade que grandes em­presas do setor de construção civil at 1 im em obras públicas na Venezuela. Mas, embora possam ter sido beneficia­das pelo bom relacionamento do gover­no brasileiro com Chávez, a sustenta­ção de seus interesses no país vizinho depende das boas condições das contas públicas venezuelanas, o que não pare­ce estar garantido no médio prazo.

Do mesmo modo, o propalado inte­resse de empresas brasileiras em inves­tir na Venezuela tem-se esvanecido nos últimos anos. De acordo comolndexln- vest Brasil – banco de dados de investi­mentos brasileiros na América do Sul e no México produzido pelo Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Gindes) -, entre 2007 e 2012 foram realizadas quatro operações de investimentos diretos por empresas brasileiras na Venezuela (duas em 2007, uma em 2008 e uma em 2010). Nesses seis anos, a Colômbia recebeu 20 operações de investimentos brasilei­ros; o Chile, 19; e o Peru, 8. De outro lado, Bolívia e Equador não receberam nenhum investimento brasileiro nesse período.

Recentemente, mais do que a redu­ção dos investimentos, empresas brasi­leiras têm anunciado o cancelamento de investimentos divulgados ou, mais grave, a decisão de encerrar suas ativida­des em países da região. Não por acaso, os anúncios de retirada são, na maioria dos casos, em países onde a instabilida­de econômica é aliad a nstabilidade política para gerar um clima de insegu­rança jurídica e reduzidas perspectivas de crescimento econômico. Assim, o ex­pressivo investimento anunciado pela Braskem na Venezuela não se concreti­zou. A Ambev decidiu encerrar sua pro­dução no país em razão da queda pro­longada das vendas de seus produtos, além de um persistente aumento de o propalado interesse de empresas brasileiras em investir no país vizinho tem nse esvanecido nos últimos anos seus custos operacionais. ANaturatam­bém anunciou o encerramento de suas atividades na Venezuela. Movimento semelhante vem sendo observado por empresas brasileiras com investimen­tos na Argentina.

Não há dúvida de que a vizinhança é um espaço relevante para as empresas industriais brasileiras, tanto em suas re­lações de comércio como de investi­mentos diretos. Os crescentes investi­mentos brasileiros em países como Colômbia, Peru e Chile confirmam essa constatação.

No entanto, a qualidade do entor­no econômico e político importa. Sustentar os interesses econômicos em alianças com governantes que de­monstram baixo compromisso com a democracia, transparência e segu­rança jurídica e buscam promover o crescimento recorrendo a medidas discricionárias, que protegem alia­dos e discriminam os supostos desa­fetos, não parece ser a melhor estra­tégia para promover o interesse das empresas brasileiras. A experiência dessas empresas na América do Sul mostra que a melhor defesa dos seus interesses é a promoção de um am­biente de normalidade democrática e de políticas econômicas que privile­giem a transparência e a estabilidade de regras

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