A influência da Rússia em África aumentou bastante nos últimos anos, sobretudo na área militar, mas também económica. Para muitos países africanos a crescente influência russa comporta alguns riscos, dizem observadores.
(DW) Nos últimos anos muitos mercenários russos foram contratados por governantes de países africanos. A tarefa dos paramilitares russos é garantir o acesso dos governantes africanos a recursos naturais valiosos, como ouro, urânio ou madeiras tropicais.
Paralelamente, surgiu um aparato de influência que insere posições pró-russas no discurso público. Muitos países pretendem emancipar-se cada vez mais da influência das ex-potências coloniais ocidentais e a Rússia de Vladimir Putin está pronta a oferecer-se como novo parceiro.
No entanto, a história de sucesso da Rússia em África começa a mostrar fissuras: Vejamos o exemplo do Mali, onde os mercenários russos tiveram grandes perdas em julho de 2024, quando os rebeldes tuaregues os atraíram para uma emboscada, perto da cidade de Tinzaouatène, no norte do país.
Devido a esta e outras operações mal sucedidas a imagem de força dos mercenários russos ficou manchada. Além disso surgiram repetidos relatos de violações dos direitos humanos cometidos por mercenários russos, o que manchou adicionalmente a imagem dos russos e da Rússia junto das populações locais.
Como conter influência dos mercenários russos?
Um estudo recente da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional (GI) oferece uma visão das atividades dos grupos de mercenários russos em África e recomenda aos governos africanos e à comunidade internacional como podem reduzir o seu envolvimento.
Resumindo, são estas as recomendações desse mesmo estudo da GI: Integração em vez de isolamento dos Estados onde os mercenários russos estão presente; pressão diplomática sobre os parceiros logísticos da Rússia; sanções coordenadas contra os mercenários russos, assim como medidas abrangentes contra a desinformação russa nos países em questão.
O envolvimento dos mercenários russos em atrocidades e a sua proximidade com negócios ilegais subvertem a segurança em África, afirma a analista da GI, Julia Stanyard.
“Há alguns anos, foi documentado que, no Sudão, eles usaram o acesso a aeroportos para contrabandear grandes quantidades de ouro para fora do país. Atividades semelhantes foram observadas na República Centro-Africana, e também no Mali. De um modo geral pode dizer-se que, nos países onde atuam, os mercenários russos estão envolvidos no contrabando de recursos minerais.”
Aliança do Sahel: Sanções ou cooperação?
A situação é especialmente complicada na África Ocidental: países do Sahel, como o Mali, o Burkina Faso e o Níger, abandonararm a aliança económica CEDEAO. após golpes militares, e criaram a sua própria Aliança do Sahel (AES). Julia Stanyard recomenda que estes países não deveriam ser isolados, pelo menos na área da segurança. Seria necessário, pelo contrário, reconstruir pontes:
“Recomendamos no nosso relatório que alguns canais de comunicação devem ser mantidos, especialmente na área da segurança.” Beverly Ochieng partilha esta opinião. Ela trabalha no Programa de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) e aborda questões de segurança, particularmente na África Ocidental e Central.
“A CEDEAO precisa de encontrar maneiras de colaborar com a AES. Essa seria, a longo prazo, a forma mais estratégica de manter os rebeldes sob controlo em toda a região”, afirmou numa entrevista à DW.
Ochieng acredita que também na AES pode amadurecer a ideia de que, dada a situação de segurança fragilizada, os mercenários russos não são a única solução.
Problemas de logística
Os serviços de segurança russos em África sofreram grandes alterações nos últimos anos. Inicialmente, o exército privado Wagner, sob a direção de Yevgeny Prigozhin, enviou combatentes para a República Centro-Africana, por exemplo.
Desde a morte de Prigozhin, em 2023, num misterioso acidente de avião, de acordo com as autoridades russas, o Ministério da Defesa russo tomou conta de grande parte do Grupo Wagner e incorporou-o na sua própria estrutura de comando, sob o nome de Corpo Africano.
Os especialistas observam atualmente as próximas reorganizações, uma vez que as bases do exército na Síria, importantes para as operações russas em África, já não podem ser utilizadas desde a mudança de regime no país. A analista Julia Stanyard considera, por isso, que esta seria uma boa altura para aumentar diplomaticamente a pressão sobre os parceiros logísticos da Rússia.
Beverly Ochieng, por outro lado, acredita que a Rússia, com as suas numerosas representações e ligações em África, encontrará sempre formas de agir. “Em janeiro, enviaram uma grande remessa de veículos e equipamento militar para o Mali através da Guiné. Isto mostra o acesso aberto que os paramilitares russos têm, seja através dos portos, do ar ou da estrada, sem que as instituições ou os governos africanos intervenham”, diz.
No entanto são notórias as dificuldades da Rússia em recrutar mercenários adicionais. O cenário está a mudar. Em África, velhos e novos players estão a tentar ganhar influência militar e econômica. O desfecho da corrida é imprevisível, concluem os especialistas.