Maior grupo aeroespacial europeu teve lucro de 1,2 bilhão de euros em 2012, apesar do fracasso da fusão com a BAE Systems, das dificuldades em sua divisão bélica e dos problemas da Airbus.
A entrada dos diretores da Aeronautic Defence and Space Company (EADS) no palco de um salão de um hotel cinco estrelas de Berlim, sob holofotes e com música de fundo, lembra o momento triunfal em que o toureiro pisa na arena. Mas os executivos estão ali apenas para apresentar o balanço financeiro do grupo. Este é, porém, impressionante.
O diretor-executivo Thomas Enders afirma que 2012 foi um ano bom, com forte crescimento do faturamento. A EADS, segundo ele, está a caminho da meta de alcançar uma margem de lucro de 10% em 2015.
Sucesso, apesar das adversidades
Em valores, o faturamento aumentou 15% em 2012, indo de 49 bilhões para cerca de 57 bilhões de euros. O lucro foi de quase 1,2 bilhão de euros, 19% maior que no ano anterior. É um resultado de respeito, considerando as dificuldades que a EADS teve que enfrentar. Uma delas foi a planejada fusão com o fabricante europeu de material bélico BAE Systems, que faria nascer a maior empresa de defesa do mundo, mas foi vetada em outubro pelo governo alemão.
Sem um parceiro forte, a divisão bélica da EADS, a Cassidian, enfrenta problemas: o resultado foi reduzido pela metade, um programa de saneamento está em curso, 850 postos de trabalho serão cortados. "Estamos eliminando riscos", justifica Enders.
A liderança da companhia tem que esclarecer se manterá todas as atividades da Cassidian, cuja ampla gama de produtos vai desde aviões de combate a radares para os campos de batalha. "Considerando a crise financeira global, devemos nos perguntar: qual a necessidade real dos militares? Estamos atendendo às necessidades deles? Onde estamos ganhando dinheiro?" Essas questões não valem apenas para a Cassidian, mas também para todas as outras áreas da EADS.
Airbus traz os melhores rendimentos
A carteira de pedidos da EADS está cheia. As encomendas recebidas somam cerca de 567 bilhões de euros. Só no ano passado entraram novas encomendas de valor superior a 100 bilhões de euros.
A EADS lucrou sobretudo com a Airbus. As turbulências por causa de rachaduras nas asas do A380 fizeram, no entanto, que muitos clientes potenciais preferissem esperar. Assim, o número de novos pedidos caiu das cerca de 1.600 encomendas em 2011 para pouco mais de 900 no ano passado. "Sem dúvida, gostaríamos de ter vendido mais desses grandes pássaros", reconhece Enders, garantindo que os problemas com as asas foram resolvidos.
Agora, a grande expectativa é do início da produção do novo jato de longo curso A350. "Aprendemos muito com nossos erros e os erros dos nossos concorrentes", sublinha Enders, aludindo provavelmente também às baterias defeituosas do Dreamliner, da rival Boeing.
O executivo diz que um grande projeto como o A350, com novas tecnologias, novos materiais e novos parceiros, é, entretanto, sempre sujeito a riscos. Segundo ele, o plano de entregar as primeiras aeronaves no segundo semestre de 2014 é arriscado, e quando mais perto se chegar da certificação e da entrega, maiores serão os custos se algo der errado. A previsão é que a primeira unidade possa decolar no meio deste ano.
Mais lucro também para acionistas
A EADS quer evitar os problemas ocorridos com o avião de transporte militar A400M. Depois de anos de atrasos e bilhões em custos adicionais, as primeiras quatro aeronaves finalmente devem ser entregues à França e à Turquia. No entanto, os aviões não são ainda plenamente operacionais do ponto de vista militar, e o caminho até lá é "desafiador".
São previstas também mudanças no círculo de proprietários da EADS. O velho pacto de acionistas do grupo franco-alemão, dominado por muito tempo pelos governos de Paris e Berlim, deve ser cancelado. Os Estados acionistas – Alemanha, França e Espanha – não terão mais poder de veto e terão seu direito de voto restringido. Estratégia corporativa e projetos da empresa deverão ser decididos futuramente apenas pela gestão e pelo conselho administrativo da companhia.
"A ideia é que a EADS possa ser administrada como qualquer outra empresa", comenta Enders. Em outras palavras, isso significa que a permanente interferência dos governos nos negócios da empresa provavelmente vai se tornar coisa do passado. Com isso, Enders poderá chegar mais perto da sua meta de elevar a rentabilidade da EADS.
Autora: Sabine Kinkartz (md)
Revisão: Alexandre Schossler